Pequeno, mas notável, o museu ao pé do morro São Bento, prestes a completar 30 anos de inauguração, fica ofuscado pela urbanização da região do entorno e pela avenida de trânsito intenso bem em frente. O espaço também não faz parte dos roteiros turísticos e tem poucas visitações em relação a outros pontos culturais da cidade. Mas, o antigo mosteiro que abriga o Museu reserva riquíssimo patrimônio histórico, arqueológico, artístico e cultural, com exposição permanente de arte sacra dos séculos XVI ao XVIII.
Texto e fotos: Vinícius Maurício
O local recebe cerca de 500 visitantes por mês, segundo Fabiana Mendes, responsável pelo setor histórico do museu. Número bem aquém dos registrados por outros equipamentos culturais de Santos, tais como o Museu do Café e o Aquário Municipal, um dos lugares mais visitados no estado de São Paulo, com 500 mil visitantes por ano.
Para aumentar a frequência, Marcela Rezek, uma das responsáveis pela administração do MASS, diz que haverá uma exposição, com início próximo ao final deste ano, quando o museu completa três décadas de existência, e que permanecerá durante 2012.
Outro bom incentivo à visitação deverá ocorrer com a inclusão do museu no roteiro dos passeios de bondinho e de ônibus turístico, o que deve ocorrer em breve, de acordo com Fabiana. Ela diz que a maior parte dos visitantes do museu, curiosamente, é de turistas vindos, principalmente, de São Paulo, e pessoas da própria comunidade do morro São Bento, onde são desenvolvidas atividades educativas e de conscientização, como o projeto Cinema no Museu, uma vez por mês, e o teatro de fantoches Seu Bartô, que encena a história da transição do mosteiro para museu, para o público infantil.
A peça explica que o atual museu era, na verdade, um mosteiro de monges beneditinos alemães, vindos de São Paulo. De acordo com Fabiana, a área onde ele se encontra foi doada, em 1650, aos religiosos pela família de Bartolomeu Fernandes Mourão, ferreiro da armada de Martim Afonso, fundador da Vila de São Vicente.
Ana Paula dos Santos Franco, também responsável pelo setor de história do MASS, explica que, quando os monges chegaram ao morro, só havia uma ermida (capela pequena), que foi ampliada, tornando-se, posteriormente, capela de Nossa Senhora do Desterro. Só depois foi construído o mosteiro, ao lado.
O claustro tem, no seu entorno, o antigo refeitório, onde, atualmente, é o salão principal de exposições do museu; a sala de exposições temporárias e a recepção; os antigos dormitórios e a capela. Pequena e aconchegante, já passou por reformas no piso, no teto e algumas reestruturações e restaurações, inclusive na pintura.
Em estilo colonial paulista, um barroco tardio, explica Fabiana, ela se caracteriza pelas paredes muito grossas, feitas da mistura de caldo de conchas, pedras e óleo de bananeira. Além disso, há poucos vãos, como janelas. “Acreditava-se que o fato de as paredes serem grossas fazia do lugar um ponto estratégico de defesa da Coroa. Mas, é porque foram feitas para suportar toda a estrutura da construção”.
Segundo ela, os monges deixaram o mosteiro quando, na Segunda Guerra Mundial, o então presidente do Brasil, Getúlio Dornelles Vargas, decretou que todos os japoneses, alemães e italianos e seus descendentes deixassem
a costa brasileira, alegando que poderiam ser espiões do Eixo (grupo que lutava contra os Aliados, do qual o Brasil fazia parte).
Os monges foram de Santos para Vinhedo, em São Paulo, onde construíram outro mosteiro, em funcionamento até hoje. Já o mosteiro do morro São Bento foi doado à Diocese de Santos e se tornou museu, anos mais tarde.
MASS
O Museu de Arte Sacra foi criado em 12 de dezembro de 1981. O antigo refeitório do mosteiro é o maior salão do museu e abriga uma exposição permanente de imagens de santos, em madeira ou terracota (barro cozido), datadas dos séculos XVI ao XVIII. Entre as imagens, as que mais chamam atenção por suas histórias e importância são a de Santa Catarina de Alexandria e de Nossa Senhora da Conceição, esta uma das primeiras, se não a primeira, imagens produzidas no Brasil com autoria conhecida.
Segundo Ana Paula, a imagem de Nossa Senhora foi feita pelo santeiro João Gonçalo Fernandes, em 1560. Participou de exposições em várias partes do mundo, sendo bastante conhecida. A imagem retrata uma santa ao estilo barroco europeu: rechonchuda, pele clara e rosada e roupas com movimento.
Em relação à imagem de Santa Catarina, acredita-se que tenha vindo ao Brasil em 1540, trazida por um casal de portugueses colonizadores. Ficava, antes, no outeiro de Santa Catarina. Mas com a invasão do temido corsário francês Thomas Cavendish a Santos, a imagem foi lançada ao mar, ficando perdida por 72 anos. Escravos do colégio de jesuítas (que ficava próximo ao prédio da atual Alfândega) pescavam quando a encontraram, causando grande repercussão na cidade. Diz Fabiana: “Tenta-se descobrir, agora, por que a imagem é diferente das outras da época (a imagem é escura, sem expressões faciais da época, lembrando um ventríloquo). Pelas características, ela não deve ser do período Renascentista, como se pensa, pode até ser da Idade Média.”
Serviço: o Museu de Arte Sacra de Santos (Rua Santa Joana D’Arc, 795 – Morro São Bento) funciona de terça-feira a domingo, das 11h00 às 17 horas. As visitas são monitoradas e os grupos devem agendar previamente pelo telefone (13) 3219 1111. A entrada única custa R$ 5.
Dentro do museu, onde a arte sacra vigora, existe a sala de arte profana. Isolada dos demais objetos, como antigos instrumentos utilizados nas missas e procissões, a sala abriga quadros de arte contemporânea. São telas modernistas datadas da década de 1950, que retratam o cotidiano do trabalho no porto e outras pinturas.
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