quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Gaia - Casa das Técnicas e Artes - Divulgação de Cursos

Idealizado como atelier de restauro de obras de arte, educação patrimonial e difusão de técnicas tradicionais, GAIA é um espaço de intercâmbio e divulgação das artes e suas técnicas. 
O Atelier está oferecendo os cursos de Restauração de Mobiliário, Fotografia, Química para restauro e Restauração de imagens em Gesso (em destaque):





Contato:(21)2253-1335 (21) 8167-8721 gaiatecnicasearte@yahoo.com.br
Ladeira Felipe Neri nº 15 - Morro da Conceição - Centro

A Igreja Matriz de Aquiraz apresenta deterioração na estrutura física e tem dificuldade para manter a segurança da comunidade na igreja. Tábuas de madeira caíram em alguns fiéis durante a missa

A Igreja Matriz de Aquiraz apresenta deterioração na estrutura física e tem dificuldade para manter a segurança da comunidade na igreja. Tábuas de madeira caíram em alguns fiéis durante a missa.
A missa das 7 horas na Igreja Matriz São José de Ribamar, em Aquiraz, foi interrompida, no domingo, dia 19 de fevereiro, devido ao desabamento de parte do forro de madeira do teto do altar-mor. A Igreja, tombada pelo patrimônio histórico do Ceará, tem vários pontos de deterioração no teto, no piso, nas portas, nas janelas e na pintura das paredes. Construída no século XVIII, a igreja tem painéis com pinturas sacras no teto.
Fátima Aquino, 51, professora aposentada, foi uma das pessoas envolvidas no incidente. Enquanto assistia à missa, algumas tábuas caíram nas costas dela. “Nesse momento, eu corri. Pensei que estava tudo desmoronando. Não foi mais grave porque as tábuas estavam danificadas pelo cupim. Por isso, a pancada não foi tão forte”, narra.
O padre Robério Queiroz, pároco do local, afirma que muitos apelos já foram feitos ao Governo do Estado. “O projeto de restauração da igreja é antigo, mas nunca saiu do papel. Já enviamos vários ofícios para a Secult (Secretaria da Cultura do Estado). Eles mandam alguém fazer toda a parte de averiguação, mas não dão o pontapé inicial”, reclama.
Segundo ele, como a igreja é tombada, a paróquia e a comunidade não têm autonomia para fazer a manutenção necessária. “O governo não se responsabiliza nem libera a comunidade para fazer”.
De acordo com Otávio Menezes, orientador da Célula de Patrimônio Histórico da Secult, no caso de bens particulares, o órgão que faz o tombamento não é responsável pela manutenção do imóvel. “Cabe ao proprietário fazer os reparos necessários”. Ele esclarece que, antes de intervenção, o proprietário deve consultar o órgão responsável pelo tombamento para avaliação técnica da obra. O Governo só pode intervir caso o proprietário comprove não possuir recursos financeiros.
Conforme Otávio Menezes, R$ 40 mil foram investidos ano passado na restauração do telhado da igreja. Ele afirma que a intervenção teve caráter emergencial.
Otávio Menezes revela que já existe proposta de restauração da igreja em andamento. O projeto prevê arrecadação de recursos com o Governo. Segundo ele, a Secult, em parceira com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), iniciou a procura por restauradores especializados. Ele explica que, além da construção civil, o trabalho necessita de profissionais específicos para a parte artística, como as pinturas sacras.
ENTENDA A NOTÍCIA
A Igreja Matriz São José de Ribamar fica localizada em Aquiraz. Construída no século XVIII, foi tombada como patrimônio histórico do Estado do Ceará em 1983. Em 2013, a Paróquia comemora 300 anos de fundação.
SERVIÇO 
Para informações e denúncias sobre tombamento do patrimônio histórico do Ceará, entre em contato com a Célula de Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura do Estado (Secult), pelo telefone: (85) 3101 6786.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A arte sacra em São João del-rei



Imagens pequenas grandes e gigantes. Peças únicas, produzidas geralmente sob encomenda. Muitas delas são feitas em São João del-Rei e podem ser vistas nas igrejas da cidade, ou então espalhadas em outros municípios, estados e até países. Não é difícil encontrar artistas são-joanenses que se dediquem à arte sacra. Confira mais sobre santeiros que trabalham na cidade.

Fonte: TV Campos de Minas

Campanha pela recuperação dos bens procurados - IPHAN



Banco de Bens Culturais Procurados
O Banco de Dados de Bens Culturais Procurados está em nova versão, revisado e atualizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Esse novo sistema foi elaborado a partir de 2005, com o objetivo de agilizar a divulgação de informações sobre os bens culturais tombados e objetos arqueológicos extraviados, furtados ou roubados para facilitar sua rápida recuperação. O banco de dados se baseia em informações integradas e articuladas entre as Superintendências Regionais, o Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do IPHAN, a Polícia Federal/Interpol e o público.
O conjunto de dados dos bens culturais tombados procurados favorecerá as ações de vistoria e fiscalização. Também apresentará informações sistematizadas que proporcionarão relatórios necessários para elaboração de estudos, planos e projetos, especialmente de segurança dos acervos.  Ainda proporcionará o acompanhamento dos dados administrativos e jurídicos das ocorrências de extravio, furto, roubo e/ou  resgate.
O Banco de Dados de Bens Culturais foi criado em 1997 e faz parte da Luta Contra o Tráfico Ilícito de Bens Culturais, campanha da Unesco que vem sendo desenvolvida com o Iphan em conjunto com a Polícia Federal/ Interpol. O seu intuito é de recuperar e devolver aos lugares de origem os bens culturais tombados extraviados, furtados ou roubados. O êxito deste importante trabalho também conta com a preciosa participação dos proprietários dos bens culturais tombados, que devem observar as determinações do Decreto-lei nº 25, de 30/11/1937:
“Art. 16 – No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o respectivo proprietário deverá dar conhecimento do Fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por cento sobre o valor da coisa;

Art. 21 – Os atentados cometidos contra os bens de que trata o Art. 1º desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.”

Consulte o banco de dados de bens culturais procurados e ajude a resgatar peças do patrimônio cultural brasileiro, que pertencem a todos os cidadãos e estão desaparecidas. Se você tiver alguma informação sobre estes bens, mande um e-mail, escreva ou telefone para:
Polícia Federal
SCS Quadra 02 - Edifício Serra Dourada – 4 Andar
Brasília – DF
CEP: 70300-902
Telefones: (61) 3321-8487 – 3321-8321
FAX: (61) 3321-2646
e-mail: interpol@dpf.gov.br

Iphan 
Gerência de Bens Móveis e Integrados
Palácio Gustavo Capanema
Rua da Imprensa, 16 sala 910
Rio de Janeiro – RJ
CEP: 20013-120
Telefones: (21) 2220-4646 R.227/228 / 2524-0482 / 2262-1971
e-mail: gemov-bcp@iphan.gov.br



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PATRIMÔNIO CULTURAL - PEÇAS DESAPARECIDAS - CONTO

Autor: Carlos Henrique Rangel

O homem depositou o pacote sobre a mesa e limpou o suor da testa.

- Está aí. Não foi fácil... Tinha alarme... – Disse homem olhando para o senhor de cabelos brancos que segurava um copo de bebida.

- O que estou te pagando cobre todo o risco... – Disse o homem de cabelos brancos.

- Claro senhor Jorge, eu não estou reclamando. – Disse o homem suado.

- Tome o seu cheque e pode ir.  – O homem suado limpou novamente a testa e partiu.

Jorge rasgou o embrulho e sorriu quando viu a bela imagem de Santo Antônio que havia adquirido. Deu uma volta ao redor da mesa admirando a peça e sorriu novamente.

- Mestre Piranga... Sim... Tenho certeza... Agora vou te apresentar a sua nova casa. – Disse pegando a imagem. Carregou-a por um corredor e parou na ultima porta a direita. Segurou a imagem entre o braço esquerdo e abriu o pesado cadeado. Era um quarto pequeno com apenas uma janela bem fechada.

Acendeu a luz e sorriu para as várias peças sobre uma grande mesa.

- Mais uma para a minha coleção... Santo Antônio apresento-lhe seus irmãos. – Disse ajeitando a imagem do santo entre uma Nossa Senhora do Rosário e um São José.

Correu os olhos novamente para o seu acervo e sorriu feliz. Apagou a luz e fechou a porta. O ruído ele ouviu quando ainda colocava o cadeado sobre o trinco.
Eram vozes. Parou de mexer na porta e esperou. Colocou o ouvido na porta e esperou. As vozes começaram tímidas.

- Mais um... Como vai Santo Antônio, seja bem vindo ao nosso humilde lar. – Disse a Nossa Senhora ajeitando a coroa.

- Obrigado Senhora, o prazer é todo meu... Mas... Onde estou? A última coisa de que me lembro foi de ter sido enfiado em um saco... 

- Disse o Santo olhando ao redor, custando a enxergar naquela escuridão.

- Isto aconteceu com todos nós... – Disse um São João Batista que estava mais no canto ao lado de uma Santa Efigênia.

- Fui roubado? – Perguntou o Santo assustado.

- Foi. Todos nós fomos. – Falou uma Nossa Senhora de Lourdes.

- Até hoje tenho pesadelos por causa daqueles brutos que me tiraram do altar... Olha, quebraram uma de minhas asas... – Falou um anjo mostrando a asa com um grande remendo.

- Traumatizado, coitado... Nem dorme direito. – Completou a Nossa Senhora do Rosário balançando a cabeça.

- Eu nunca pensei que isto iria acontecer comigo... Já haviam me falado destas coisas. Mas na minha igreja foi a primeira vez...

- Ai meu filho, na minha igreja aconteceu tantas vezes... Ai que saudades dos velhos tempos em que éramos tratadas com respeito... Tantos anos... Quase trezentos anos atrás. – Lamentou a Nossa Senhora do Rosário.

- A senhora esta muito bem... Não parece tão antiga... – Falou o Santo Antônio admirando a Imagem da Senhora.

- Ah meu filho, tenho alguns probleminhas, uma pequena rachadura, a pintura do meu manto está desgastada...

- Não se nota. – Disse o Santo.

- Sou uma boa peça... Acho que todas nos somos. – Completou a Senhora.

- Aleijadinho?

- Não... Jorge diz que sim. Mas fui feita pelos ajudantes dele... – Respondeu a Nossa Senhora do Rosário.

- A senhora faria o maior sucesso na minha igreja. A nossa “Nossa Senhora do Rosário” é pequena e singela – Elogiou o Santo Antônio.

- Ah meu filho, não quero “pegar” o lugar de ninguém... Queria voltar para a minha Igreja...

- Eu sou uma peça portuguesa. Vim diretamente do Porto... Chique né? – Falou uma Nossa Senhora da Conceição de mais de um metro.

- Muito... – Exclamou o Santo Antônio.

- Eu sou paulista mesmo... Taubaté. E você? – Perguntou o São José.

- Fui feito por um mestre que trabalhou muito na minha cidade... Mas não posso falar o nome dele... É segredo... – Explicou o Santo Novato.

- Conheci um Santo Antônio... Ficava no nicho esquerdo do meu altar... Pegou cupim... Uma tragédia... – Lamentou a Nossa Senhora da Conceição.

- Nossa! E o que aconteceu? – Perguntou o santo curioso.

- Levaram ele para um ateliê de restauração, voltou lindo.

- Que bom... Sei de um caso gravíssimo... Epidemia mesmo... Pegou em todo mundo. – Disse o São José pensativo.

- E aí?

- Ah,  perdemos um São João Batista, uma Nossa Senhora do Rosário e uma Santa Rita...- Explicou o São José.

- Catástrofe! Isto acontece quando a comunidade não cuida direito da igreja...

- Somos muito bem cuidados aqui. Jorge nos limpa uma vez por semana... – Falou um Cristo que segurava uma grande cruz.

- Mas isto aqui não é uma igreja... É escuro e pequeno... – Disse o Santo novato.

- Ai que saudade da minha igreja... As orações, as velas iluminando... O povo e os pedidos do povo... – Lamentou a Senhora do Rosário balançando o terço.

- Não tem reza aqui? – Espantou o Santo recém-chegado.

- Não tem nada, só escuridão e a visita do Jorge de vez em quando.

- E ele reza?

- Não... Apenas fica admirando... Nada de preces... – Respondeu o São Joaquim que até então apenas ouvia.

- Mas que coisa egoísta... Na igreja somos venerados por multidões... E as orações... Adorava ouvir os pedidos e tentar atendê-los...

- Aposto que eram sobre casamento... – Falou um Menino Jesus deitado em uma manjedoura.

- A maioria dos pedidos era sobre casamento. – Confirmou o Santo rindo.

- Ai, e as procissões... Adorava sair pelas ruas no andor. Adorada ver toda a população da cidade... Subindo ladeiras... Perdi a conta de quantas vezes sai pelas ruas... Nunca era igual. Ás vezes as novidades não eram boas. Sentia a falta de uma casa, percebia um prédio novo e feio ocupando o lugar de um sobrado lindo que existia perto da igreja... Uma mudança no ritual... Mudança para pior... – Lamentou a Nossa Senhora do Rosário ajeitando o manto.

- E os veículos... Quando vi o primeiro automóvel quase desci do andor e sai correndo. – Disse o São José alisando a barba.

- E os cantos... Na sua igreja tinha música? Na minha igreja cantava-se muito a luz de velas quando eu era uma imagem novinha. O órgão com aquele lindo som do Céu... Depois instalaram luz elétrica e a igreja ficou muito mais clara...- Falou um São Sebastião soltando um dos braços para evitar a cãibra.

- Adoro a Semana Santa e a decoração das ruas... Saia da minha Igreja e ia para a Igreja de Minha mãe... – Falou o Cristo pensativo.

- Ai meu Deus que saudades do Congado... – Lamentou novamente a Nossa Senhora do Rosário.

- Meu povo deve estar muito triste... - Falou o Santo Antônio forçando a vista, tentando enxergar melhor os companheiros.

Aposto que sim. – Falou o Menino Jesus balançando as perninhas.

- E o Jorge que nem reza... – Disse o Cristo ajeitando a cruz no ombro.

- Moço mais egoísta... – Falou Santa Efigênia.

- Será que ele não tem olhos para ver o que está fazendo com a gente e com o nosso povo? – Perguntou a Santa Luzia depositando o prato na mesa.

- Se pelo menos fosse um museu... No museu as pessoas nos visitam... Já pertenci a um museu... - Falou o Cristo.

- Museu! Deus me livre! Sou uma santa fui feita para ser adorada e louvada. No museu somos objetos de arte. – Reclamou a Santa Rita.

- Mas é melhor que isto aqui. – Falou o Cristo.

- Moço egoísta... E pensar que estou aqui há quinze anos... – Lamentou novamente a Santa Efigênia.

No lado de fora Jorge ouvia a conversa e seu coração inicialmente assustado estava agora carregado de tristeza. A princípio pensou que fosse efeito da bebida. Andava bebendo quase todos os dias àquela hora da noite. Depois achou que não. Não era o efeito de bebida. Era uma conversa real. Muito real... E séria.

As lágrimas trasbordavam dos olhos banhando-lhe a face e um grande sentimento de culpa apertava-lhe o peito. Via os altares vazios e o choro dos fiéis lamentando a perda dos santos de sua devoção. Ouvia o sermão duro do padre pedindo providências. Via os andores vazios... As beatas chorando... As procissões empobrecidas...

Via o quarto com os olhos dos santos: escuro silencioso... Sem preces, sem luz de velas... As lagrimas agora molhavam sua camisa. Enxugou os olhos e sem querer bateu com a mão no trinco provocando um forte ruído metálico.

A conversa cessou.
Jorge não precisava ouvir mais nada.

Abriu a porta e encontrou o quarto como havia deixado: em silêncio. O Santo Antônio estava lá entre o São José e a falante Nossa Senhora do Rosário.

Parou ao lado da peça de Nossa Senhora do Rosário e acariciou-lhe o rosto. Depois pegou o prato da Santa Luzia que se encontrava na mesa e colocou sobre a  mão estendida da santa.

- Meus santos e minhas santas, lamento muito o que tenho feito com os senhores e suas comunidades... Lamento do fundo do meu coração... A partir de amanhã providenciarei o retorno de todos às suas igrejas... – Disse ajoelhando no chão frio do quarto e iniciando uma silenciosa oração...
                                                                FIM 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Vazio musical, sinônimo de vazio cultural

Texto de Ian Farias / Ecclesia Una

O quarteto da pesada: Beethoven, Mozart, Vivaldi e Bach
Mentes vazias não se contentam com o silêncio. Uma sociedade esvaziada da cultura perde todo o seu valor. O ponto a que chegou a nossa cultura musical, hoje, é simplesmente reflexo de uma sociedade sem cultura, ou melhor, com os valores culturais às avessas. Não que a música tenha perdido o seu valor, mas foram as pessoas que denegriram o valor da música, ou melhor: que denegriram-se a si próprias e acabaram por afetar todas as suas outras ações culturais, sentimentais e também religiosas. Recordo-me que desde muito pequeno já fora sido eu formado, de forma aprazível, por minha mãe para apreciar a música erudita ou as boas músicas, que deixam alguma mensagem ou nos fazem contemplar o transcendente.
A música que sempre serviu para o engrandecimento de Deus ou para a expressão de um sincero sentimento, agora tornou-se um viés de violência e depravação humana. O que antes cultuava o espírito e procurava engrandecer e enaltecer a poderosa manifestação divina, agora rebaixa o homem a condição de um mero animal ávido de realizar seus prazeres. A partir do momento que a música deixa de transparecer as belezas presentes no mundo e além dele; a partir do momento que ela já não mais é instrumento do amor e da expressão da pureza sentimental; quando ela deixa de ser uma expressão da alma e passa a ser expressão de uma realidade ignominiosa; em resumo: a partir do momento que ela é desvirtuada destas suas funções, ela deixa de ser manifestação de um sobrenatural divino, transcendente, para ser instrumento diabólico.
A música (do grego μουσική τέχνη – a arte das musas), como o próprio termo já sugere, é arte. Não é apenas uma prática cultural e humana, mas vejo-a como uma expressão da própria alma; aliás, as obras de arte, a pintura, a música, a arquitetura têm alma. A alma neste caso não é a conhecida por nós, que vivifica o homem, mas é um conjunto de capacidades ou possibilidades que cada homem ou cada coisa possuem em particular, em maior ou menor participam.
Na tentativa de definir-se a música dão-se muitos conceitos, nenhum deles, porém, definitivos e satisfatórios. É vista como “arte do efêmero”, mas eu prefiro vê-la como “expressão do inexpressível”, sabendo que ela não pode ser enquadrada em um conceito. O que é inexpressível menos ainda há de ser definível. Tão complexo quanto definir o tempo é definir a música. O que, no entanto, faz com que a música seja música? Certamente não será outra coisa senão a sua essência. Para a Filosofia a essência é aquilo que define a coisa; que faz com que ela seja esta coisa e não outra.
Santo Agostinho dirá que todas as coisas são belas pois trazem intrínsecas em si uma harmonia musical. No seu De Musica ele pergunta – ao mesmo tempo instigando-nos a descobrir na música as maravilhas do existir: “Podemos amar outra coisa senão a beleza? Mas é a harmonia que agrada na beleza; ora, nós já vimos, a harmonia é o resultado da igualdade nas proporções. Esta proporção igual não se acha apenas nas belezas que são do domínio do ouvido ou que resultam do movimento dos corpos, mas ela existe ainda nessas formas visíveis, às quais damos mais comumente o nome de beleza” (S. Agostinho, De Musica, VI, 13, 38).
A beleza musical consiste sobretudo na interiorização do que escuta-se. Não se deve – ao menos em meu ponto de vista – escutar a música, no sentido mais restrito da palavra. Esse método vazio tem feito com que qualquer combinação de sons, com letras vazias e depreciativas dos valores humanos e da dignidade da pessoa, fosse chamada de música.
“Se, para compor música, só fosse necessário obedecer às leis da harmonia e aos princípios formais de desenvolvimento, todos seríamos grandes compositores; mas é a ausência do sentido melódico que nos impede de atingir excelência musical simplesmente comprando um manual de música” (N. R. CAMPBELL, Physics; TheElements, 1920, p. 130).
É preciso sentir a música, deixar-se invadir pelos bons sentimentos que ela permite passar. Que a música não seja apenas agradável aos ouvidos, mas também a alma. O contexto da hodierna sociedade vê-se tomado, de forma avassaladora, pelas mais macabras letras musicais e melodias – se é que podemos chamá-las de músicas. Dos grandes compositores – dentre os quais os meus preferidos: Chopin, Mozart, Beethoven e Bach – tínhamos expressões vivazes de uma cultura salutar, fundamentada não apenas nos valores que os homens têm em sua cultura como também nos valores evangélicos.
O Papa Bento XVI, também profundo amante da música erudita, afirmou em seu discurso após um concerto que lhe fora oferecido em ocasião do seu 60º aniversário de ordenação sacerdotal, onde foram entoadas peças de Vivaldi e de Bach:
De Vivaldi, diz ele: “Era um sacerdote católico, fiel ao seu Breviário e às suas práticas de piedade. A escuta da sua produção de música sacra revela o seu espírito profundamente religioso”.
De Bach: “Tinha uma concepção profundamente religiosa da arte: honrar a Deus e voltar a criar o espírito do homem. A escuta da sua música evoca quase o correr de um regato, ou então uma grandiosa construção arquitetônica, em que tudo está harmoniosamente amalgamado, como se procurasse reproduzir aquela sintonia perfeita que Deus gravou na sua criação. Bach é um maravilhoso «arquiteto da música», com um uso sem igual do contraponto, um arquiteto norteado por um tenaz ésprit de géometrie, símbolo de ordem e de sabedoria, reflexo de Deus, e assim a racionalidade genuína torna-se música no sentido mais elevado e puro, beleza resplandecente.”
Sobre Mozart, diz o Santo Padre a respeito de suas músicas: “é uma alta expressão de fé, que conhece bem a tragicidade da existência humana e que não cala sobre seus aspectos dramáticos, e por isto é uma expressão de fé propriamente cristã, consciente que toda a vida do homem é iluminada pelo amor de Deus”
O Sumo Pontífice reconhece e aponta os aspectos destes grandes compositores: pessoas que tinham uma relação íntima com Deus e que compunham mais com o espírito do que com a razão. Agora, ao contemplar a músicas que hoje se-nos apresentam, fico perplexo com a formação que estamos atribuindo às gerações futuras. Amar a beleza é imprescindível na existência humana. Esta beleza, no entanto, não é adjetiva, não deve ser tomada aqui como algo que parte do exterior, um culto hedonista, entretanto é algo que brota do coração, que dá sentido a vida do homem e nos torna perceptíveis de uma realidade: Tudo o que vem de Deus é belo, desta forma só na beleza se pode encontrar Deus.
O ser humano não pode reconhecer Deus enquanto vive à sobra do que não lhe apraz, do que não o edifica, do que o torna meramente um objeto; mas só poderá encontrar Deus e fazer a “experiência” de Deus no que é aprazível aos olhos do coração e da fé. Na dinâmica da vida paradoxos são necessários. O que parece contrário, no entanto, para nada mais serve a não ser para a nossa edificação, para a nossa solidificação em Deus. Na experiência do mundo nós experimentamos o que ele nos oferece, mas na dinâmica de Deus nós oferecemos o que experimentamos.
Reclamamos o governo de distribuir camisinhas nas escolas, de mostrar a devassidão na TV, de propagar a imoralidade em novelas e reality shows, mas esquecemos de criticar mais uma coisa: As músicas que são permitidas e que muitas vezes ganham verbas das autoridades para serem propagadas pelo Brasil a fora. Do outro lado o governo critica a prostituição. Hipócritas! Imorais! Vocês querem acabar com a prostituição permitindo que as mulheres sejam denegridas e ofendidas, sendo rebaixadas a meros objetos? Vocês querem ser chamados “representantes do povo” para destruírem as famílias? Quem busca destruir as famílias e os valores não são “representantes do povo”, mas legítimos representantes de Satanás.
Às famílias, primeiras educadoras, cabem seguir claramente os conselhos de São Paulo: “Examinai tudo: guardai o que é bom” (1 Ts 5, 21). Cabe aos país educarem seus filhos para que não se deixem levar por esse redemoinho de imoralidades. Que a educação dos filhos e a formação dos valores éticos e dos valores da moral cristã sejam prioridades no berço familiar. Não esperemos que o governo eduque; nem que somente a Igreja eduque, mas que também vós possais, desde já, formar vossos filhos como verdadeiros cidadãos e verdadeiros cristãos.
Não irei entrar mais em detalhes e muito menos irei avaliar letras de músicas, apenas desejei fazer uma reflexão geral entre a música que as crianças, jovens e adultos estão habituados a escutarem hoje e a música que verdadeiramente podemos denominar como música, arte, obra. Se quisermos ter um país melhor, se queremos edificar cidadãos melhores, creio que precisaríamos reformular também a nossa cultura, pois uma só é a causa de tamanha lástima: A perda de valores.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...