segunda-feira, 30 de abril de 2012

Comunidade católica festeja entusiasmada reentronização de imagem histórica do século 18

Gustavo Werneck -Estado de Minas - em.com.br

 
São Gonçalo do Rio Abaixo – Sete meses e uma hora. Esse foi o período que a comunidade católica desta cidade da Região Central de Minas, a 84 quilômetros de Belo Horizonte, esperou para ver de novo, dessa vez restaurada, a imagem do padroeiro. Pelo entusiasmo e emoção demonstrados na noite de sábado, valeu a pena ficar tanto tempo longe da peça do século 18, atribuída ao português Francisco Vieira Servas (1720-1811). À tarde, o titular da Paróquia de São Gonçalo, padre Fernando dos Santos Andrade, preparou uma surpresa para os participantes da celebração das 19h. Com um tecido vermelho e dourado ele cobriu a escultura para que, somente ao fim do ato religioso, às 20h em ponto, todos pudessem admirar o trabalho que devolveu as cores e beleza originais à imagem de devoção. E foram muitos os aplausos.

De cedro, com 1,20m e 60cm de largura, a imagem de São Gonçalo teve restaurados o douramento, a policromia e a riqueza de detalhes, como os desenhos dos sapatos e os “esgrafiados” da roupa, fruto de uma técnica sofisticada que consistia na aplicação de uma tinta sobre o folheado a ouro. Ao retirar o tecido que cobria o santo padroeiro do município, adornar-lhe a cabeça com o resplendor de prata e dar a bênção, o pároco destacou a importância de se preservar a arte sacra. “A Igreja tem dois bens: o espiritual, que são os sacramentos e tudo relacionado à salvação das pessoas, e o material, criado e pensado para fazer o homem orar e elevar o coração a Deus. Por isso, devemos preservar esse patrimônio”, afirmou.

Antes de seguir para o ateliê do Grupo Oficina de Restauro, na capital, a escultura de madeira estava sem cupins, embora apresentando camadas de repinturas inadequadas, em preto e branco, feitas possivelmente no início do século passado; perda de alguns pontos, que estavam descascando; e falta de dedos numa das mãos. Segundo o restaurador Adriano Ramos, do grupo, o trabalho demandou quatro meses e trouxe uma surpresa, pois, aos poucos, foi revelando uma obra de qualidade atribuída a Servas, que teve um ateliê em São Domingos do Prata. “Não inventamos nada, apenas recuperamos o que já havia na imagem”, observou.

Com chapéu preto, de couro, terno e gravata, o aposentado Raimundo Gregório de Figueiredo, de 69 anos, esperou o início da cerimônia sentado calmamente aos pés do cruzeiro, fincado desde o século 19 em frente à matriz, construída em 1720 e viculada à Diocese de Itabira. “Nem os mais velhos aqui da cidade conheceram São Gonçalo como está agora. Ficou uma beleza. A fé remove montanhas e tudo isso me faz lembrar do milagroso padre João José Marques Guimarães, falecido em 1984. Foi pároco por seis décadas e deixou muita saudade”, afirmou. Gente de todas as gerações foi à igreja conferir a peça, que volta para o altar. “Temos toda segurança no templo. Nesse período, para que os paroquianos não ficassem sem o santo, pusemos uma réplica no lugar. Essa vai sair nas procissões”, contou padre Fernando.

Confiança

Há mais de 20 anos zeladora da igreja e integrante da Irmandade do Santíssimo Sacramento, Dorotéia de Carvalho, de 60, conseguiu várias graças por intercessão do padroeiro. “Lembro-me da minha mãe dizendo na hora dos apertos: ‘São Gonçalo, me ajude!’”. Ao lado do pároco na preparação da cerimônia, ela destacou o valor da fé. “É o mesmo santo, só que mais bonito.” Coordenadora da liturgia, a professora aposentada Mercês Liberata Dias dos Santos, de 51, elogiou a coragem do padre e a confiança dele na equipe de restauração. “É muita responsabilidade tirar uma imagem do altar e mandar recuperá-la. Deu tudo certo”, disse.

A cerimônia foi pontuada pelo repicar festivo dos sinos, canções do coral Sagrado Coração de Jesus e ritmo da Banda de Música Santa Cecília. Durante a bênção da imagem, os fiéis entoaram o hino do padroeiro. O casal José Renato e Maria Petronila Torres veio de Ipatinga para a festa. “Estou feliz, pois fui batizado e crismado nesta igreja. Estamos casados há 23 anos e, quem sabe, faremos a missa de bodas de prata aqui”, disse o marido. Na fila para ver a imagem bem de perto, Maria das Graças Correia Miguel, de 63, ressaltou que o restauro se tornou um sonho realizado. Para Regina dos Santos Costa, de 74, a pintura a óleo, servia para esconder o ouro da roupa do santo, que traz uma Bíblia na mão e um cajado na outra. A viola, que reforçaria a figura do santo como protetor dos boêmios, está desaparecida.

Campanha

Terminada esta etapa, padre Fernando e a comunidade dão início à recuperação do altar-mor, dos retábulos laterais, igualmente atribuídos a Servas, do arco cruzeiro e da tarja, além do forro que traz a Trindade, as virtudes teologais e os evangelistas. O primeiro passo foi dado na noite de sábado, quando Adriano Ramos presenteou a paróquia com o projeto de restauração dos elementos artísticos, serviço com valor estimado em R$ 1,1 milhão. De acordo com as prospecções, há “ouro e cores” por baixo das camadas de tinta a óleo branca que cobrem os retábulos. “Vamos pedir o apoio das empresas. Temos agora a oportunidade, mais uma vez, de escarafunchar a história e dar valor ao que temos”, disse o religioso, com entusiasmo. A estudante Marcella Moreira, de 12, passou suavemente as mãos sobre a peça barroca. “Já vi a imagem várias vezes no altar, mas agora é diferente. Está mais bonita e gostei de ver os sapatinhos”, disse a menina.

Santo dominicano

Vale a pena seguir pela rodovia BR-381 só para ver a imagem de São Gonçalo, que pertenceu à ordem dos dominicanos. Ele nasceu no início do século 13, na aldeia de Ariconha, distrito de Guimarães, em Portugal, era filho de nobres e recebeu uma educação exemplar, norteada por um sacerdote. Já adulto, tornou-se também sacerdote e viajou em peregrinações religiosas a Roma, Itália, onde visitou os túmulos de São Pedro e São Paulo. Na sequência, visitou os lugares santos em Jerusalém. Mais tarde, fixou-se num lugarejo pouco habitado, hoje cidade de Amarante, e por volta de 1250 construiu uma capelinha dedicada a Nossa Senhora da Assunção. Logo depois, São Gonçalo se refugiou como eremita e passou a viver em penitência e mortificações. Segundo a lenda, teria recebido uma visita milagrosa da Virgem Maria, que o aconselhou a entrar para o Mosteiro de São Domingos, em Guimarães. As festas de São Gonçalo se destinam à resolução de problemas de casamento de mulheres velhas, esterilidade e colheitas.

O impressionante acervo do Museu de Arte Sacra Pierre Chalita; são mais de três mil peças em exposição

Por Roberto Amorim - do Site mais.al

Praticamente esquecido na tumultuada Praça dos Martírios, no Centro da cidade, o Museu de Arte Sacra Pierre Chalita guarda impressionante acervo de registros da fé católica.

Percorrer as salas do prédio é exercício de descobertas e encantamento. O visitante de primeira viagem vai se deparar com acervo de quase três mil peças de arte sacra, pinturas, mobiliário e objetos decorativos dos últimos três séculos.

O circuito museológico é, principalmente, uma imersão no talento dos santeiros de várias partes do Brasil, com destaques para os de Salvador e Pernambuco. Esculturas de Jesus Cristos, Santos e Anjos estão por toda parte e chamam atenção pela perfeição, quantidade e variedade de temas e tamanhos.

Mas as boas-vindas ao museu são dadas por um rei e dois imperadores. Na primeira sala, quadros de D. João VI, D. Pedro I (pintado quando da sua visita do monarca a Salvador) e D. Pedro II, que aparece em três fases da vida: aos 15 anos, adulto e às vésperas de voltar a Portugal depois da Proclamação da República, em 1889.

Altar do Senhor Morto

Encantamento e descobertas aumentam à medida que se entra em outras salas. Em uma delas, os protagonistas são as enormes telas do artista Daniel Bèrard, datadas do início do século 19, e o Altar do Senhor Morto, onde estão as esculturas da Sagrada Família, formada por Sant´Anna, São Joaquim, Nossa Senhora e São José.

“As salas do Museu Pierre Chalita convidam o visitante a um passeio pela história. A distribuição das peças não obedece a um planejamento formal. A maneira como as obras se apresentam tem um toque de naturalidade, favorecendo a descontração do observador e um contato mais íntimo com a arte”, diz Fernanda de Camargo-Moro, pesquisadora que se debruçou sobre o precioso acervo.

Outra impressionante peça é o altar de quase cinco metros em madeira policromada com intensidade em branco e ouro, características do século 19. Para protegê-lo, as imagens de São Miguel Arcanjo e São Judas de Pádua. Ambos com 1,73 metro. As salas das duas grandes estantes pretas revelam uma das maiores coleções de crucifixos e santos em miniaturas do país.

E não é só. Enquanto o andar de cima é um grande salão povoado pelos quadros das séries “Baile” e “Paraíso”, do próprio Pierre Chalita - além de exemplares de marquesas do século passado, destaque para a que pertenceu ao poeta Jorge de Lima -, o andar de baixo do prédio se transformou numa pinacoteca, que abriga trabalhos de artistas populares e contemporâneos de várias partes do Brasil e do mundo.

+ INFORMAÇÕES
Museu de Arte Sacra Pierre Chalita
Na Praça dos Martírios, vizinho ao Palácio Floriano Peixoto
Visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 17h

domingo, 29 de abril de 2012

Danças na Missa? Músicas sentimentais? Com a palavra o Cardeal Arinze


do blog: Una Voce Brasil

Um dos grandes problemas da atualidade é querer transformar o espaço Sagrado em algo “acessível ao homem”, no sentido de que a Igreja, segundo alguns, deve usar de técnicas modernas para atrair pessoas.
Muitos usam este argumento para simplesmente desfigurar o Santo Sacrifício da Missa.
Aqui cabem algumas perguntas. Será que estas pessoas tem razão? Será que os tais “liturgistas” de plantão estão corretos quando sugerem invenções criativas na Missa?
Neste vídeo o Cardeal Francis Arinze, prefeito emérito para o Culto Divino e Displina dos Sacramentos nos traz as respostas.

sábado, 28 de abril de 2012

Catedral São José reabre no sábado

Catedral São José reabre no sábado Após seis anos de obras de reforma e ampliação, a Catedral Diocesana São José, em Criciúma, soleniza sua reabertura no fim da tarde deste sábado, 28 de abril, com uma cerimônia civil marcada para às 18h, sob o átrio da igreja. O bispo Dom Jacinto Inacio Flach, junto aopároco Antonio da Silva Miguel Júnior, e demais sacerdotes e autoridades, fazem o descerramento da placa alusiva à reabertura.

A entrada dos fieis acontecerá ao som do órgão de tubos, peça de 1959 ampliada e restaurada na cidade gaúcha de Santa Maria. O religioso lasallista, irmão Renato Koch, será o organista. Especialista em Arte Sacra, Renato é o responsável pelas obras de reforma do ambiente e restauração de diversas peças.

Após a reabertura, haverá a celebração da Santa Missa e o templo será abençoado pelas mãos do bispo diocesano. “O que fica faltando para o ato de Consagração, que vamos ter no ano que vem, são as 12 lamparinas e 12 pequenas cruzes que serão colocadas sobre as colunas, marcando os 12 apóstolos”, informa o pároco, Antonio Júnior. Segundo o padre, a Consagração da igreja é uma cerimônia com ritual próprio, quando será depositada a relíquia de um mártir no altar principal, fixo sobre o retábulo da Catedral.

Com predominância do estilo clássico romano, a Catedral, agora com nova roupagem, apresenta novidades em seu interior aos fieis, através do novo altar principal e das novas mesas da Palavra e das credências. Um novo espaço para o Santíssimo foi desenvolvido, com o Sacrário restaurado com novo altar para ele. Outra novidade aos olhos dos fieis será a imagem do padroeiro São José, também restaurada.

Cerca de 2 mil pessoas são esperadas para a celebração. A Catedral aumentou o número de assentos de 500, para 800, sendo que os bancos também passarão por futura reforma. Mais de 800 mil reais já foram investidos, desde 2005, nas obras da igreja.

No domingo, às 10h, a Catedral São José celebra sua primeira missa dominical com a animação da Associação Coral de Criciúma.

Fonte: A Tribuna

"A arquitetura ao serviço da liturgia"

Congresso da Fundação San Juan

MADRI, (ZENIT.org)

Em Madrid, se realizará nos dias 9 e 10 de Maio um congresso sobre “A arquitetura ao serviço da liturgia".
A Fundação San Juan organizou - em colaboração com a Universidade Eclesiástica San Damaso, o Colégio de Empreiteiros de Madri, a Sagrada Congregação para o Culto Divino, a obra de restauração "Francisco Haro e Filhos" – um congresso no qual se abordarão a partir de perspectivas diferentes (histórica, litúrgica, técnica) a inter-relação que existe entre o templo, a construção de edifícios sagrados e a liturgia da Igreja.
O evento acontecerá nos dias 9 e 10 de maio na sede do Colégio de Empreiteiros de Madri.
Participarão: monsenhor Ferrer e Grenesche, sub-secretário da Congregação para o Culto Divino, Laura de Rivera García de Leániz, diretora geral do Patrimônio da Comunidade de Madri, Nicasio Salvador Miguel, catedrático de Literatura da Universidade Complutense, Jesus Panos Arroyo, Presidente do Colégio de Empreiteiros.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cristiada é o filme mais assistido nos cinemas do México


Uma imagem do filme Cristiada
MEXICO D.F. (ACI/EWTN Noticias)

O filme Cristiada, que conta a história da Guerra Cristera no México ante a perseguição religiosa do presidente Plutarco Elías Calles, na década de 1920, é o filme mais assistido na sua primeira semana em cartaz no México.
Supera a filmes como Titanic 3D, Fúria de Titãs 3D e American Pie: O Reencontro.

Conforme reporta a Câmara Nacional da Indústria Cinematográfica e do Videograma (CANACINE), mais de 270,000 espectadores assistiram às salas de cinema para ver Cristiada.
No filme atuam estrelas como Andy García, Eva Longoria, Peter Ou’Toole, o cantor panamenho Rubén Blades e o conhecido ator e produtor mexicano Eduardo Verástegui.
A produção também acumulou durante sua estréia mais de um milhão de dólares, o que a colocou em segundo lugar em arrecadação dos filmes em cartaz, só atrás de Titanic 3D.
Em declarações ao Grupo ACI, em abril de 2011, o diretor de Cristiada, Dean Wright, quem ganhou o Oscar por seu trabalho em efeitos especiais no filme O Senhor dos Anéis, assinalou que o filme apresenta a história de "cinco pessoas ordinárias que optaram por levantar-se por (proteger) seus direitos".

"Quando se encontraram envolvidos nesta guerra civil, decidiram o que iam fazer e quão longe queriam chegar por manter sua liberdade", destacou.

Eduardo Verástegui disse recentemente aos meios mexicanos que durante a realização da Cristiada, "sentia-se como em uma produção de Hollywood, só que feita por mexicanos. Aplaudo ao produtor Pablo José Barroso, de New Land Filmes, por fazer um filme com essa qualidade. Isto marca um início".

Um pouco mais sobre o filme Cristiada

"Cristiada": Filme sobre envolvimento de católicos em guerra civil mexicana.

O filme “Cristiada”, baseado no conflito mexicano dos Cristeros, ocorrido entre 1926 e 1929.
O ator Andy Garcia, nascido em Cuba, a atriz Eva Longoria, descendente de mexicanos, e o veterano Peter O’Toole são alguns dos protagonistas do filme. A narrativa evoca as questões de consciência colocadas pelos católicos mexicanos sobre o recurso às armas para depor o presidente Plutarco Elías Calles, que pretendeu impor a secularização.
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A obra «segue as histórias de pessoas comuns que escolheram lutar pela sua liberdade. Envolvidos em plena guerra civil todos têm de decidir até onde querem ir e até onde estão dispostos a arriscar», refere a sinopse publicada no site oficial do filme.
O cardeal português José Saraiva Martins, antigo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, beatificou 13 mártires mexicanos, três padres e 10 leigos, um deles com 14 anos, pertencentes ao Movimento Cristeros.
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A celebração realizou-se a 20 de novembro de 2005, dia de Cristo Rei, em memória das palavras «Viva Cristo Rei!» que dois dos mártires proclamaram antes de morrer.
«Movidos por um profundo amor a Jesus Cristo e ao próximo, estes novos beatos defenderam pacificamente este direito [liberdade religiosa], mesmo com o próprio sangue», afirmou o prelado português na homilia da missa da beatificação, em Guadalajara.
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«Eles, longe de incentivar os confrontos sangrentos, procuraram o caminho pacífico e conciliador que lhes reconhecesse estes e outros direitos fundamentais que tinham sido negados aos católicos mexicanos. Ao contrário, Anacleto González e companheiros mártires procuraram ser, na medida das suas possibilidades, agentes de perdão e fatores de unidade numa época em que o povo estava dividido», acrescentou.
A «superprodução» realizada por Dean Wright, autor dos efeitos especiais de “Titanic”, “O Senhor dos Anéis” e “Crónicas de Nárnia”, chega às salas de cinema do México a 20 de abril e aos EUA no dia 1 de junho. No Brasil ainda não tem data marcada.

Fonte: SNPCultura

Veja mais no site oficial: 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

512 anos: Uma errata sobre a 1ª Missa no Brasil

Quase todos nós ao ouvirmos falar da primeira Missa celebrada em território brasileiro imediatamente trazemos à nossa mente a imagem imortalizada pela tela de Victor Meirelles de 1860 e atualmente exposta no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. A pintura, de estilo romântico, representa os indígenas e portugueses assistindo a uma Missa celebrada pelo Frei Henrique de Coimbra, acolitado por um outro frade, diante de uma grande cruz de madeira armada junto do altar da celebração. Por ocasião dos 512 anos da celebração da primeira missa no Brasil, comemorado hoje, dia 26 de abril de 2012, essa imagem está sendo compartilhada nas redes sociais para relembrar o evento. Contudo, a tela de Meirelles retrata na verdade, a segunda Missa no Brasil, celebrada dia 1º de maio. Como assim?!
No dia 26 de abril de 1500, os portugueses celebraram a primeira missa no Brasil, mas na ilha da Coroa Vermelha, uma ilhota que já não existe mais. Era Domingo da Oitava de Páscoa, e a Missa foi celebrada de forma cantada, sobre um altar montada debaixo de um dossel, assistida por cerca de 1000 homens da esquadra de Pedro Álvarez Cabral. Na praia do continente, cerca de 200 indígenas acompanhavam de longe a cerimônia. 
"Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. 
Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar
pé.
Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta."(Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rey Dom Manuel I de Portugal, Porto Seguro, 1º de maio de 1500. Os grifos são meus)
O motivo desta celebração ter sido mais afastada foi provavelmente de que o capitão não se sentia seguro de mandar celebrar a liturgia no continente por ainda não ter contatos suficientes com os nativos da terra.
Foi só na sexta-feira, 1º de maio, que o Frei Henrique de Coimbra celebrou Missa solene diante da cruz de madeira plantada na terra da praia de Porto Seguro, a qual assistiu toda a esquadra e uma grande quantidade de indígenas que se juntaram para observarem a cerimônia.
"E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.
Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!
Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.
Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com respeito ao pudor. Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer." (Carta de Pero Vaz de Caminha)
Fica assim, desfeito o engano. A primeira missa no Brasil foi celebrada em um Domingo, dia 26 de abril, na ilhota da Coroa Vermelha. O que Victor Meirelles representou em seu quadro de 1860 é a primeira Missa celebrada em terras continentais do Brasil, na sexta-feira, 1º de maio de 1500. Nada disso, contudo, anula a memória deste dia, em que comemoramos a primeira Missa celebrada em terras brasileiras, onde por singular graça e sagrado privilégio, nossa Pátria nasceu sendo oferecida a Deus junto com o Santo Sacrifício de Seu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo.
Brasil: Terra de Santa Cruz!

do blog: Salvem a Liturgia!

Barroco recifense em desenhos e mosaicos


Escrito por Revista Continente   

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Em matéria publicada na edição de janeiro da Revista Continente, a repórter Danielle Romani conta que o arquiteto espanhol José María Plaza Escrivá se autodenomina um viajante desenhador, a exemplo dos artistas que integravam as comitivas que desbravaram o Novo Mundo, na Era das Navegações, ou como fizeram os historiadores da Antiguidade. Depois de retratar percursos como os Caminhos de Santiago de Compostela e o Itinerário da Constituição Espanhola, o desenhista interessou-se pela capital pernambucana.

A exposição do Caderno de Desenhos “Arte em Recife: um itnerário barroco” apresenta ensaio realizado in situ pelo arquiteto, inspirado pelas paisagens que registram a memória de Monumentos Patrimônios da Humanidade, acompanhados pelos painéis em mosaico artístico da arquiteta Sandra Paro. A abertura da exposição será realizada no próximo dia 03/05, às 19h, com a apresentação do Coral da Capela Dourada.



SERVIÇO
Exposição Arte em Recife: um itnerário barroco
Quando: de 03/05 a 04/06 (de segunda a sexta, das 8h30 às 11h e 14h30 às 17h, e aos sábados, das 8 às 11h)
Onde: Museu Franciscano de Arte Sacra (Capela Dourada) – Rua do Imperador Dom Pedro II, S/N
Quanto: Gratuito
Mais informações: (81) 3467.1249

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Mosteiro de São Bento em Salvador - Bahia

Por indicação do amigo Márcio Braga, posto o documentário do Mosteiro de São Bento na Bahia, vale a pena conferir:

 



Documentário sobre o Mosteiro de São Bento da Bahia, fundado em Salvador no ano de 1582, foi a primeira instituição beneditina construída em terras americanas - e também a primeira a ser mantida fora da Europa. Paralelamente a seu importante papel religioso, de difundir a fé católica, a instituição baiana acabou se destacando também graças à formação de um rico acervo de arte sacra e documentos históricos. Lançado em 1998 para comemorar o quarto centenário de sua fundação, o Vídeo Mosteiro de São Bento da Bahia é uma amostra desse acervo, destacando arquitetura, relíquias, imaginária religiosa, pinturas e móveis. A edição bilíngüe (português / inglês) realça ainda sua importância histórica por meio de documentos, mapas antigos da cidade de Salvador, plantas, desenhos e vistas.

Cidade paranaense de Maringá sediará a II Semana de Arquitetura e Arte Sacra

Maringá (Gaudium Press)

 A Comissão de Arquitetura e Arte Sacra da Diocese do Divino Espírito Santo, em Umuarama, no Estado do Paraná, promoverá de 20 a 25 de agosto, com o tema "Liturgia, Arte e Arquitetura: um espaço para celebrar", a II Semana de Arquitetura e Arte Sacra, no Centro de Formação Jesus Bom Pastor, na cidade de Maringá. As inscrições para o evento já estão abertas.
De acordo com os organizadores do evento, a ideia da criação dessa semana foi contextualizada na importância da realização de celebrações de gestos religiosos e sinais sagrados que o Salvador mandou repetir em sua memória. E para que esses espaços sejam adequados às finalidades transcendentes a que se destinam, a Igreja caracteriza esses espaços com os atributos do sagrado, o que faz pela reserva exclusiva e pela expressão artística.

A coordenação do evento ainda explica que para que os espaços celebrativos sejam idôneos para condigna realização da ação litúrgica os encontros da semana visam orientar e dar suporte litúrgico, técnico, e artístico sobre alguns aspectos do espaço litúrgico, as paróquias, ou comunidades religiosas, que vão construir, reformar, ampliar, restaurar ou executar qualquer alteração no seu espaço sagrado.

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Padre Claudemir Caprioli
Deste modo a Igreja pode manter-se fiel à sua tradição milenar de dar afetação pública e permanente para o culto e de conferir caráter sagrado àqueles espaços, edifícios ou lugares que o justifiquem.
 O objetivo principal da II Semana de Arquitetura e Arte Sacra é aguçar o olhar e aprofundar o conhecimento dos profissionais e da comunidade que trabalham na área, para que projetos de construção, reformas e restaurações dos espaços celebrativos e sagrados respondam às exigências da liturgia, em seus aspectos arquitetônicos, simbólico e funcional.
Este é um evento voltado, principalmente, aos profissionais de arquitetura, engenharia, artes plásticas, estudantes, presbíteros, diáconos, religiosos, membros dos Conselhos Paroquiais de Economia e Administração, leigos e técnicos (decoradores e organizadores do espaço celebrativo para casamentos e formaturas, som e iluminação) e também todos aqueles que, direta ou indiretamente estejam envolvidos em construções e reformas das obras das Igrejas e demais pessoas interessadas.

A organização da semana estima a participação de cerca de 250 pessoas pertencentes às Dioceses do Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Informações e inscrições pelo telefone (44) 9817-1299, com Ângela, ou pelos e-mails lainoarquitetura@oi.com.br e espacoliturgico@diocesedeumuarama.org.br.

A programação do evento iniciará na segunda-feira, dia 20 de agosto, às 17h, com o credenciamento e acomodação dos participantes. No dia 21, as atividades iniciam às 9h com a apresentação dos participantes. Logo após haverá a celebração da santa missa. No turno da tarde será realizada a palestra "O sagrado como linguagem e fundamento de todo trabalho na arte sacra", proferida por Cláudio Pastro.
Já no dia seguinte, dia 22, o dia começará com a celebração eucarística, às 7h30min. E o ponto forte do dia será a palestra sobre "Mesa do sacrifício e banquete pascal, ponto de convergência de todas as linhas do espaço litúrgico", proferida pelo padre Gustavo Haas. Na quinta-feira, dia 23, a palestra do dia será dada por dom Ruberval Monteiro da Silva sobre "A linguagem das linhas e cores dentro do espaço litúrgico".
No dia 24 de agosto, sexta-feira, o padre Claudemir Afonso Caprioli e a arquiteta Ângela Laino falarão sobre a "Arquitetura e Arte Sacra: a pedra que fala". Um momento marcante neste dia será a visitação às paróquias da comunidade (a serem definidas ainda), a partir das 14h. O debate sobre as visitas e a exposição dos trabalhos acontecerá às 20h.

No último dia do encontro, 25, o padre Claudemir Caprioli apresentará a palestra "A implantação da Comissão Diocesana de Arte Sacra". Haverá ainda uma partilha das dioceses e avaliação do encontro, com a escolha da diocese para o III Encontro Regional de Arquitetura e Arte Sacra de 2014. O encerramento se dará ao meio dia com o almoço de confraternização.
Por fim, os coordenadores do evento destacam que no mundo contemporâneo percebe-se que as pessoas perderam o sentido do sagrado, e, portanto, tudo passou a ser permitido, e assim as pessoas precisam reencontrar o seu norte, sua meta, seu eixo, para reencontrar sua fé cristã. Somente em Cristo, por Ele e nEle, podemos repousar nosso olhar e redirecionar nossa humanidade na "Beleza que tudo Salva". (JSG)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Pop arte sacra

Uma entrevista com Rodolfo Yamamoto  

(e a controversa mentalidade do setor educativo Museu de Arte Sacra)* grifos meus

Tory Oliveira - Carta Capítal



Rodolfo Yamamoto, coordenador do setor educativo do Museu de Arte Sacra, afirma que o espaço não é uma extensão da Igreja Católica e discute a problemática dos centros culturais no centro de São Paulo. Foto: Katia Lombardo

Rodolfo Yamamoto Neves admite: arte sacra nunca foi seu métier. Ainda assim, desde 2011 o historiador de 33 anos formado pela USP é responsável pelo setor educativo do Museu de Arte Sacra (MAS) de São Paulo. Alocado dentro do Mosteiro da Luz, no centro, a instituição divide espaço com devotos do Frei Galvão e com uma ordem de freiras que ainda vivem em clausura no local. Mesmo assim, em fase de renovação, propõe-se a desempenhar um papel mais plural e questionador. Em entrevista a Carta Fundamental, sentado em uma das “conversadeiras”, bancos de madeira em frente às janelas do mosteiro utilizados antigamente por religiosos, o historiador especializado em gestão cultural reafirma que o Museu de Arte Sacra não é uma extensão da Igreja Católica, fala da busca por novas linguagens e problematiza a instalação dos centros culturais na região. “Queiram ou não, os museus são um problema para quem mora aqui.”

Carta Fundamental: Em janeiro, painéis grafitados por artistas contemporâneos foram afixados na fachada do museu. É uma forma de dar uma cara mais moderna a ele?
Rodolfo Yamamoto Neves: O Museu de Arte Sacra está indo para o seu aniversário de 40 anos. Ele já está, faz um tempo, aberto ao público, mas pouco acontece. Em diversos aspectos, este museu é extremamente completo, mas subaproveitado. Hoje, a Secretaria de Cultura, em especial a -Unidade de Preservação de Patrimônio Museológico (PPM), tem uma visão interessante do setor educativo. Normalmente, são as áreas com os piores salários e que sofrem preconceito da própria estrutura em que se encontram. A PPM vê o educativo como um fator de mudança, a peça estratégica para tornar os museus brasileiros algo totalmente diferente. A coordenadora Claudineia Moreira Ramos me chamou e o Museu de Arte Sacra abraçou a ideia de transformar o educativo em um carro-chefe. Todas as ações que pensei até agora foram apoiadas. Algumas pessoas surpreendem, mostrando que o museu não deve ser analisado só pelo viés religioso, mas também pelos impactos culturais, pelo diálogo com a sociedade, pelo culto doméstico. A nossa dificuldade agora é a comunicação e o relacionamento. Por mais que seja estranho um educativo atuar nessas duas áreas, é preciso lembrar que não adianta fazer um bom trabalho se as pessoas não souberem que ele existe. Dessa forma, o educativo precisa garantir e também firmar parcerias para que as relações sejam de longo prazo. Não é só uma questão de a gente aumentar o nosso público: este é um museu que consome verba pública e tudo o que envolve dinheiro público tem de ser de final público.

CF: A chamada arte sacra foi um gênero dominante no Brasil pelo menos até o século XIX. Há a impressão de que ela é pouco valorizada no circuito tradicional de museus e exposições. Por que isso acontece?
RYN: Quando converso com agências de turismo escolar, sempre pergunto por que não somos tão procurados quanto a Pinacoteca. Normalmente, a resposta é que eles têm um acervo mais variado e não há o fator religioso. E existe essa coisa de sofrimento, gente crucificada, imagens com muita dor, muito peso. As pessoas sempre olham desconfiadas e, muitas vezes, chegam aqui e se surpreendem. O educativo tem tentado fazer releituras do acervo, do papel do negro, do papel da mulher e também tem buscado adquirir coisas modernas. É um grande desafio.

CF: Como atrair um novo público, especialmente o jovem, para o Museu de Arte Sacra?
RYN: Nós temos buscado novas linguagens, por isso o grafite, o estêncil. Primeiro, no formato externo e na aparência, tentar conseguir mais sintonia com eles. Uma vez que consigamos trazê-los para dentro, queremos adequar nossa linguagem sem perder o foco do conteúdo. O objetivo do museu é gerar inquietações – o jovem vem pelo grafite e sai se perguntando o que é arte. Esse é o nosso objetivo, o que pode trazê-lo de volta.

CF: O que o professor pode explorar a partir de uma visita ao Museu de Arte Sacra?
RYN: Para a aula de Artes, o acervo fala por si. A Literatura construiu também muito do imaginário, por exemplo, Goethe, com Fausto, ou Dante Alighieri, com A Divina Comédia. Como isso impacta no imaginário? Como esse diálogo entre Literatura e Arte acaba criando nosso imaginário sobre Céu e Inferno, sobre bom e ruim, sobre o Universo? Também temos muitas possibilidades em História, pois esse mosteiro é um testemunho histórico do desenvolvimento da cidade e trabalhamos com visitas temáticas nesse sentido. Em Geografia, podemos estudar formação das cidades, porque São Paulo cresceu em torno desse prédio, que ficou como testemunho.

CF: Uma pessoa que não se interessa por religião pode ter uma visita proveitosa?
RYN: Claro, ele pode vir aqui para observar o aspecto estético das nossas peças, as questões históricas das construções, a economia que é ligada às técnicas. Há uma série de oportunidades para discutir a formação da cidade, as opções são múltiplas. O que a gente precisa é que todos que não sentem que o Museu de Arte Sacra oferece algo venham e procurem nos falar isso. A gente sempre vai procurar desenvolver trabalhos e novas visões para tornar o museu cada dia mais plural.

CF: O museu está alocado em um edifício com relevância histórica, como você mesmo disse, é uma testemunha das transformações da cidade. Como trabalhar a história de São Paulo a partir desse espaço?
RYN: O mosteiro tem um tipo de construção rara. Um dos nossos salões está preservado para que se possam observar as técnicas construtivas e, a partir delas, discutir a economia que existia a princípio e depois com a chegada do café. Você pode discutir também que o bairro se chama Luz por causa da estátua que temos aqui, a Nossa Senhora da Luz. É possível falar também do impacto que a Estação da Luz causou na cidade, da Sorocabana ou de como uma cidade de 20 mil habitantes passou a ter quase 2 milhões em 50 anos. Um tema importante é falar dos movimentos xenófobos que temos aqui contra migrantes numa cidade construída justamente por gente que migrou em situações bem complicadas. Hoje, o descendente de italianos pode olhar feio para o boliviano, mas a gente leva o aluno ali até a pintura do Benedito Calixto (Naufrágio do Sírio, de 1907) e mostra um evento que causou várias baixas na comunidade italiana. Mas onde ficavam os imigrantes? No porão, porque muitos não tinham dinheiro para pagar a viagem inteira, pagavam por fora, daí o capitão andava próximo da costa etc. Existem diversos ganchos na estrutura e no acervo para discutir a formação da cidade e sua população.

CF: O Museu de Arte Sacra localiza-se dentro do Mosteiro da Luz. Como trabalhar para que o espaço cultural não se transforme em uma extensão da Igreja Católica?
RYN: Esta é uma das partes mais difíceis na percepção do público. Muita gente que não é católica não quer vir porque acha que existe um trabalho de catequese. Como a igreja está aberta, o corpo do santo (Frei Galvão) está aqui na capela, tudo se torna muito confuso, nebuloso. Da nossa parte, temos investido em ações como o Entorno MAS, a ação do grafite. (veja aqui toda a polêmica do Entorno MAS +) Estamos buscando a sociedade, por isso existe um núcleo de comunicação e relacionamento. Apesar de se tratar de um grande acervo católico, dentro de um mosteiro, não é necessariamente uma extensão da Igreja. Temos uma abordagem questionadora, que tenta oferecer mais caminhos para o visitante, seja ele religioso ou não, -para que possa olhar uma peça sem se sentir forçado a se converter.

CF: A última exposição em cartaz, Benedito das Flores e Antonio do Categeró, apresentou 170 esculturas de dois santos negros. Como o museu procura trabalhar a ideia do sincretismo religioso?
RYN: Para nós, é importante mostrar as influências e as forças culturais da sociedade, mostrar que os processos de dominância não são tão simples e ingênuos como muitas vezes se imagina. Você pode encontrar culturas que são vistas apenas como oprimidas e dominadas, mas que também têm esse poder de influência.

CF: Quais são os principais expoentes da arte sacra presentes no museu que podem ser interessantes para o professor?
RYN: Temos a coleção do Aleijadinho, que é uma referência muito grande para todos. Temos peças também do Mestre Valentim e do Benedito Calixto. Este é interessante porque temos o tridimensional na escultura e o bidimensional na pintura. Também é possível abordar a São Paulo antiga e discutir a imigração italiana em várias peças, como as representações em tela, algumas do Benedito.

CF: Há espaço para outras artes sacras, além da católica, no museu?
RYN: Em 2011, tivemos reuniões para decidir se vamos ou não mudar o acervo. Pelo menos queríamos fazer uma exposição neste ano ou no ano que vem chamada Caminhos. A ideia seria justamente conversar com monges budistas e pastores para conseguir Bíblias evangélicas etc. É do nosso interesse criar diálogos e, mais para frente, até mudar nossa política de aquisição. Isso ainda está em debate, não é simples, pois há uma linha de décadas e décadas e não podemos mudar assim no impulso do momento.

CF: A região da Luz passa por uma série de intervenções. Que ações estão sendo feitas no museu para também se revitalizar?
RYN: O termo revitalização é ruim porque vida não falta aqui. Há uma série de erros feitos na região que se perpetuaram e criaram esta situação. E a infelicidade é que os museus do Centro, quer queiram, quer não, acabam participando desse processo truculento. A cultura tem um aspecto democrático, que é quando a sociedade pode disputar o que é ou não valor cultural. Mas tem um aspecto muito antidemocrático: pode ser geradora de consensos. Então, por exemplo, se eu tirar você da sua casa porque quero ganhar dinheiro, serei criticado. Agora, se eu vou tirar porque vou fazer um centro cultural, tudo bem, porque é cultura. O discurso dilui os conflitos reais, os museus daqui tiveram um impacto na valorização fundiária e o Estado, desde a década de 1990, financiou esses museus sempre com discursos instrumentalizadores da cultura. A cultura traria revitalização e, depois, requalificação da Luz. Atrairia uma classe média espontaneamente etc. Como isso não aconteceu, a coisa tomou outro rumo. Os museus, por mais que as suas equipes não tenham a intenção de fazer mal, são um problema para quem mora na região. Por isso, torna-se nossa responsabilidade ter ações voltadas para esses públicos. Estamos procurando as comunidades do entorno, buscando parcerias, tentando servi-los com o máximo das nossas capacidades para tentar conter os danos dessa política confusa.


Uma esperança para a música litúrgica no Brasil

Não é novidade para ninguém que a liturgia no Brasil sofre uma crise sem precedentes, especificamente no que concerne à observância íntegra dos ritos sagrados. Talvez o aspecto que mais salte aos olhos (ou aos ouvidos) dos fiéis e que denuncia a decadência da sacralidade litúrgica é a qualidade musical. Em nome de diversos pretextos, que não convém serem listados aqui, as lideranças da Igreja no Brasil adotaram como que um caminho de relaxamento e empobrecimento da beleza musical, e de total desprezo pela tradição milenar de uma música mais sóbria e sacra.
É bastante patente que a música litúrgica popular no Brasil se tornou um fator mais lúdico do que sacramental; mais dispersivo do que compenetrante; mais extravagente do que discreto; e mais emotivo do que teológico. Hoje essa realidade se tornou norma universal no Brasil; quando não defendidas explicitamente por alguns “liturgistas” de laboratório, ao menos na prática já se proliferou em praticamente todas as paróquias Brasil afora. Mas esse cenário pode mudar em breve.






Em Campinas, em meio a uma situação nada distante da descrita acima, eis que começam a brotar os primeiros frutos de um empenho da parte de pessoas que vem lutando para a promoção de um repertório litúrgico verdadeiramente sacro e em consonância com a espiritualidade que a Igreja e a Tradição Apostólica nos pedem.

O CEMULC (Curso de Extensão em Música Litúrgica de Campinas) é o primeiro curso de formação litúrgica regular que se tem notícia no país. Não é apenas um pequeno curso de música, aos moldes dos que estamos acostumados a ter notícias, que tão somente reúnem os fiéis para aprender novas melodias de gostos duvidosos, mas trata-se realmente de uma escola de música, com duração de três anos, em que são ensinados todos os princípios para se formar músicos competentes. O curso inclui na sua matriz disciplinar as matérias de Apreciação Musical, Canto Coral, Canto gregoriano, Estruturação Musical (Teoria Musical, Solfejo, Percepção Musical, Harmonia e Análise Musical), História da Música, História da Música na Liturgia, Iniciação à Composição, Liturgia, Pastoral da Música Litúrgica, Regência, Pedagogia e Didática Musical, Religiosidade Popular e Liturgia, Salmos e Cânticos Bíblicos, Sonorização para a Liturgia, além dos cursos específicos dos seguintes instrumentos musicais: Teclado, Órgão, Violão, Violino, Flauta-doce, Flauta-transversal e Canto.





O objetivo do curso é formar lideranças em toda a arquidiocese, preparando os fiéis leigos de cada paróquia a dominarem não apenas a técnica musical, mas a formarem uma bagagem sólida e esclarecida no conhecimento do mistério sagrado a que são chamados a colaborar dentro da liturgia. São abordados temas que escapam ao que é oferecido atualmente pela maioria dos cursos regulares, como a evolução orgânica do canto dentro da história da Igreja, o estudo das sensações e contemplações que a música é capaz de oferecer (em contraste com a euforia que se vê tão comumente dentro do culto sagrado), um estudo das partes da missa que não fuja das determinações do Missal Romano, bem como a importância e necessidade de se seguir o ritual prescrito pela Igreja como forma de se conservar a fé e a própria história da Igreja de todos os tempos como sagrado tesouro da fé.
Todos os professores do curso possuem formação superior nas áreas que lecionam no curso, que desde sua fundação, em 2007, já contou com a matrícula de 1089 alunos das diversas paróquias da Arquidiocese. A primeira turma a concluir o curso, com 190 formandos, celebrou sua formatura em 03. 12. 2009, em cerimônia solene e precedida pela Santa Missa cantada pelos formandos do curso e celebrada por D. Bruno Gamberini, arcebispo metropolitano de Campinas.
Desde sua existência, o CEMULC também tomou por função, a pedido do Arcebispo, cuidar da música para a Missa Solene de Corpus Christi, realizada no centro da cidade. Nesta ocasião, todos os alunos dos três anos são preparados para tomar parte num grande e majestoso coro para o enriquecimento desta importante celebração da cidade, com uma participação de uma orquestra de instrumentistas convidados.



O diretor geral do curso, Clayton Júnior Dias, é o responsável pelo setor de Música Litúrgica da Diocese de Campinas, e faz parte da Comissão Regional de Liturgia do Regional Sul 1 da CNBB. Clayton é graduado em música com especialização e canto erudito e regência e, juntamente com a administração do CEMULC, está trabalhando na confecção de uma coletânea de Hinários litúrgicos para a Arquidiocese. Pouco a pouco as paróquias têm passado a adotar estes hinários como modelo ou mesmo na íntegra para o repertório a se utilizar nas celebrações. Dessa forma o curso tem se mostrado bem-sucedido no objetivo que se propõe de agir como um multiplicador de bons formadores musicais.
Outra contribuição extraordinária do curso, e que mereceria um artigo a parte, é a fundação do Coral da Arquidiocese de Campinas, formado em sua maioria por estudantes do curso. Atualmente o coral é designado para cantar nas missas solenes a pedido do Arcebispo, atuar nas paróquias em que são convidados em ocasiões especiais, promover recitais de música sacra durante o ano, e gravar os CD’s com as músicas do Hinário Litúrgico. No último dia 15 de agosto, Vigília da Assunção de Nossa Senhora, o coral comemorou seu 2º aniversário de existência cantando em uma missa na Catedral da Sé, São Paulo, a convite de Dom Frei João Mamede, Arcebispo Auxiliar de São Paulo.


As peças cantadas pelo coral são em sua maioria de origem estrangeira, uma vez que o repertório nacional não apenas peca por estética, mas também por faltas graves ao texto exigido para os ritos sagrados. Assim, a solução para o coral tem sido adaptar composições de grandes e respeitados liturgistas, como Mons. Marco Frisina, Mons. Valentino Miserachs, Pe. Antonio Parisi, (Itália), Pe. Cartageno, Pe. Manuel Luís (Portugal), Pe. Gelineau, Jean Paul Lécot, Jacques Berthier e Lucien Deiss (França), entre outros de renome. O repertório utilizado para a missa de Corpus Christi desse ano e dos dois anteriores conta com peças do Pe. J. P. Lecót, como o belíssimo Gloria in excelsis Deo e o Credo, da "Missa de Lourdes".
Também há um trabalho de resgate do canto gregoriano, trazendo-o de volta ao seu lugar na celebração eucarística, de onde nunca deveria ter saído. Dentre algumas peças já ensaiadas e cantadas pelo coral, destacam-se o Veni Creator (em missas crismais e de Pentecostes), Attende Domine (como ofertório para a Quaresma) e Regina Caeli (como canto final para as missas na Páscoa).
Muitas das peças que o coral utiliza estão incluídas nos fascículos já lançados do Hinário Litúrgico da Arquidiocese. Alguns liturgistas já consideram este trabalho como superior ao próprio Hinário Litúrgico da CNBB.

Eu, como aluno do CEMULC e integrante do Coral da Arquidiocese, sinto-me honrado em acompanhar esse belíssimo trabalho em prol de uma liturgia verdadeiramente bela e digna. 
Alguns vídeos podem ser encontrados no meu canal pessoal: www.youtube.com/user/Zakatos. Note-se que há outros corais, também de Campinas, contribuindo para popular a lista de contribuições do canal.
Em breve o Coral da Arquidiocese terá o seu próprio blog, onde se pretenderá divulgar os locais das celebrações próximas, bem como as gravações dos vídeos do repertório cantado, e o download das partituras.
Creio que posso falar, em nome de toda a diretoria do CEMULC, que desejamos ardentemente que esse trabalho, ainda que em seus primeiros passos, possa inspirar outras pessoas a buscar um maior empenho no conhecimento, estudo e formação musical, para que possamos adorar a Deus em espírito e em verdade, contribuindo para um culto eucarístico verdadeiramente santo e agradável a nosso Senhor.

Arte sacra em Barueri - SP

Com entrada gratuita, a mostra pode ser vista até 8 de maio, de terça à sexta-feira, das 9h às 17h; sábados, domingos e feridos, das 10h às 16h
O Museu Municipal de Barueri (SP) recebe até 8 de maio (terça-feira), a exposição “A Arte Sacra na Terra dos Bandeirantes”. O acervo apresentado é oriundo das coleções de Rafael Schunk e Joaquim Pereira Antunes Filho, revelando produções artísticas do período bandeirista, barroco até a contemporaneidade. Estes trabalhos, de culto coletivo ou doméstico representam a diversidade da arte sacra produzida em terras de bandeirantes, índios e jesuítas. Algumas pinturas de tradição cusquenha propõem enfatizar a ligação e intercâmbio de São Paulo com os castelhanos da América Espanhola desde os tempos pioneiros.
Em princípios do século XVIII, com o surgimento do ciclo do ouro, migração de populações e mão-de-obra para as regiões auríferas, a arte barroca brasileira atinge seu apogeu em Minas Gerais. Nesse período, em São Paulo, as grandes imagens padroeiras dos templos paulistas foram importadas de Portugal ou do Nordeste, como podemos atestar os oragos retabulares das igrejas Ituanas, nos conventos da Baixada Santista ou Planalto. Na coleção de Schunk e Joaquim Antunes o século XVIII destaca os fragmentos arquitetônicos das velhas matrizes paulistas, demolidas ou reformadas ao longo dos anos. As talhas do acervo são provenientes da Matriz de Taubaté, Pindamonhangaba, Basílica Velha de Aparecida e Bananal. Serão apresentados oratórios, tocheiros e palmas de altar originários do Vale do Paraíba e Tietê. Os testemunhos barrocos paulistas foram amplamente estudados nos livros Igrejas Paulistas Barroco e Rococó e Barroco Memória Viva do professor Dr. Percival Tirapeli, IA-UNESP.  
Em meados do século XIX surge o ciclo do café, as atenções econômicas e sociais retornam para o Estado de São Paulo. Impulsionados pelo “ouro verde”, a arte religiosa paulista segue em dois paralelos: o gosto neoclássico dos salões do baronato cafeeiro ligado à corte imperial carioca; e a produção santeira de padrão arcaísta, voltada ao culto popular e doméstico. Nesta época surgem às imagens “paulistinhas”, em sua maioria, santos de barro cozido ou semi-cozido feitos em bases cônicas e confeccionados nas oficinas artesanais espalhadas por todo Vale do Paraíba. Desta época destacamos a obra do artista Benedicto Amaro de Oliveira (1848-1923), o “Dito Pituba”, nascido em Santa Isabel-SP, e considerado um dos maiores santeiros populares do Brasil. Seu trabalho, conforme relato do pesquisador Eduardo Etzel, era encontrado até pouco tempo nos oratórios e casas simples do homem no campo, entre as velhas estradas que interligavam Santa Isabel à Mogi das Cruzes, Itaquaquecetuba, Guararema, Arujá, Igaratá, Nazaré Paulista e Jacareí. O trabalho de Dito Pituba representa a cultura caipira como desdobramento da sociedade bandeirista e pode ser admirado em grandes instituições, como o Museu de Arte Sacra de São Paulo ou de Antropologia no Vale do Paraíba.
O percurso da exposição resgata produções sacras dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI, desde surgimento do barroco paulista até suas ramificações na cultura caipira, permanência de arcaísmos até a modernidade. Reconstituímos através de fragmentos altares barrocos: peanhas, talhas e imagens compondo uma ambiência religiosa que envolve o espectador.
Como síntese, esta exposição revela nossas tradições, de caráter didático e memorial, enfatizando obras de grandes escultores, mestres ou anônimos, da produção religiosa conservada em território paulista, contribuindo para a valorização do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Serviço:
Período: até 8/5/2012
Local: Museu Municipal de Barueri (av. Henrique Gonçalves Baptista, nº 359)
Horário: de terça à sexta-feira, das 9h às 17h; sábados, domingos e feridos, das 10h às 16h
Informações: (11) 4198-5975

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Colégio Marista Dom Silvério abre espaço para exposição de arte

 Colégio Marista Dom Silvério abre  espaço para exposição de arte
O Colégio Marista Dom Silvério, por meio do Serviço de Arte e Cultura, com o apoio do Centro de Estudos Maristas, abriu oficialmente a exposição “Arte Sacra em Policromia Barroca”. Estão expostas no Hall de entrada da escola 27 obras da Artista Plástica, Néia Lima. São imagens de santos, entre eles a Pietá (Nossa Senhora da Piedade), Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Nazaré, Santo Antônio, São Francisco de Assis e ainda um oratório romano e penha com anjos.
Apaixonada pela arte sacra, que descobriu em Mariana/MG, Néia Lima ingressou no mundo da arte, e se especializou em policromia barroca. De passagem pela Maison Escola de Artes, em Belo Horizonte, desenvolveu seus estudos de desenho artístico e também suas habilidades para executar trabalhos em escultura, orientada pela artista Belkiss Diniz. A partir daí, passou a modelar as próprias peças com fino acabamento e expressiva originalidade.

Néia Lima, artista plástica
Néia Lima, artista plástica

A aplicação de folhas de ouro, herança dos períodos Barroco e Rococó, também é incorporada ao contexto da policromina em suas obras, que ganharam visibilidade em diversas exposições coletivas, realizadas em Belo Horizonte e São Paulo.
E, agora, pela primeira vez, o colégio Marista Dom Silvério realiza esta mostra individual, que estará exposta até o dia 15 de junho. Néia Lima agradeceu a oportunidade. “Estou muito feliz por realizar este trabalho, que significa o resgate de uma técnica do século XVIII, mas com o olhar do nosso século”, destacou. O Professor Paulo de Tarso, Diretor do Colégio, parabenizou o trabalho da artista. “É com muita satisfação que abrimos nossa escola para uma exposição tão significativa como essa, a primeira de uma série”, declarou.


Colégio Marista Dom Silvério 
Rua Lavras, 225 - Bairro São Pedro
CEP 30330-010 - Belo Horizonte - MG
Fone: (31) 2125-0300
Fax: (31) 3225-4762

domingo, 22 de abril de 2012

Cabeça de santa que supostamente chora sangue é arrancada - Igreja entre MG e SP foi invadida na madrugada deste domingo (22).

Imagem de Nossa Senhora das Dores foi única a ser quebrada na paróquia.


Criminosos quebraram imagem e levaram a cabeça (Foto: Reprodução EPTV)Criminosos quebraram a imagem e levaram a
cabeça. (Foto: Reprodução EPTV)
Fiéis de uma paróquia que fica na divisa entre Poços de Caldas (MG) e Águas da Prata (SP) foram surpreendidos na manhã deste domingo (22) ao verem a imagem de Nossa Senhora das Dores com a cabeça arrancada. Há um pouco mais de uma semana, os devotos acompanhavam a santa que supostamente chorava lágrimas de sangue.
A invasão aconteceu durante a madrugada deste domingo. A suspeita é de que criminosos pularam o muro e invadiram o salão de festas onde teriam conseguido um pedaço de madeira para arrombar a porta lateral. Entre as mais de 15 imagens guardadas dentro da igreja, apenas a de Nossa Senhora das Dores foi encontrada quebrada. A cabeça foi levada junto com o dinheiro de um cofre.

A notícia foi dada momentos antes de uma missa que aconteceria na igreja Nossa Senhora Aparecida e São Roque. Ao receberem a notícia, alguns fiéis passaram mal. Uma menina precisou ser carregada.
O pároco da igreja onde a santa estava exposta, padre Celso Lucas da Silva, disse que estava muito abalado com a destruição da imagem, mas mesmo assim decidiu manter a missa, que foi marcada pelas lágrimas dos devotos.
A Polícia Civil de Águas da Prata vai investigar o caso. Ainda não existem suspeitos.

Lágrimas de sangue
Fiéis acompanham santa que supostamente chora sangue. (Foto: Reprodução EPTV)Imagem da santa antes de ter a cabeça
arrancada. (Foto: Reprodução EPTV)
Há uma semana, fiéis lotam uma paróquia que fica na divisa entre Poços de Caldas e Águas da Prata para acompanhar uma imagem de Nossa Senhora das Dores que supostamente chorava lágrimas de sangue. A imagem foi comprada em Aparecida (SP) e já estava na paróquia há cerca de dois anos e meio.
Segundo os devotos, as primeiras lágrimas eram transparentes, mas agora o rosto estava manchado de vermelho com um líquido semelhante a sangue. A imagem estava guardada em uma pequena sala onde esperava para ser devolvida à capela de São Roque da Fartura, distrito de Águas da Prata. Porém, devido ao fenômeno, a imagem permaneceu no altar da igreja de Nossa Senhora Aparecida e São Roque, onde está protegida por uma redoma de vidro.

O bispo de São João da Boa Vista (SP), Dom Davi Dias Pimentel, foi comunicado e orientou para que a imagem continue exposta para os fiéis. O fenômeno ainda não tinha passado por nenhuma análise científica.

Cidades mineiras disputam imagem de São Francisco de Paula

Divinópolis diz que emprestou a peça sacra, mas Pitangui afirma ter recebido uma doação






Uma imagem de São Francisco de Paula foi transformada em estopim de uma verdadeira “guerra santa” travada entre Divinópolis e Pitangui, no Centro-Oeste de Minas. A briga para saber quem é o verdadeiro dono da peça sacra dura mais de 10 anos e não tem previsão para acabar. Representantes das duas cidades garantem que estão aptos a cuidar e oferecer segurança a imagem de devoção, cuja autoria e data em que foi esculpida são desconhecidas. Em meio à discussão, os municípios chegaram a oferecer, um ao outro, uma cópia da imagem. No entanto, nenhum deles tem interesse em mostrar aos fiéis uma réplica no lugar da original. Dessa forma, o impasse continua sem solução.

A imagem do santo padroeiro dos marinheiros, que antes ficava na Paróquia Divino Espírito Santo, em Divinópolis, foi entregue ao Instituto Histórico de Pitangui em 1974. Na época, o bispo dom Cristiano Portela considerou necessário dar um lugar seguro às relíquias das paróquias vinculadas à diocese. Imagens e vários objetos de cidades do Centro-Oeste foram entregues a Pitangui, a fim de se criar um Museu de Arte Sacra na região. A polêmica começou quando a cidade de origem quis a peça de volta e teve o pedido negado. A justificativa dos atuais responsáveis por São Francisco de Paula é de que a escultura está em um lugar seguro, onde dificilmente sofrerá ações de vândalos ou será roubada.

Dirigentes do Instituto Histórico de Pitangui garantem que o São Francisco de Paula – esculpido em madeira, com 85 centímetros de altura e 33cm de largura – foi doado ao município pela Paróquia Divino Espírito Santo, e não emprestado. O vigário-geral da Diocese de Divinópolis, monsenhor José Carlos de Souza, contradiz essa afirmação: “O documento que temos fala que a imagem foi entregue para ser incorporada ao acervo do museu, e não doada. O bispo não poderia doar – como não doou – a imagem, uma vez que ela pertence à igreja e não a uma pessoa específica. Isso iria contra as próprias leis canônicas”, diz.

Monsenhor Souza ressalta que o maior agravante nessa história é que o Instituto Histórico de Pitangui conseguiu o tombamento municipal da peça há cerca de dois anos, mesmo sem a autorização da igreja. “A imagem foi emprestada para fazer parte do acervo do Museu de Arte Sacra. No entanto, ela foi tombada e faz parte do acervo do Museu Histórico de Pitangui. Na minha opinião, você só pode tombar algo que é seu, e a imagem não é deles. Na época, chegamos a fazer um documento dizendo que éramos contra esse tombamento, mas o texto foi desconsiderado”, afirma.

O vigário-geral de Divinópolis conta que a imagem tem grande importância para os católicos da cidade. Ele lembra que em 1767 foi erguida a primeira capela no município, que recebeu o nome de Divino Espírito Santo e São Francisco de Paula. A pequena capela, onde o santo ficava exposto, se tornou paróquia e é hoje a catedral de Divinópolis.

“Não estamos cultuando a imagem, e sim a tradição. Temos esse histórico de devoção a São Francisco de Paula na cidade, que tem sido resgatado, e por isso a importância de trazer a imagem de volta”. Monsenhor Souza acrescenta ainda que a cidade tem total condição de cuidar da escultura. “Eles não podem afirmar que a catedral não conseguiria oferecer condições seguras para obra, uma vez que não conhecem as condições que podemos dar. Eles tombarem a peça dificulta um pouco esse processo, mas não significa uma desistência. Já oferecemos a eles uma réplica no lugar da original, mas não aceitaram”, declara.

Doação

Fundadora do Instituto Histórico de Pitangui e professora universitária de história e antropologia Adelan Maria Brandão discorda da opinião do vigário-geral de Divinópolis. Ela confirma que a imagem foi uma doação e rebate: “Quando uma peça está em um museu, ela não é patrimônio de uma cidade. É patrimônio da humanidade. Cidades de toda região fizeram doações para o acervo e apenas em Divinópolis tivemos esse problema. Se todos que doaram algo para um museu começarem a pedir as peças de volta, não haverá mais um espaço para esse fim”, diz.

Por enquanto, a disputada imagem de São Francisco de Paula está sendo restaurada no ateliê do Grupo Oficina de Restauro, Belo Horizonte, junto com outras imagens do Museu Histórico de Pitangui. A sede, onde ficará o acervo, está sendo reformada. O casarão do final do século 18, onde viveu a lendária Joaquina de Pompéu, ficará pronto em seis meses. Com a obra finalizada, as 155 peças poderão novamente ser vistas pelo público.

Segundo o presidente do Instituto Histórico, César Miranda, o órgão pode oferecer mais segurança e condições adequadas de preservação da imagem. “O que podemos fazer é entrar em um acordo com Divinópolis e enviar uma réplica da imagem para eles. A maior parte das igrejas tem hoje réplicas das imagens, justamente por causa dos casos de furtos”, explica.

Enquanto Igreja e historiadores não definem quem vai ficar com a escultura, fiéis das duas cidades mantêm opiniões diversas. Devotos de Pitangui acreditam que, se a imagem está na cidade há quase 40 anos, não há motivos para retirá-la de lá agora. É o caso da dona de casa Rosângela Auxiliadora Ribeiro Costa, de 41 anos. Devota de São Francisco de Paula desde criança, ela acredita que levar a estátua seria um desrespeito aos católicos da cidade, que vêem na peça uma parte de seu passado. “Esta imagem faz parte de nós. Está aqui há tanto tempo e sendo tão bem cuidada. Por que querem levá-la embora?”, questiona.

A mesma opinião é compartilhada pelo motorista José Lopes Viana, de 69 anos. Católico fervoroso, ele também acha que Pitangui cuidará melhor do santo. “Aqui o espaço é feito para isso: cuidar das relíquias. É bobagem tirar a imagem daqui”, afirma. Já em Divinópolis, a conversa é outra: fiéis acreditam que a cidade precisa reivindicar a peça e colocá-la de volta no altar. Maria Auxiliadora Diniz, de 56, acredita que a volta de São Francisco de Paula seria um marco para os fiéis. “Ele é o segundo padroeiro da Paróquia do Divino Espírito Santo. Muitos devotos estão ansiosos para ver de perto essa estátua, que simboliza o início do catolicismo na cidade. Estamos nessa expectativa.”

Fonte: Estado de Minas

Igrejas de Niterói - RJ

Turistas e moradores não se cansam de admirar a beleza dos templos


Que Niterói recebe anualmente milhares de turistas de outros Estados e até de outros países, muitos já sabem. A beleza da orla, das praias, museus e teatros, fortes, fortalezas e parques não são os únicos pontos de visitação da cidade. As igrejas católicas de Niterói, que já chegam a quase 70, guardam uma enorme riqueza cultural que ajudam a remontar a história do Brasil. Nesta segunda-feira (23/04), um dos santos mais adorados pelos brasileiros, São Jorge, é festejado, e as igrejas ficam cheias.
Igreja de São Lourenço

No contexto histórico, A Igreja São Lourenço, no Ponto Cem Réis, é uma das mais antigas. Por ela, passaram nomes como os de Estácio de Sá, Mem de Sá e do Cacique Araribóia. Segundo historiadores, a igreja foi erguida em 1627. A princípio, existia uma capela cuja construção foi iniciada no século XVI pelo jesuíta Braz Lourenço. Um dos mais belos templos em estilo colonial do país foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Nela, tornou-se tradição todos os anos, no dia 22 de novembro, comemorar com missa o aniversário de fundação de Niterói. Nesta data, em 1573, o Cacique Araribóia, já então batizado com o nome de Martim Afonso de Souza, tomou posse oficialmente da sesmaria.

Capela SãoLourençodos Índios

Enquanto isso, em 1627, a Capela de São Lourenço dos Índios, no alto do Morro de São Lourenço, registrava seu batismo. Em 1769, foi construída uma nova capela mais sólida, de pedra e cal, substituindo a anterior, feita com paredes de taipa e coberta de palha como as ocas dos índios. Embora simples, a Igreja de São Lourenço dos Índios, que chegou a ser um cemitério, foi elevada à categoria de matriz. A Igreja de São Lourenço dos Índios, hoje tombada pelo Iphan, é a única relíquia no gênero, lembrando a sesmaria de Araribóia.
Em 1839, fundou-se, na enseada de Jurujuba, a Sociedade Amantes da Religião, com a finalidade de construir e conservar a Capela de Nossa Senhora da Conceição, para elevá-la à categoria de matriz. Foi construída na Praia da Várzea, ao lado de uma pequena casa conventual, restaurada e então doada ao Convento do Carmo.
Um ano depois, criou-se a nova freguesia, com o título de Nossa Senhora Conceição da Várzea. As obras da igreja ainda não tinham sido concluídas e já era instalada a paróquia, no ano de 1861. A paróquia teve sua sede transferida e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Jurujuba entrou em decadência. Seu teto desabou e só foi reformada em 1904.

Igreja Nossa Senhora da Conceição

Já a Igreja Nossa Senhora da Conceição foi por duas vezes a igreja madre de Niterói, desde 1819 até 1831. Em 1820, com a reformulação da Rua da Conceição, a igreja também passou por reformas, até que se perdesse o desenho original. A primeira Capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição foi fundada e construída pelo padre Antônio Correia com os fiéis devotos da santa, ainda por volta de 1663. Com terras doadas pelos herdeiros de Araribóia, foi matriz por um longo período, durante o qual abrigou a imagem de São João Batista, padroeiro da cidade, atualmente exposta na Catedral, que abriga o Museu de Arte Sacra.

Catedral de São João Batista

Segundo o presidente da Neltur, José Haddad, o turismo religioso e o interesse cultural em monumentos considerados históricos, representam grandes números de visitantes para a cidade de Niterói. Entre eles, as grandes festas religiosas que já entraram para o calendário da cidade como a Festa de Nossa Senhora de Fátima, no mês de maio, a de São Pedro e a do santo padroeiro da cidade, São João, ambas comemoradas em junho, a de São Judas Tadeu, em outubro e a de Nossa Senhora da Conceição, em dezembro.

O FLUMINENSE

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Católicos de São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central de Minas, organizam festa para receber escultura de cedro do século 18. Restauração revela riqueza de detalhes da imagem barroca




Uma imagem barroca, um trabalho de restauração de primeira e milhares de pessoas de braços abertos para receber de volta o santo padroeiro. O dia 28 será de festa em São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central do estado, quando retornará à cidade, depois de seis meses de ausência do altar-mor, a escultura de madeira de São Gonçalo do Amarante. A peça do fim do século 18, medindo 1,20m, 60cm de largura e 39cm de profundidade, “com certeza vai emocionar e surpreender os devotos”, acredita o restaurador Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro, à frente da equipe que retirou do objeto sacro camadas de tinta a óleo, preto e branco, e lhe devolveu a deslumbrante policromia original, com predominância dos douramentos. A autoria da peça é atribuída ao português Francisco Vieira Servas (1720–1811), responsável ainda pelos altares da Matriz de São Gonçalo.

Do ateliê do grupo, na capital, onde foi feito todo o serviço, a imagem seguirá, na próxima semana, para o município a 84 quilômetros da capital. Com larga experiência na área e trabalhos feitos em imaginária e retábulos de todo o país, Ramos se diz impressionado com a beleza da peça de cedro. Curiosamente, como ocorre com a maioria dos acervos de igrejas, ele explica, não havia cupins, embora apresentasse sinais de maus-tratos, a exemplo de repinturas inadequadas, feitas possivelmente no início do século passado, perda em alguns pontos, os quais estavam descascando, e até falta de dedos numa das mãos. “Foram quatro meses de trabalho e percebemos logo que se tratava de uma obra de arte. É um objeto de devoção para os moradores católicos e um tesouro para a comunidade.”

Na tarde de ontem, os restauradores Mauro Souza e Marçal Rosa davam os últimos retoques na imagem do santo, que, conforme a lenda, seria festeiro por excelência. “Sob o braço esquerdo, ele tem um livro, que estava todo pintado e foi recuperado, tendo de volta o vermelho da capa e o dourado das letras”, diz Ramos, lembrando que o cajado, seguro pela mão direita, foi igualmente recuperado e se apoia num orifício no chão. Um outro buraquinho na base denota que ali se apoiaria uma viola, que, conforme as lendas em torno da vida de São Gonçalo, simbolizaria o seu espírito festeiro.

“Enquanto fomos restaurando a peça, sentia minha forças e energia renovadas. É das imagens mais bonitas que já vi e espero que a população da cidade se emocione”, observa Mauro, lembrando que foram retiradas as tintas branca, da túnica, e preta, do manto, que desfiguravam a escultura que teve patrocínio da empresa Vale no restauro. “Felizmente, a madeira foi repintada e não raspada”, diz Adriano, que aponta na superfície dourada os “esgrafiados”, fruto de uma técnica sofisticada que consistia na aplicação de uma tinta sobre o folheado a ouro: “Antes de a tinta secar, o artista a removia formando os desenhos desejados”.

Campanha

Satisfeito e na maior expectativa como retorno, o titular da Paróquia de São Gonçalo, vinculada à Diocese de Itabira, padre Fernando dos Santos Andrade, adianta que haverá comemoração às 19h do dia 21, com missa, bênção e apresentação do coral Sagrado Coração de Jesus. Na ocasião, ele vai lançar a campanha para recuperar os altares da matriz, atribuídos a Servas – ele teve um ateliê em São Domingos do Prata – e estão cobertos de tinta branca.

O Grupo Oficina de Restauro já fez o projeto e Ramos, pelas prospecções feitas, está certo de que os elementos artísticos têm douramentos e marmorizados nos tons azul e rosa. “Vamos unir forças com a comunidade para levar o nosso objetivo adiante. Confiamos nas empresas para nos ajudar a valorizar o patrimônio”, diz padre Fernando. Para ele, a recuperação das peças sacras significa evangelização. “Desde o seminário, me preocupo com a preservação da arte sacra e temos aqui um acervo ímpar, além de alarmes nas portas e janelas para evitar furtos”, ressalta o pároco.

Santo festeiro e peregrino

São Gonçalo do Amarante nasceu no início do século 13, na aldeia de Ariconha, distrito de Guimarães, em Portugal. Filho de nobres, recebeu uma educação exemplar, norteada por um sacerdote. Já adulto, tornou-se também sacerdote e viajou em peregrinações religiosas a Roma, Itália, onde visitou os túmulos de São Pedro e São Paulo. Na sequência, visitou os lugares santos em Jerusalém. Mais tarde, fixou-se num lugarejo pouco habitado, hoje cidade de Amarante, à margem direita do Rio Tâmega, e por volta de 1250 construiu uma capelinha dedicada a Nossa Senhora da Assunção. Logo depois, São Gonçalo se refugiou como eremita e passou a viver em penitência e mortificações. Segundo a história, teria recebido uma visita milagrosa da Virgem Maria, que o aconselhou a entrar para o Mosteiro de São Domingos, em Guimarães.

Também está ligado à vida do santo o milagre da construção de uma ponte sobre o Rio Tâmega, que representava uma séria ameaça aos que se arriscavam a atravessá-lo. Durante o serviço, o santo “fazia rolar pedras enormes e delas extraia vinho para os operários”. É representado quase sempre com o hábito da ordem dominicana, tendo como atributos o cajado ou bordão de peregrino, livro, peixes nas mãos ou a seus pés e uma ponte ao fundo. Em algumas representações, especialmente nas esculturas, como a de São Gonçalo do Rio Abaixo, a ponte pode aparecer servindo como base.

As festas de São Gonçalo se destinam à resolução de problemas de casamento de mulheres velhas, esterilidade e colheitas. A dança é feita para se pagar uma promessa ou como recompensa para uma graça alcançada. As celebrações podem ser em qualquer época, dependendo da promessa – inclusive é comum aproveitar a noite de São João. Atualmente, em Minas, a festa de São Gonçalo continua em estado quase amortecido, sendo que alguns exemplos persistem especialmente ao norte do estado. Reza a lenda que o santo é festeiro, por isso mesmo tem ao seu lado uma viola.

Fonte: Estado de Minas
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