Igreja de Biribiri, tombada pelo Iepha, está degradada por infiltração. Empresa responsável pela edificação do século 19 contrata arquiteta para o restauro.
A comerciante Maria da Conceição Melo Ferreira, de 57 anos, foi batizada, fez a primeira comunhão, foi crismada e assistiu, durante anos, às missas na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Biribiri, distrito a 12 quilômetros de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e a 290 quilômetros de Belo Horizonte. No entanto, há pelo menos dois anos não pode entrar no santuário que frequentou desde a infância. Isso porque a capela, construída no século 19 e que pertence à Fábrica de Tecidos Estamparia S.A., está fechada e deve passar por grande reforma.
Houve uma reunião entre representantes da empresa, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), e a arquiteta e urbanista responsável pelo projeto de restauro Rafaele Bogatzky, para discutir a situação do templo, que, desde o fim de 2012, tem seu lado direito sustentado por escoras de madeira, tanto na parte externa quanto na interna. Segundo a assessoria do Iepha, esse escoramento foi uma medida preventiva e que o órgão vem acompanhando de perto a situação, não só do santuário como de toda Biribiri, já que o vilarejo é tombado pelo patrimônio histórico.
“Mesmo a igreja sendo de propriedade da estamparia, e é ela a responsável por sua manutenção e conservação, nenhuma ação pode ser feita sem a nossa ciência. Há uns 30 anos foi feita uma reforma, não muito grande, bancada pela própria fábrica, e com o nosso apoio. Estamos de olho no que está acontecendo lá. Não há risco de a igreja cair”, diz assessor de imprensa do Instituto, Leandro Cardoso.
O jornalista acrescenta que após o encontro em Biribiri ficou decidido que o Iepha vai fazer uma nota técnica sobre o estado do santuário, com recomendações para o Ministério Público, que, por sua vez, vai definir e assinar com a estamparia e estabelecer um termo de ajustamento de conduta (TAC). “A partir desse termo, será estabelecido um cronograma, além de prazos para a revisão e execução de escoramento adicional, caso necessário, um diagnóstico estrutural, um desenvolvimento de um projeto executivo, entre outros pontos. A reunião foi ótima em vários aspectos e há todo o interesse de preservar esse importante lugar que é Biribiri e todo o seu conjunto arquitetônico.”
O diretor da Estamparia S.A., Álvaro Luiz Palhares, informa que o maior problema da edificação é o telhado e água da chuva afetou outras estruturas, sobretudo a parede. “Como as telhas e a madeira são muito antigas, houve goteiras e infiltrações. Por isso, a necessidade das escoras. E tudo foi feito com aval do Iepha. Mas não acredito que haja risco de ela desabar.” Ele também avaliou o encontro como positivo.
Imagens
Tudo que havia dentro da Igreja do Sagrado Coração de Jesus – imagens de santos e outros objetos sacros, como castiçais, velas e bancos – levado para a sede da fábrica de tecidos em Diamantina, por questões de segurança, com exceção do órgão francês, que ainda não foi retirado porque exige mão de obra especializada. No início do ano, a empresa contratou a arquiteta e urbanista Rafaele Bogatzky para que elaborasse o projeto de restauro que seguisse todas as diretrizes do Iepha. “Tenho que seguir várias normas. É algo muito amplo e complexo”, destaca Rafaele, que deve entregar o projeto em breve.
Ela acrescenta que teve que fazer um levantamento completo da igreja e levantar informações que não são tão fáceis de conseguir, como documento de tombamento do imóvel, tombamento de Biribiri, fotos e dados sobre reformas anteriores. Por isso, a demora da conclusão da empreitada. “O principal problema da igreja é a estrutura da cobertura, que precisa ter o madeiramento substituído, assim como a troca de telhas. O precário estado de conservação da cobertura, com o rompimento do encontro de algumas peças de madeira, está sobrecarregando as paredes laterais, que ficam com a amarração comprometida. As rachaduras nas paredes permitem a infiltração de água de chuva, prejudicando o estado de conservação. O que será feito de imediato é um novo escoramento, o descarregamento do telhado e sua proteção com lona. Essa medida evitará sobrecarga na estrutura, até que as obras sejam iniciadas.”
Enquanto isso, moradores de Biribiri, como Conceição, seguem lamentando que o símbolo principal do bucólico lugarejo continue de portas fechadas. “As pessoas, as daqui e os turistas, têm um carinho todo especial com essa igreja. Se ela cair, Biribiri acaba. Ela representa todos aqui”, resume. Já o carpinteiro Nivaldo da Silva, de 46, contratado há dois anos para trabalhar na reforma do templo, mas até hoje só participou da colocação das escoras das paredes, não perde o hábito de fazer o sinal da cruz quando passa diante do santuário e não vê a hora de poder entrar nele novamente. “Teve uma chuva há duas semanas que destelhou várias casas. Um vento muito forte. A gente achou que a capela não resistiria. Mas Deus tem mantido essa igreja de pé. Ela é o cartão-postal desse lugar e temos que lutar por isso.”
Estilo feito de pedras nobres – A igreja do Sagrado Coração de Jesus é de 1876, mesmo ano da fundação de Biribiri, mas seu sino data de 1888 e o relógio, doado pela família real, é de 1890. Biribiri foi construída para abrigar uma empresa de fiação e tecidos, que hoje é a Fábrica de Tecidos Estamparia S.A. O projeto do santuário é do arquiteto inglês John Rose que introduziu elementos ecléticos e optou pela verticalidade de elementos decorativos neogóticos, como as rosáceas da fachada. Segundo historiadores, a igreja foi construída “com as melhores pedras do solo diamantinense”. Quase em frente à entrada principal, encontra-se o túmulo do senador Joaquim Felício dos Santos (1822-1895), um dos autores do Código Civil que vigorou até 2003.
Por Ana Clara Brant
Fonte: em.com.br / Defender
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