sábado, 22 de novembro de 2014

Cruz encontrada em Camaquã indica que índios aprenderam a forjar metais

Pesquisadores da PUCRS tentam recontar a história do artefato que teria ocupado o alto da igreja de São Miguel das Missões

Cruz encontrada em Camaquã indica que índios aprenderam a forjar metais Bruno Alencastro/Agencia RBS
Estudo metalográfico mostrou que a cruz pode ter sido feita na região das MissõesFoto: Bruno Alencastro / Agencia RBS
Uma cruz descoberta em Camaquã, no sul do Estado, está ajudando a comprovar que os jesuítas ensinaram os índios a trabalhar com metais. Está cada vez mais claro que o artefato encontrado por Édison Hüttner, doutor em teologia e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarani da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ocupou o campanário da Igreja de São Miguel das Missões, edificada no século 18.

Desde que a encontrou, em 2010, Hüttner trilha o caminho de pesquisa para comprovar a origem da enorme cruz de aço, que mede 2m24cm de altura por 1m11cm de largura.

Até o ano passado, as principais evidências históricas vinham dos livros e da comparação com a litografia realizada pelo médico pesquisador francês Alfred Demersay em 1846. Mas as pesquisas evoluíram. Exames metalográficos, coordenados pela professora Berenice Anina Dedavid, do centro de Microscopia e Microanálise da PUCRS, comprovaram que a cruz tem tudo para ter sido produzida dentro da redução de São Miguel das Missões. 

– As inclusões no metal mostraram que o aço da cruz tem composição química semelhante à terra e ao minério de ferro presentes naquela parte do Estado – explica Berenice. 
 
O professor Édison Hüttner com a cruz - Foto: Bruno Alencastro  
Com isso, de acordo com outro participante do estudo, o coordenador do laboratório de arqueologia da PUCRS, Klaus Hilbert, ficaria comprovado que os índios aprenderam as técnicas ensinadas pelo tirolês Anton Sepp, um intelectual multitalentoso que chegou às reduções jesuíticas no final do século 17 – seus relatos estão registrados em cartas. 
–  Os índios já tinham uma relação com a pedra itacurú (a mesma usada para construir a igreja), a usavam para fazer cerâmica e pintar o corpo. Com novas evidências de que a cruz foi feita lá mesmo na redução, podemos imaginar como a descoberta dessa técnica deve ter impactado os índios – afirma Hilbert. 

Hüttner também achou evidências em Camaquã. Um mapa de 1857 mostra a “praça da cruz”, a primeira referência de que o objeto já estava no local onde foi encontrada. A grande dúvida que permanece é quem a levou para o município e com qual motivação. 

– Não sabemos quem levou a cruz para Camaquã, mas que foi neste intervalo de 11 anos (entre a litografia de Demersay e a referência no mapa). Ainda vamos descobrir quem fez essa viagem –  resume, esperançoso, Édison Hüttner.
Fonte: Zero Hora

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