Igreja de São Pedro, no Encantado, está abandonada desde o fim dos anos 80. Foto: Rafael Moraes / Agência O Globo.
Uma árvore, quase tão alta quanto a única parede ainda de pé, cresce por dentro da Igreja de São Pedro, no Encantado. O imóvel, de 1934, cai aos poucos — para a tristeza do bairro devoto do padroeiro que tem as chaves do céu. Espremido entre a falta de dinheiro da paróquia e a burocracia gerada pelo tombamento no Instituto Rio Patrimônio Histórico (IRPH), padre Lélio Antônio, de 34 anos, busca uma solução.
— Os moradores me cobram quase todo dia. Mas eu estou tentando — conta.
O imóvel está fechado desde o final dos anos 80, pela condição deteriorada de conservação. Em 1996, a igreja foi tombada pelo município — e a responsabilidade para a conservação e restauro de todo bem nessa condição é do proprietário, no caso, a Arquidiocese do Rio, que foi procurada pela reportagem e não respondeu aos contatos. Padre Lélio diz que tem o apoio de Dom Orani Tempesta, cardeal-arcebispo do Rio, mas ele também não tem o dinheiro necessário.
Sino é a única peça histórica que resiste à destruição. Foto: Rafael Moraes / Agência O Globo
Em 2003, o então prefeito César Maia criou uma comissão especial para recuperar as igrejas históricas da cidade. No mesmo ano, o pároco da época entrou com um pedido na prefeitura para a restauração do templo no Encantado. O processo, que o EXTRA teve acesso, durou quatro anos até a Empresa Municipal de Urbanização (Rio Urbe) realizar um orçamento. O órgão calculou que o preço para a obra era de R$ 380 mil, à época.
“Considerando que a edificação tem representatividade perante a comunidade local (…), sugiro o encaminhamento à Rio Urbe para (…) elaboração de planilha orçamentária para recuperação de bem tombado”, escreveu Ísis Claro, arquiteta responsável pelo relatório, em 2006, da Secretaria Extraordinária de Patrimônio Cultural, hoje chamada de IRPH.
Fim da responsabilidade
Depois do orçamento realizado em 2007, a possibilidade de restauração esfriou. Só em 2012, a pedido do padre Lélio, houve alguma movimentação no processo.
Bancos da igreja deram lugares às árvores. Foto: Rafael Moraes
A assessoria do IRPH informou que, em 2009, a comissão especial foi extinta — no governo de Eduardo Paes. Por isso, o órgão não tem mais responsabilidade para a restauração de nenhuma igreja da cidade — mesmo em risco de desabamento, como a Igreja de São Pedro.
— É horrível vê-la assim. Toda a comunidade sofre. As senhorinhas lamentam porque casaram ali — lamenta Carla Rodrigues, 45 anos, batizada na São Pedro.
Força da comunidade
A igreja de São Pedro foi construída a partir dos esforços conjuntos do recém criado bairro do Encantado. “Esse é um processo inverso do normal. Se fazia a igreja para depois ter o bairro”, explica o historiador Luiz Antônio Simas.
Eclética
Simas explica que o estilo arquitetônico dela mistura referências: “Tem elementos medievais, renascentistas, da art déco. Outras igrejas do subúrbio são assim também”.
Nova igreja
Na década de 60, uma nova igreja foi construída do outro lado da rua do imóvel histórico para receber o número de fiéis que já não cabiam na histórica.
Em risco
A Defesa Civil do município já produziu quatro relatórios apontando riscos estruturais. O último é do primeiro semestre deste ano.
‘Preciso de apoio. Não conseguimos pagar’
Lélio Antônio, padre da Paróquia de São Pedro:
“O nosso sonho é pegar esse projeto que foi feito pela prefeitura, que já está pronto, para fazer a obra. Mas, mesmo assim, a gente não tem dinheiro sozinho. Preciso de apoio. Não conseguimos pagar. Queremos que a prefeitura separe algum dinheiro no planejamento para ajudar só a parte de fora. Por dentro a gente resolve. Ou então uma empresa apoiando também seria uma alternativa. Além de uma tristeza, isso está um perigo. A parede pode cair na rua e acertar alguém. Tomei a liberdade de tirar a imagem de São Pedro da torre com medo de ela cair. A única coisa original que ficou foi o sino de bronze, que os drogados sempre tentam roubar”
Por Bruno Alfano
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