O pintor que sobreviveu ao caos
Pestes, fome, invasões tártaras e mongóis foram alguns dos percalços pelos quais o país passou durante a misteriosa vida do pintor.
Andrêi Rubliov, o mais famoso pintor de ícones da história da Igreja Ortodoxa da Rússia, é conhecido não apenas pela população russa, mas também internacionalmente, principalmente após o lançamento, em 1966, do filme "Andrêi Rubliov", do diretor Andrêi Tarkóvski
O pintor criava ícones para príncipes e conventos, e trabalhou em Moscou, na cidade de Vladímir e Zvenigorod. Conquistando reconhecimento ainda em vida, um feito notável para artistas, ele não foi esquecido mesmo após a morte.
Seus trabalhos fizeram sucesso entre representantes das comunidades religiosas de velhos crentes e colecionadores, e seu nome continuou a ser considerado uma referência no mundo da arte mesmo no século 19, marcado pela queda da popularidade da arte religiosa, assim como na era soviética, ao longo da qual foi associado à cultura da Rússia medieval.
Em 1960, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) celebrou o 600o aniversário do artista. Naquele mesmo ano, foi inaugurado em Moscou o 'Museu de Cultura da Rússia Antiga Andrêi Rubliov'.
Biografia misteriosa
Foto: Press Photo
Apesar da existência de uma grande quantidade de livros e artigos referentes às atividades criativas de Andrêi Rubliov, sua vida pessoal permanece um mistério. Até hoje, historiadores conseguiram colher apenas informações básicas para a biografia do artista, que nasceu na década de 1360 e morreu em 1430.
Ao longo da vida, Rubliov presenciou muitos tumultos causados pelo domínio dos tártaros sobre a Rússia antiga. Esses arruinavam as cidades, destruíam templos e conventos e escravizavam a população nativa, enquanto os príncipes russos brigavam entre si pelo poder.
Além disso, em 1364 e 1366, pestes epidêmicas afligiram os moradores de Moscou e de Níjni Nôvgorod. Em 1365, a capital russa quase foi destruída por enormes incêndios e, em 1368, foi atacada pelos lituanos. Já em 1371, a fome assolou Moscou.
Não é difícil imaginar o caos e a desordem pelos quais passou esse artista. Infelizmente, porém, não existem registros quanto à vida de seus pais ou família.
O sobrenome 'Rubliov', porém, indica que o artista descendia das classes mais altas da sociedade medieval. A palavra, que deriva, provavelmente, do verbo "cortar" ou de um substantivo do russo antigo que descreve ferramenta usada no processamento de couro, sugerem também que seus ascendentes, ou até o próprio pai, exerciam essas atividades.
As primeiras referências ao nome do pintor são encontradas em crônicas de 1405 que referem-se a ele como membro do grupo formado por Teófanes, o Grego e Prokhor de Gorodets. O grupo teria sido contratado pelo Grão-Príncipe Vassíli Dmitrievitch para pintar os afrescos da Catedral da Anunciação do Kremlin.
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Rubliov era também monge, por isso seu primeiro nome, Andrêi, foi recebido após a tonsura no Convento da Trinidade, então administrado pelo Nikon Radonejski, discípulo do reverendo Sérgui Radonejski.
Referência em arte religiosa
O nome de Andrêi Rubliov tem ligação direta com as pinturas do interior da Catedral da Assunção, na cidade de Vladímir. Considerada então um dos principais templos da Igreja Ortodoxa Russa, a catedral escolheu melhores artistas para criar seus afrescos.
A catedral foi construída no século 12, mas seu interior foi destruído no século seguinte, em 1238, durante uma invasão de tártaros e mongóis. O Grão-Príncipe Vassíli Dmitrievitch ordenou a restauração do interior do templo Para eliminar os rastros de destruição dos inimigos.
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Em meados da década de 1420, Rubliov foi escolhido para chefiar os afrescos realizados na Catedral da Trindade, do Mosteiro da Trindade-São Sérgio.
Durante os últimos anos de sua vida, o artista viveu no Convento do Salvador e Andrônico, em Moscou, onde morreu. O tempo, porém, não poupou seus afrescos nas paredes da Catedral de Salvador.
Rubliov foi canonizado pela Igreja Ortodoxa Russa em 1988.
Publicado originalmente pela revista Nesckútchni Sad
Fonte: Gazeta Russa
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