A procura por novas obras é quase nula, principalmente pelo preço, que pode chegar a R$ 6.400.
Se você fechar os olhos por um momento, vai sentir a brisa balançar os cabelos em um vaivém cheio de ritmo, como se seguisse um compasso próprio. Num dia ensolarado, a pele arde lentamente e o cheiro da natureza, que insiste em vencer a morte, penetra pelos seus poros.
Há barulho, naturalmente, mas o bum-bum do seu peito e o farfalhar da sua respiração são os sons que
ecoam sem cessar quando tudo está apagado na mente de um ser de pálpebras fechadas. Você está vivo. E ali, no topo do Cemitério Municipal de Joinville, sente-se mais vivo do que nunca.
Com a visão aberta, os estímulos externos são igualmente intensos, porém mais bagunçados – como se houvesse uma simetria na perda que nos faz enxergar além do que vimos quando os anos não se findaram.
Bronze, mármore, granito e outros materiais não identificados formam uma tela poética que retrata a dor da morte de modo singelo e, ao mesmo tempo, extraordinário. Lágrimas negras compostas pelo encardido e o limo escrustados na pedra escorrem de anjos sem cabeças, Cristos sem braços, pássaros sem asas.
Em algumas lápides, a assinatura de quem se foi registra a identidade de uma mente que permanece vagando nas ideias passadas a outros por aqueles que um dia as possuíram. É quase uma marca na alma, um arranhão no espírito desses seres mutilados pelos percalços da vida. No mundo em que vivem os mortos, ouvir os ecos de quem costumavam ser dá a incrível sensação de paz. Que descansemos todos assim.
Marilu Catia Dalsasso, proprietária de uma das únicas marmorarias de Joinville que oferecem esculturas e lápides com um quê artesanal, conta que não chegou a fazer uma única venda das obras nos menos de dois anos em que o material entrou no catálogo da empresa. As peças personalizadas, esculpidas à mão, são o resultado de muito trabalho e talento do artista alemão Andreas Pomp, no ofício desde criança.
Por conta da importação, o alto preço se torna uma barreira para que os familiares adquiram as peças como homenagem aos que se foram. A falta de divulgação da oferta desses produtos também é apontada pela empresária como razão para a baixa procura.
— É muito difícil, no momento delicado da morte, que alguém procure por novidade. A família opta pela praticidade, por aquilo que seja limpo mais facilmente. Também não podemos ser muito agressivos na divulgação; vender túmulo é diferente de vender pia.
As esculturas de Andreas vêm da Alemanha até Pomerode. De lá, são distribuídas para as marmorarias conveniadas. Os valores variam entre R$ 2.500 e R$ 6.400 e, se já estiverem no Brasil, são instaladas em até dez dias.
— O custo é mesmo alto, considerando que, hoje, você paga R$ 3 mil em um túmulo completo e de excelente qualidade. No entanto, se a família quiser exclusividade, o trabalho é lindíssimo e vale a pena.
Por Tuane Roldão
Fonte: Zero Hora
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