sábado, 9 de novembro de 2013

Colóquio Internacional Arquitetura do Engano: redes de difusão e o desafio da representação perspéctica no universo pictórico barroco

Data: de 11.11.2013 até 13.11.2013
 
Local: UFMG - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH)


O colóquio vai reunir pesquisadores brasileiros, estrangeiros e alunos de pós-graduação em discussões sobre a pintura realizada nos séculos XVII a XIX e análise da forma com que são empregados o sentido e a construção espacial na aplicação das formas pictóricas. Ainda serão abordados a relação entre espaço construído e espaço pictórico, a representação perspéctica da arte, a finalidade da perspectiva na arte barroca, entre outros assuntos.
Informações Adicionais:

Auditório Profª. Sônia Viegas
http://www.fafich.ufmg.br/perspectiva
 
Email: perspectiva@fafich.ufmg.br
Promoção: Programa de Pós-graduação em História e o grupo Perspectiva Pictorum da UFMG
Realização: Programa de Pós-graduação em História e o grupo Perspectiva Pictorum da UFMG
Arquitetura do engano e a tratadística coetânea - Novas perspectivas


            No percurso da arte barroca diversos fatores e diferentes momentos contribuíram para a produção deste estilo ou desta forma artística. Ao mesmo tempo o barroco não deve ser estudado apenas como mais um momento estilístico, individualizado numa época, mas, sobretudo, como uma «característica artística» como foi o Humanismo e o Renascimento. Assim, a passagem do século XVI para o XVII e na sua continuidade à fase setecentista, toda esta etapa irá constituir-se num dos episódios mais significativos da História da Arte Européia.
            É ponto assente que a “questão do barroco” surge quando a crise do Renascimento tem seu marco inicial. Esta crise aparece no momento em que na cultura renascentista encontramos um certo predomínio à decoração. Contudo, o Barroco não pode ser definido simplesmente como uma condução desta tendência ou a simples redução da arte em puro ornamento.
            O desenvolvimento da arte Barroca deve ser visto na continuidade do momento final do Renascimento; lembre-se que nesta fase a cultura renascentista enfrentava um período de antinomias, quer dizer, entre o triunfo e a censura da retórica, ou entre uma concepção hedonista e outra pedagógica.  Outro sector que no Barroco foi amplamente acentuado, diz respeito à imaginação. Este aspecto foi muito desenvolvido desde o fim do século XVI, com as influências neo-platônicas. Com o surgir de uma espécie de mentalidade barroca, podem individualiza-se duas correntes que dividiram a interpretação da arte a partir do fim do Renascimento e que se reunirá no Barroco, compondo-se por um lado numa arte extremamente complacente e por outro numa linguagem moralizadora. Ainda no seguimento destes aspectos, é de salientar que o Barroco conhece um momento hedonista e outro pedagógico, levado desde a luxúria até a decência, fatores condicionados por uma certa ambivalência.
            Tudo isso se resume neste estilo como uma tentativa de solucionar um problema que foi aberto a partir da arte do Renascimento. No âmago deste problema, a Arte Barroca sai do humanismo desenvolvendo conceitos humanistas, exatamente como aconteceu com o Renascimento, quando absorveu aspectos pertinentes à Escolástica.
            Nesse nosso estudo sobre o barroco, torna-se fundamental limitar o significado e a sua extensão, na tentativa de estudá-lo com certa eficácia. Portanto, a tendência barroca fica condicionada ao século XVII (válido para a Itália e a França e outros centros), sendo que em Portugal este estilo se desenvolve durante a centúria Setecentista: terá início ainda em meados do século anterior, permanecendo até algumas décadas do século XIX, no chamado «Mundo Português».
            Se estudarmos o barroco como categoria, obrigatoriamente iremos aproximá-lo a um sinônimo de anti-clássico, perdendo toda a sua genuína característica morfológica; assim, é bom lembrar que entre estilo e época convém fazer as suas diferenças de conceitualização. Falamos em época barroca referindo ao século XVII, mas lembramos que inúmeras obras pictóricas ou arquitetônicas executadas nesta época, ainda não eram totalmente barrocas e estilisticamente pertenciam à fase final do Renascimento. O mesmo acontecendo com obras produzidas no fim do século XVIII e que pertencem a uma cronologia do rococó, no entanto, referentes ainda à forma barroca. O caso mais presente destas afirmações encontra a sua confirmação precisamente quando pensamos na arte barroca desenvolvida em toda a Península Ibérica, na América Espanhola e no Brasil Colonial. Aqui, a forma barroca avança durante algumas décadas do século XIX.
            Outro fator fundamental na análise da arte barroca, diz respeito à sua íntima relação com a Contra Reforma. Lembre-se que a persistência na Inglaterra do século XVII e XVIII de um formalismo palladiano, foi um sinal absoluto da não influência do movimento contra reformista, confirmando o fato de que a Igreja Anglicana não usou o elemento barroco como efeito de persuasão. A Igreja da Contra Reforma quer aproximar-se ao máximo dos fiéis, numa política de duplo sentido, ou seja, por um lado uma aparente simplicidade e por outro no imediatismo do ritual, para permitir ao fiel a sua participação na celebração, expondo-o em contacto direto com o altar.
            Esta situação ou esta transformação de comportamento entre o fruidor e a Igreja, tem a sua correspondência na disposição de construir uma nova linguagem cenográfica. É o momento da substituição da cena do tipo albertiana, para a cena do tipo serliana ou peruzziana. No primeiro caso, o fiel se encontra fora da cena da Divina Representação, ao passo que, no segundo momento, o fiel assumirá uma posição determinante. Identificamos aqui a importância do aspecto cenográfico, pois o sentido representativo se manifesta de modo imediato no teatro, considerado a “proto-arte” e base formadora da arquitetura, da pintura e da escultura. Assim, a relação com o espaço interno dos edifícios tem agora um significado especial, pois a arquitetura renascentista se transforma na igreja de nave única ou de planta elíptica para permitir a melhor adaptação do espectador. O contorno sinuoso da sanca, as paredes onduladas, as plantas circulares ou seccionadas em recortes mais dinâmicos; o forte claro-escuro e a exaltação do cromatismo na pintura, o exagero do panejamento, como ainda, a constante plasticidade das figuras e os efeitos de expressão corporal e fisionômicos, fazem da arte barroca um momento de convulsiva necessidade de ultrapassar os limites da realidade.
            Por fim, encontramos a dilatação do desenvolvimento da cenografia, confirmada no estudo do elemento perspéctico-espacial, analisados por Ferdinando Galli Bibiena, Giacomo Torelli e Andrea Pozzo: a visão angular era também uma tendência para infringir a simetria e criar uma espécie de “revelação”, como abertura no prolongamento entre “realidade de espectador” e “realidade de ator”. É a passagem de uma perspectiva do tipo naturalista para uma visão cenográfica. Enfim, se no século XV a redescoberta da perspectiva foi caracterizada com forte entusiasmo, nos séculos XVI e XVII (e século XVIII para o Mundo Luso-Brasileiro) tornou-se uma obsessão ou exasperação das funções representativas do mundo externo, pois se trata do início da simulação onde a arquitetura passa a ser pictórica e cenográfica. Exalta-se o elemento perspéctico com truques na obtenção do não concluído e do irreal, sublinhando a diferença da arte Barroca em relação ao Renascimento.
            Deste modo, Uma das mais interessantes preocupações em relação à pintura desde o século XV até a fase final do período barroco, foram o sentido e a construção espacial na aplicação das formas pictóricas na pintura e na cenografia.
Assim, consideramos fundamental o estudo da pintura não só com uma interpretação histórica e iconográfica, mas também como interpretação de pura visualidade espacial. Trata-se de um olhar mais atento à forma e ao sentido de construção espacial das figurações representadas entre os séculos XVII e XIX; o relacionar espaço construído com espaço pictórico, na tentativa de uma compreensão mais específica no que diz respeito à pintura. Neste contexto, pode-se pensar que existe uma espécie de progresso na arte quando falamos de representação perspéctica? Ou ainda: pode-se afirmar que todas as representações pictóricas não passam de convenções, símbolos codificados em conexões arbitrárias com seus referentes?
A primeira questão refere-se à conquista da representação perspéctica do espaço, de modo que o seu progresso esteja no fato destas representações espaciais alcançarem o método racional da perspectiva linear. A segunda questão encara a representação pictórica como uma convenção e que por sua vez está codificada nas suas diversas experiências culturais. Considerada fundamental para o conhecimento do espaço arquitetônico, escultórico e pictórico, a perspectiva foi um dos episódios mais significativos da história da pintura. A sua finalidade pode ser anotada como sendo o instrumento de separação entre realidades, onde tudo passa a ser associado numa única cena e num único campo de representação.
            Com todas estas transformações, pensamos que por um instante aproximamos do que foi efetivamente o mundo da arte barroca.

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