terça-feira, 22 de maio de 2012

Música sacra que atravessa a história

Projeto redescobre a forte presença dos corais na Igreja da Boa Morte.

O Projeto Memória e Resgate, desenvolvido na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, em Limeira, está redescobrindo a história da música sacra no município. Ainda que as pesquisas estejam concentradas na Boa Morte, as descobertas dos historiadores Ana Cláudia Cermaria, 25 anos, e João Paulo Berto, 22, está mostrando a vida musical da cidade.

Durante as pesquisas, os historiadores conseguiram chegar até Antônio Venâncio, organista e regente do Coral da Igreja da Boa Morte, hoje com 96 anos e residente em Campinas. Ana Cláudia contou que Venâncio iniciou sua atuação com corais em 1932, em Limeira, na extinta Capela da Santa Cruz - hoje, no local, está construída a escola estadual Prof. Leovegildo Chagas Santos. "A Igreja da Boa Morte foi palco de apresentações, sobretudo sacras, de vários maestros limeirenses. Podemos destacar, entre as partituras que possuímos no acervo, a intitulada 'À Memória do Dr. Trajano', marcha fúnebre composta por Francisco Puzzone para ser tocada na missa de 7º dia do Dr. Trajano de Barros Camargo, datada de 1930", falou.
Outra partitura é um "libera me domine" (responsório litúrgico cantado no ofício e absolvição de morte), composto por Anacleto Barroso para a morte do Dr. Velloso, em 1921. "Além disso, encontramos diversas fotografias que mostram a vida musical da igreja, em um momento em que todas as missas eram cheias de pompa e acompanhadas de coro e orquestra", disse.


O trabalho está sendo desenvolvido com base no acervo de partituras (manuscritas e impressas), livros de canto e fotografias da Igreja da Boa Morte e da Catedral Nossa Senhora das Dores, além de entrevistas com pessoas da época. "Desde o século XIX, a sociedade limeirense dispensava grande atenção para a Boa Morte. Várias músicas sacras e missas completas eram compostas por maestros limeirenses para serem cantadas na igreja, sendo um exemplo o 'Hino a Nossa Senhora da Assunção', composto pelo maestro Orlando Puzzone e outros do maestro Mário Tintori".


O PROJETO
O Projeto Memória e Resgate teve início no ano passado, após a reabertura da igreja, como parte do TAC (Termo de Ajustamento de Condutas), assinado pela Confraria da Boa Morte e o MP (Ministério Público), em 2010. "Analisando os materiais, percebemos o seu potencial histórico, capaz de lançar novas luzes para a compreensão da história de Limeira dos séculos XIX e XX. Neste sentido, nasceu o projeto idealizado pela professora Adriana Pessatte Azzolino", falou Ana Cláudia, que é limeirense, formada pela Unicamp. Berto é de Campinas, também formado pela Unicamp.


A pesquisa sobre a história da música na igreja será encerrada durante a montagem da exposição, que será aberta no dia 26. Mas o projeto vai manter os seus trabalhos para tornar o acervo da Boa Morte mais completo. "Ainda há várias atividades em andamento - como o término da catalogação, descrição, organização e guarda dos materiais. Nosso objetivo é sempre trazer a história para as pessoas, geralmente por meio de exposições, contribuindo sempre para a salvaguarda do patrimônio cultural de Limeira".


DIFICULDADES
Segundo a historiadora, existem grandes lacunas de informações que foram sendo perdidas com o tempo. "É por isso que estamos montando um banco de informações na igreja, que, juntamente com todo o acervo histórico, está constituindo um CDM (Centro de Documentação e Memória), em fase de implantação. Aqueles que possuem documentos antigos sobre Limeira podem doar (os originais ou cópias) para o CDM", falou.
Outros eventos também estão sendo preparados - como uma exposição sobre a história de Limeira, para setembro; uma Semana do Patrimônio, em outubro; e concertos natalinos. "O projeto terá um site com informações sobre a Boa Morte e Confraria, exposições virtuais, notícias de eventos, juntamente com um banco de dados, em que as pessoas terão acesso ao acervo histórico preservado na igreja". Outro espaço já existente é o blog Memórias de Limeira: memoriasdelimeira.wordpress.com.




Encontro de corais ocorrerá neste mês
Ainda dentro do Projeto Memória e Resgate, um encontro de corais será realizado na Igreja da Boa Morte, no dia 27. Segundo a historiadora Ana Cláudia Cermaria, foram convidados seis corais: Madrigal Vivace (Cosmópolis), Cantatores Juris (Mogi Guaçu), Coral Municipal de Casa Branca (Casa Branca), Coral Cantigas e Moderna (Santa Cruz das Palmeiras), Coral São Sebastião e Coral Santa Cecília (Limeira). O evento terá início às 18h. "Os corais vão apresentar músicas de diversos gêneros, desde sacras a populares, de folclóricas a eruditas, agradando todos os gostos", falou.
De acordo com Ana Cláudia, nos séculos XIX ao XX, o canto coral nas igrejas de Limeira era algo levado muito a sério. "As missas eram acompanhadas por orquestra e com instrumentos - como violinos, violoncelos, flautas e órgão. Ainda na época da Matriz Velha, as missas eram realizadas uma vez por semana na Boa Morte, sempre aos domingos de manhã, com a presença do Coral Nossa Senhora das Dores", contou.


Fonte:Jornal de Limeira por  Stefanie Archilli

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