A liturgia é o cume para o qual tende toda a ação da Igreja e é, ao mesmo tempo, a fonte de que promana sua força. Isso é o que afirma o documento do Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, nº 10. Devido a esta fundamental importância é que se faz tão urgente fomentar em nossas comunidades a harmonia e o equilíbrio em todos os componentes dessa ação litúrgica, inclusive a utilização da arte sacra e dos objetos sagrados enquanto meios que favorecem a eficácia da liturgia.
A arte – A arte, por sua natureza, tem a capacidade de manifestar a beleza por meio de formas concebidas pela pessoa humana. Também a arte na liturgia utiliza-se das realidades sensíveis para expressar a ação de Deus, ao mesmo tempo em queintegra a ação dos homens que prestam seu culto a Deus. Por este motivo, a Igreja nos ensina que a arte utilizada no serviço divino deve ser sinal e símbolo das realidades do alto.
Tocar o coração – O Papa Bento XVI faz em uma de suas catequeses uma importante associação entre e arte e oração. Diz-nos o Santo Padre: “talvez já tenha lhes acontecido que, diante de uma escultura, um quadro, alguns versos de poesia ou uma peça musical, tenham sentido uma íntima emoção, uma sensação de alegria; percebem claramente que, diante de vocês, não existe somente matéria, um pedaço de mármore ou de bronze, uma tela pintada, um conjunto de letras ou um cúmulo de sons, e sim algo maior. Este algo nos fala,é capaz de tocar o coração, de comunicar uma mensagem, de elevar a alma. Uma obra de arte é fruto da capacidade criativa do ser humano, que se interroga diante darealidade visível, que tenta descobrir o sentido profundo e comunicá-lo através da linguagem das formas, das cores, dos sons. A arte é capaz de expressar e tornar visível a necessidade do homem de ir além do que se vê, manifesta a sede e a busca do infinito. Inclusive é como uma porta aberta ao infinito, a uma beleza e uma verdade que vão além do cotidiano” (catequese do dia 31/08/2011).
Sobriedade – Infelizmente, o que muitas vezes encontramos em nossas Igrejas é uma distorção desse sentido. A estética fica a encargo do grotesco e do “bom senso” de alguns, que geralmente desconhecem sobre teoria das cores, materiais e formas adequadas para o uso litúrgico. Um emaranhado de cortinas, pinturas, cores, imagens, vasos e banners são dispostos em muitos presbitérios, criando tão grande poluição visual que o cansaço já é sentido logo na chegada. Harmonia e sobriedade continuam sendo a pedra-de-toque para o bom uso da arte no espaço sagrado.
A arte e o sagrado – A Igreja, ao reconhecer a importância da arte sacra e sua característica de aproximação do sagrado, resolveu por meio do Concílio:
- Admitir todos os estilos: “A Igreja não tem nenhum estilo próprio” (SC, 123). Ao declarar isso, abre o leque de possibilidades para que a arte possa ser livremente exercida na Igreja, favorecendo a diversidade de formas e tendências, sem deixar de discernir aquilo que melhor convém à fé, de acordo com a cultura de cada região, as condições e as necessidades dos vários ritos e épocas. Com essa abertura aos variáveis estilos artísticos a Igreja não quer descaracterizar o valor do sagrado, mas impedir um engessamento ou a fixação em formas pré-concebidas. A constituição promove, dessa forma, o desenvolvimento da arte que visa à beleza nobre mais do que à suntuosidade, também no que se refere às vestes e aos paramentos;
- Revisão da legislação sobre arte sacra:
prevê a revisão o quanto antes das normas para a edificação de igrejas,
forma e construção dos altares, do tabernáculo eucarístico, lugar
conveniente ao batistério, imagens sacras e ornamentação. Os padres
conciliares ainda estipularam a correção ou extinção de tudo aquilo que
não estivesse de acordo com a restauração litúrgica
proposta pelo Vaticano II; - Formação artística: “Os bispos, pessoalmente, ou com auxílio de sacerdotes capazes que gostem de arte, devem trabalhar junto com os artistas, para que adquiram o espírito da arte e da liturgia sagrada” (SC, 127). Os padres conciliares preveem ainda a formação artística do clero durante os cursos de filosofia e teologia, por meio do estudo da história da arte sacra, sua evolução e princípios, para que sejam eles próprios a aprender o verdadeiro valor dos monumentos da Igreja e sejam capazes de orientar os artistas na realização de suas obras.
Cenildo Costa
Seminarista da Arquidiocese de Curitiba e
membro da Comunidade Católica Shalom
Seminarista da Arquidiocese de Curitiba e
membro da Comunidade Católica Shalom
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