Os religiosos beneditinos não informam quanto foi investido na obra - muito menos divulgam o nome do patrocinador
Jesus Cristo crucificado no altar principal da basílica do Mosteiro de São Bento (JAIR MAGRI /VEJA)
Marco histórico-religioso do centro paulistano, a Basílica de Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como igreja do Mosteiro de São Bento, está na reta final de um minucioso trabalho de restauração, o maior de sua história de 100 anos. Na semana passada, os andaimes começaram a ser retirados - a previsão é de que a etapa esteja concluída no início do mês de setembro.
"Com isso, terminaremos o restauro de todo o altar-mor", comemora o monge beneditino João Baptista, um dos 30 que vivem na clausura da instituição. A basílica integra o conjunto arquitetônico - projetado pelo alemão Richard Berndl (1875-1955) - erguido de 1910 a 1914 no Largo de São Bento, centro de São Paulo. Tombada desde 1992 pelo órgão municipal de proteção ao patrimônio (Conpresp), a igreja havia passado apenas por uma restauração, de menores proporções, em 1978 - para recuperar danos causados pela construção da Estação São Bento do Metrô.
Anonimato - Os religiosos beneditinos não informam quanto foi investido na obra - muito menos divulgam o nome do patrocinador, que doou o dinheiro com a condição de não ter sua identidade revelada. Esta última fase, iniciada em dezembro, foi capitaneada pelo restaurador João Rossi, com uma equipe de dez técnicos. "Identificamos problemas de desprendimento da argamassa e de partes das pinturas. Além da sujeira, acumulada pelo tempo", diz. "Procuramos fazer as interferências do modo menos invasivo possível."
O Mosteiro de São Bento ocupa, desde 1598, o mesmo terreno no centro de São Paulo. Ao longo dos séculos, vários edifícios foram reformados, demolidos e construídos. Este último conjunto, que completa cem anos, foi decorado entre 1912 e 1922. "Em estilo nascido no mosteiro alemão de Beuron, esta arte peculiar traz a mistura e inspiração de estilos muito antigos, como a arte egípcia e também a bizantina", explica o monge João Baptista. "Assim, a basílica no coração do centro da cidade São Paulo é exemplar raro neste estilo decorativo, um caso único."
Murais - De dezembro para cá, os restauradores recuperaram cada uma das pinturas murais, inclusive os seis painéis da capela-mor - todos retratando cenas da vida de Maria: a anunciação, a visitação, o nascimento de Cristo, a apresentação, os esponsais e a dormição. Também foram restauradas as esculturas sacras. "Destacamos a imagem do Sagrado Coração de Jesus, de madeira, esculpido por Henrique Waderé, em Munique, Alemanha, em 1926", comenta o monge. "Esta imagem chegou à basílica por ocasião do cessar-fogo da Revolução de 1924, da qual o mosteiro e sua igreja saíram ilesos."
Foram recuperadas ainda as duas imagens seiscentistas do acervo: São Bento e Santa Escolástica, obras esculpidas em barro ressequido pelo artista beneditino Agostinho de Jesus, em 1650. "Elas são muito sensíveis, então optamos por recuperá-las na clausura durante as obras. Só depois voltarão à igreja", explica o restaurador Rossi.
Antes de colocar a mão na massa, a equipe de restauro fez um trabalho museológico de pesquisa. "Analisamos fotos antigas da basílica, para procurar entender como eram as peças e o ambientes originais", conta. Por sorte, os beneditinos são cuidadosos no arquivo de documentos históricos.
Obras - Entre 2011 e 2013, nas duas primeiras etapas do restauro, haviam sido recuperadas as 12 imagens dos apóstolos - que medem cerca de 3 metros cada -, a capela do Santíssimo, as capelas laterais e o órgão com 6 mil tubos, que foi instalado em 1954, durante as comemorações do quarto centenário de São Paulo. Se depender dos planos dos religiosos, a recuperação da igreja não termina por aqui. "Estamos resgatando os detalhes para iniciar o restauro do baldaquino, ainda neste ano", adianta Rossi.
De mármore branco italiano de Carrara, a peça sustenta-se por quatro colunas de pórfiro vermelho da Sibéria, com capitéis de bronze. "Em cima, há um trabalho com folhas de ouro", completa o restaurador. "Em seguida, devemos iniciar o restauro da nave da igreja", diz João Baptista. Só então, mais de 100 anos após ser inaugurada, a Basílica de Nossa Senhora da Assunção estará novamente tinindo, pronta para ser vista, frequentada e apreciada por fiéis católicos, turistas e todos os outros interessados.
(Com Estadão Conteúdo)
Fonte: VEJA
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