quarta-feira, 16 de julho de 2014

Depoimentos sobre Arte Sacra: "ARTE GÓTICA: UM OLHAR PARA A SABEDORIA DE DEUS"

            Sempre fui um apaixonado por arte, literatura, e uma boa música. Quem não pararia e contemplaria um Phartenon ou um Coliseu? O que dizer das belíssimas pinturas de Rafael ou da Vinci? O que dizer sobre a Divina Comédia de Dante, considerada por muitos uma das maiores elaborações literárias de todos os tempos? Como não apreciar as composições de Bach ou Mozart?
    
        Desde que iniciei meus estudos filosóficos há quatro anos, comecei a perceber certa relação entre a filosofia e a arte, e cheguei a seguinte conclusão: toda arte é expressão de uma filosofia. Todos os sistemas filosóficos caracterizam-se por falar sobre o homem, divindade(s), mundo, cultura, sociedade e moral. E assim sendo, a arte ao longo da história não é feita a partir do nada, mas expressa aquilo que a sociedade vive, sente e pensa. Na antiguidade, por exemplo, os romanos valorizavam muito o corpo humano. Isso se dava devido a forte influência da cultura grega nas cidades romanas. Este dado se reflete na arte, tanto grega quanto romana, pois quando vemos suas esculturas percebemos os traços anatômicos bem salientados. Este detalhe pode ser visto nesta escultura grega do séc. I a.C. (conhecida como “Laocoonte e seus filhos”) que se encontra atualmente nos museus vaticanos.
           
          Mas não estou aqui para falar sobre a arte na antiguidade. O que nos interessa neste momento é a arte cristã. Esta introdução foi necessária para percebermos que a arte sacra cristã, por mais que seja expressão de um a fé e de uma religiosidade, acompanha a evolução da história. Mas o que isso significa exatamente? Significa que não existe “uma” arte cristã, mas varias artes cristãs que foram surgindo ao longo da história. Por exemplo, a arte cristã primitiva, encontrada nas catacumbas romanas é diferente da arte cristã das basílicas bizantinas, e assim por diante.

     A figura do “Bom Pastor” é encontrada nas catacumbas romanas. Neste período, os cristãos eram perseguidos pelos romanos pagãos. Eles, portanto, tinham no Senhor, o Pastor da comunidade cristã, o seu refúgio. Já o Pantocrator (termo grego que significa “Onipotente”) apresenta um Cristo onipotente, majestoso, representando assim, o apogeu de um cristianismo imperial.

           
De todos os períodos da arte pelos quais o cristianismo perpassou ao longo destes vinte séculos, nenhum pode ser considerado mais cristão que o gótico. Mas por que pode ser chamado de “mais cristão”?
Ao partirmos da premissa segundo a qual a arte é expressão de uma filosofia, olhamos para os séc. XII e XIII e vemos uma cristandade, ou seja, uma sociedade amplamente embebida de valores cristãos, ordenada pela Igreja. Neste sentido a arte passa a expressar através de suas esculturas, pinturas e demais construções uma sociedade cristianizada, em outras palavras, uma sociedade humana que volta-se para o Eterno, para a luz, para a Sabedoria divina. Esta arte é a gótica.

Nesta imagem ao lado, vemos um vitral gótico em formato circular, uma rosa de pedra e vidro, sempre encontrada na frente das catedrais, que representa o universo, uma realidade criada por Deus em ordem e harmonia. Neste vitral encontramos uma hierarquia dos seres. No centro está Nossa Senhora, a mais perfeita criatura de Deus.

A arte gótica surgiu no século XII e perdurou até o surgimento do renascimento em Florença no séc. XV. Nada é mais significativo nesta arte do que as grandes Catedrais que reinaram de forma soberana nas cidades medievais, e ainda hoje encantam pessoas por sua beleza e por sua nobreza. 

Uma arte feita por homens capaz de transcender ao espiritual. Segundo o historiador eclesiástico Daniel Rops, em sua obra A Igreja das Catedrais e das Cruzadas (Ed. Quadrante, 2012), todas as épocas tiveram uma obra que as representasse, mas nenhuma época foi tão bem expressa artisticamente em sua totalidade como a Idade Média ocidental através das Catedrais.

As Catedrais góticas podem ser vistas como uma janela para o Eterno. Não há como entrar em uma delas sem sentir-se fascinado, tocado por algo que é superior a inteligência humana, algo maravilhoso, e que por mais que nos seja superior nos faz desejar buscá-lo. Queremos buscar o Eterno, e neste caso, buscar a Deus. Sua arquitetura é projetada de modo com que a luz seja abrangente dentro da estrutura (os vitrais góticos constituem uma novidade em relação ao estilo anterior – o românico).

Nas Catedrais góticas, que já foram chamadas de “Bíblias de pedra” ou até “Sumas teológicas de pedra” (em referência à obra de Sto. Tomás de Aquino), percebemos elementos da filosofia medieval: a harmonia, a ordem, a  grandeza de Deus, a obra criadora da Sabedoria divina, e principalmente a necessidade do Homem de buscar a Deus, que é Pai criador, que é Sabedoria eterna que se encarna na história, que é Espírito de Amor.

Leonardo Silva, 24 anos
Seminarista da Diocese de Guarulhos

2º Ano de Teologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...