domingo, 9 de setembro de 2012

Santa Parentela

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, parentela significa "o conjunto dos parentes; parentada, parentalha", ou ainda, "série de gerações; linhagem, família, casta".

Nas representações mais comuns da Sagrada Família, o Menino Jesus aparece ladeado por seus pais: a Virgem Maria e São José. Ainda segundo Reáu, a Sagrada Família é um grupo trinitário onde estão representados Maria e o Menino Jesus, acompanhados ou de São José ou de Santana, formando a trindade terrestre (REÁU, 2000, p. 153). 

santaparentelaNuma iconografia rara no Brasil, o grupo da Sagrada Família traz também São Joaquim e Santana – pais da Virgem Maria e avós de Jesus.  Essa iconografia recebe o nome de Santa Parentela (Sagrada Parentela ou Sacra Parentela também são encontradas), principalmente em Portugal.

A iconografia apresenta um grupo familiar com Santana e Nossa Senhora, geralmente trazendo ao colo o Menino Jesus e, respectivamente, atrás destas ou ao lado, estão São Joaquim e São José. "Sempre que os pais da Virgem, Santa Ana e São Joaquim, estão representados, acompanhando a Virgem e o Menino, é freqüente utilizar a expressão Santa Parentela" (DUARTE, 2000, p. 83).

A partir do século XIV, aparece uma preocupação crescente dos fiéis em estabelecer a genealogia de Cristo, pois a família nuclear necessita de seus parentes. A humanização da figura de Jesus traz à tona diversas novas interpretações e temas iconográficos.

A origem do culto aos avós de Jesus não está presente nos evangelhos canônicos. Os textos que apontam para Ana e Joaquim são encontrados nos evangelhos apócrifos: Proto Evangelho de Tiago e Evangelho de Pseudo Mateo, onde Ana e Joaquim aparecem como progenitores, devido à concepção milagrosa de Maria.

Embora o termo Santa Parentela seja amplamente difundido em Portugal, diversas fontes apresentam diferentes representações para a denominação Santa Parentela. Dividimos aqui duas formas de interpretação para a designação:
•    como uma ampliação dos grupos da Sagrada Família ou das Santas Mães;
•    como uma redução do grupo que representa a descendência de Santana, também conhecida antigamente como A Linhagem da Senhora Santana.

Myriam Ribeiro cita a Santa Parentela como uma ampliação da Sagrada Família:
"... inclui-se no âmbito da nova iconografia estabelecida pela Contra-Reforma o reforço devocional aos personagens da Sagrada Família, separadamente ou em grupo. A
princípio centradas apenas nos personagens da família nuclear (Jesus, Maria e José),
essas representações acabaram anexando os progenitores da Virgem (Ana e
Joaquim), definindo a tipologia conhecida como Sacra Parentela [...]"
(GUTIERREZ, 2001, p. 12).

Já Louis Reáu indica que a terminologia "Sagrada Família ampliada" teria a adição de Santa Isabel e São João Batista, ao invés dos avós de Jesus. As representações das Santas Mães (Santana Triple em espanhol) - grupo em que figuram Nossa Senhora e Santana trazendo o Menino Jesus - são bastante difundidas desde o século XV em toda Europa e também, posteriormente, no Brasil colônia. A representação aqui descrita traz como grupo nuclear as Santas Mães ladeadas por São Joaquim e São José.

Na Espanha e no México as imagens que representam o núcleo familiar de Jesus, com seus pais e seus avós maternos recebem também a designação de Los Cinco Señores, devido ao número de integrantes do grupo.

Encontramos também com a denominação de Santa Parentela (Holy Kinship, Holy Kindred, Sainte Parenté, Die Heilige Sippe, Santa Parentela, La Parentela de Maria) um grupo bem mais extenso que deriva da legenda dos três casamentos de Santana presente desde o século XIII na Legenda Áurea e difundida no século XV com a visão da monja franciscana Santa Coleta. O tema torna-se bastante comum na Europa dos séculos XV e XVI, em fins da Idade Média, principalmente no Norte e nos Países Baixos.

O grupo expandido da linhagem de Santana tem às vezes 17 pessoas (três maridos de Santana, suas três filhas – as três Marias, seus três genros e sete netos), podendo alcançar o número de 23 membros familiares, como um verdadeiro retrato de família.

REFERÊNCIAS

DUARTE, Alberto de Almeida Branco. Estudos sobre a Genealogia de Cristo na Arte Portuguesa. 2000. Dissertação (Mestrado em História da Arte) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Lusíada, Lisboa, 2000. p. 83-101.

GUTIERREZ, Angela (org.). O Livro de Sant'Ana: coleção Angela Gutierrez. Belo Horizonte: Instituto Cultural Flávio Gutierrez, 2001.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Disponível em: .

JUSTICIA, Maria José Martinez. La Simplificación del Árbol de Jesé y Otros Temas Genealógicos Marianos en La Escultura Granadina. Revista Virtual de la Fundacíon Universitaria Española. Cuadernos de Arte e Iconografia, Madrid, tomo II, n. 4, 1989.

RÉAU, Louis. Iconografía del Arte Cristiano. 2. ed. Traducción Daniel Alcoba. Madrid: Serbal, 2000. (Cultura Artística). Título original: Iconographie de l'Art Chrétien.    

VARAZZE, Jacopo de. Legenda Áurea: vidas de santos. Tradução de Hilário Franco Júnior. São Paulo: Companhia da Letras, 2006, 1040 p.

VIANNA, Iêda Faria Hadad. Sant'Ana: culto e iconografia. Imagem Brasileira, Belo Horizonte, n. 3, p. 165-175, 2006.



Fonte: Ana Martins Panisset – Gerente de Elementos Artísticos do Iepha/MG


FOTO: Cláudio Nadalin - Cecor/MG

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