quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Impasse sobre destino do maior acervo sacro de Pernambuco

Igreja da Sé está pedindo a devolução de quadros dos séculos XVII e XVIII que estão desde o final dos anos 50 no Museu Pinacoteca de Igarassu

Museu Pinacoteca abriga 24 painíes dos séculos XVII e XVIII desde o final dos anos 50. Igreja da Sé quer metade dos quadros de volta. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press
Museu Pinacoteca abriga 24 painíes dos séculos XVII e XVIII desde o final dos anos 50. Igreja da Sé quer metade dos quadros de volta. Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press   

O museu que abriga o maior acervo sacro de Pernambuco, localizado na cidade de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, poderá transferir doze dos 24 painéis dos séculos XVII e XVIII para a Igreja da Sé, em Olinda. A transferência foi solicitada pela Arquidiocese de Olinda e Recife, que pediu ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) a devolução dos quadros que, originalmente, pertencem à Sé. As obras foram enviadas para o convento franciscano de Igarassu, antes da criação do Museu Pinacoteca, em 1957, enquanto a Igreja da Sé passava por uma restauração. O impasse em relação às obras foi postado no Cidadão Repórter, fórum de jornalismo colaborativo do Pernambuco.com e vem provocando polêmica entre os moradores da cidade.

O Museu Pinacoteca fica no Convento Franciscano, na Igreja de Santo Antônio, e possui um acervo de 24 obras, todas anônimas, e sob os cuidados do Iphan. Metade dos painéis pertence às igrejas de Igarassu e a outra metade é da Igreja da Sé, em Olinda. A manutenção é de responsabilidade da prefeitura de Igarassu e do Governo Federal. As telas com pinturas feitas a óleo e têmpera sob madeira retratam cenas religiosas, da paixão de Cristo, de milagres e contam a história da criação de Igarassu. Em meados dos anos 60 as obras passaram por restauração antes de serem expostas no Museu Pinacoteca.

O vigário paroquial Albérico Bezerra explica que voltando para a Igreja da Sé, em Olinda, as obras terão mais visibilidade, além de ornamentar a igreja após o término da reforma. "Agradecemos muito ao convento de Igarassu pelo cuidado com as obras, mas elas têm de voltar para a Igreja da Sé. É o filho pródigo que volta para casa", justifica o religioso.




Para a atual diretora do Museu Pinacoteca, Irmã Ivone, no entanto, a devolução do conjunto dos painéis apenas descaracterizaria a coleção, sem benefício para nenhuma das duas cidades: "a retirada dos quadros não tem um motivo concreto. Aqui as obras estão sendo bem cuidadas", alega.

O impasse está sendo mediado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico em Pernambuco (Iphan), embora o superintendente do órgão, Frederico Almeida, entenda que não cabe ao instituto decidir o destino das obras. A preocupação deve ser com a manutenção e com preservação dos quadros, independentemente de onde estejam. "O que será analisado pelo Iphan é a segurança, acessibilidade das obras, ou seja, onde a população poderá ter mais acesso a elas, e a garantia de preservação", explica. Frederico ainda afirma que a Pinacoteca não é tombada pelo Iphan, e apenas as obras estão sob legislação. Por esse motivo, os painéis podem ser movidos sob responsabilidade de seu proprietário. Recentemente, o Iphan realizou vistoria e o reconhecimento das obras no Museu para analisar sua preservação.

A decisão sobre o destino dos 12 painéis solicitados pela Igreja da Sé caberá a seus proprietários (Pinacoteca e Arquidiocese). Esta tarde, uma reunião está marcada entre o prefeito de Igarassu e representantes do Museu Pinacoteca para conversar sobre o caso.

 
Comoção - Para os moradores de Igarassu, a perda dos quadros é motivo de tristeza. "A cidade de Igarassu está ameaçada de perder parte dos quadros que compõem o Museu Pinacoteca, Isso vai ser uma grande perda para a história municipal", lamenta o internauta Fernando Melo, que postou a informação no Cidadão repórter.

O historiador e diretor do Museu Histórico de Igarassu, Jorge Barreto, acredita que a devolução das obras irá descontextualizar o museu. "Essa divisão irá desconstruir o maior acervo de arte sacra de Pernambuco. Com isso, não ganha Olinda, não ganha Igarassu e perde muito Pernambuco", enfatiza. Barreto, inclusive, chegou a encaminhar uma carta à prefeitura e ao Iphan pedindo e justificando a importância da permanência das obras no museu.

Severina de Jesus, 40 anos, trabalhou no Museu Pinacoteca há quatro anos e reconhece a importância do espaço. "Minha neta adora esse museu. Vem sempre e aprendeu muito sobre ele", explica. A neta, Fernanda Ferreira da Silva, 10 anos, elogia o local. "Acho muito bonito lá dentro. Mostra a história de tempos antigos, coisas que a gente não viu acontecer, é muito importante", argumenta.



Segundo o guia do local, Inaldo Félix, a proposta de criação da pinacoteca era de interiorizar o turismo em Pernambuco, beneficiando o litoral norte. "Um dos benefícios da criação do museu, além de preservar as obras e interiorizar o turismo, era também a união desse rico acervo em um único espaço já que, separados, não teriam a mesma força de quando reunidos em um só local, beneficiando Igarassu e as cidades vizinhas”, explica. O guia ainda informa que os painéis recebem manutenção da Prefeitura e estão sob a luz adequada. Até a última semana de agosto, o museu recebeu 556 pessoas para visitá-lo. O último investimento na Pinacoteca foi por parte do Governo Federal com a instalação de câmeras de segurança.


Fonte: Diário de Pernambuco

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