segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Arquitetura Sacra: "Ó portas levantai vossos frontões! "

"Ó portas, levantai vossos frontões"
Elevai vos bem mais alto, antigas portas,

a fim de que o Rei da glória possa entrar!"




Rouen Catedral
Notre Dame de Coutances


"Entrai por suas portas dando graças,
e em seus átrios com hinos de louvor,
dai-lhe graças, e seu nome bendizei!" -
Salmo 99(100),4

Catedral de Alcobaça nave central
"Ó portas, levantai vossos frontões"
Elevai vos bem mais alto, antigas portas,

a fim de que o Rei da glória possa entrar!"
Dizei-nos: " Quem é este Rei da glória?" "É o Senhor, o valoroso, o onipotente, o Senhor, o poderoso nas batalhas!
 Salmo 23,7
Claustro o Mosteiro de Alcobaça Portugal


Podemos compreender melhor o sentido que era atribuído a uma catedral gótica, considerando o texto da inscrição gravada no pórtico central de Saint-Denis, em Paris: 
 
“Viandante, que queres louvar a beleza destes pórticos, não te deixes ofuscar pelo ouro, nem pela magnificência, mas sobretudo pelo trabalho cansativo.
“Aqui brilha uma obra famosa, mas queira o céu que esta obra famosa que brilha faça resplandecer os espíritos, a fim de que com as verdades luminosas se encaminhem para a verdadeira luz, onde Cristo é a verdadeira porta”.

 Basilique Cathédrale de Saint Denis 

 Basilique Cathédrale de Saint Denis 
"Ó portas, levantai vossos frontões"
Elevai vos bem mais alto, antigas portas,

a fim de que o Rei da glória possa entrar!"
Dizei-nos: " Quem é este Rei da glória?" 
"O Rei da glória é o Senhor onipotente, 

o Rei da glória é o Senhor Deus do universo!"! 


Cathedral da Santa Maria Nascente Milan Italy

PORTA


“Transpor o limiar, “passar a porta” esses gestos aparentemente insignificantes encerram um mistério da “passagem”! Daí a existência nas sociedades tradicionais de “ritos de passagem”. Transpor uma posta para penetrar, ainda que na habitação mais humilde constitui algo grave e solene , que se torna naturalmente um rito.
A sacralidade da passagem e da porta assume todo o seu valor quando se trata do templo, razão pela qual se colocavam à entrada dos edifícios sagrados “guardas do limiar”, estátuas de arqueiros, de dragões, de leões ou esfinges, personagens semidivinas, e até divinas, como Jano dos Romanos, deus da porta-janua- e do primeiro mês do ano, aquele que “abre” o ano- januarius. Esses guardas do limiar tinham por missão recordar a quem se dispunha a entrar o caráter temível do ato que se preparava para executar ao penetrar no domínio sagrado.
”Tu que entras, volta-te para o céu”, adverte uma inscrição sobre a porta da igreja de Mozat.
Um fato verificado por todos os que visitaram as igrejas românicas e góticas é a enorme importância atribuída à decoração das portas e, sobretudo, do portal principal. Isto explica-se facilmente se observarmos que os diferentes motivos de ornamentação, meticulosamente dispostos, visam realçar e explicitar o simbolismo fundamental da porta
Se o templo é uma imagem do mundo, por outro lado, pode ser considerado uma porta aberta para o Além, segundo a palavra da Escritura que  sagrada liturgia lhe aplica:”Quão venerável é este lugar! Não é ele senão a Casa de Deus e esta é a porta do Céu."(Gen.28,17)
 Ora, demonstrou-se que a própria porta é um resumo de todo o templo.[...]é igualmente um símbolo místico. Uma vez que o templo representa o Corpo de Cristo, a porta, que é o seu resumo, também deve representar Cristo. Ele próprio disse de uma forma em clara:”Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem"João 10,9
A porta da igreja transforma-se efetivamente nesta porta mística e crística pelo rito de consagração, durante o qual o prelado faz uma unção de santo crisma em cada um dos umbrais, dizendo:”Bendita e consagrada seja esta porta.... que ela seja uma entrada de salvação e de paz; que seja uma porta de paz, por intercessão d’Aquele que a si mesmo chamou a Porta, Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Sendo o templo cristão igualmente a figura da Jerusalém celeste, ou seja, do mundo renovado e transfigurado, do Paraíso reencontrado, é pelo Cristo-Porta que se penetra nele.
 Jean Hani  “Simbolismo do Templo Cristão” Coleção Esfinge 1998



Portal de Bronze detail Cathedral Milan Italy


Portal da Igreja São Jorge Hungria    
Deus, àqueles que ama, fecha todas as portas, menos a única.
O portal da Igreja medieval era exclusivamente simbólico. As palavras de Jesus forneceram a chave para ele: " Eu sou a porta; por mim, se alguém entrar, ele será salvo, e entrará e sairá, e achará pastagem “(João 10:9).  Esta figura de linguagem tornou-se uma base para a alegorização da igreja que era comum na Idade Média.
As inscrições do portal era freqüentemente dirigida aos fiéis a adotar um estado de espírito penitencial antes de entrar na igreja.


Beavais, Catedral de São Pedro


" Na verdade um só dia em Vosso templo vale mais do que milhares fora dele!
Prefiro estar no limiar de Vossa casa,a hospedar-me na mansão dos pecadores!"
Salmo 83,11


Catedral Salisbury
Quão amável,ó Senhor,é Vossa casa,
quanto a amo, Senhor Deus do universo!
Salmo 83,2


"Ó portas, levantai vossos frontões"
Elevai vos bem mais alto, antigas portas,

a fim de que o Rei da glória possa entrar!"


Saint Patrick New York

  Dizei-nos: " Quem é este Rei da glória?" 
"O Rei da glória é o Senhor onipotente, 

o Rei da glória é o Senhor Deus do universo!"!


Catedral gótica Beauvais

A Catedral é a figura da Cidade de Deus, da Jerusalém celeste, imagem do Paraíso – a liturgia da sagração das igrejas o afirma; as paredes laterais são a imagem do Antigo e do Novo Testamento; os pilares e as colunas são os profetas e os Apóstolos que sustentam a abóbada de que Cristo é a chave; as janelas translúcidas que nos separam da tempestade e derramam sobre nós a claridade são os Doutores; o portal é a entrada do Paraíso, embelezada pelas imagens em pedra, pelos baixos-relevos pintados e dourados, e pelos suntuosos batentes de bronze. A Casa de Deus deve ser iluminada pelos raios do sol, resplandecente de claridade como o próprio Paraíso, porque Deus é a Luz e a luz dá beleza às coisas. Assim também se deve aumentar a iluminação interior da Catedral, abrindo janelas tão grandes quanto possível, do vértice das grandes arcadas às próprias abóbadas.
(LE GOTHIQUE A SON APOGEE – Marcel Aubert, p. 22)


Jamais se construíram tão belas obras de arte, como na Idade Média, especialmente suas Catedrais grandiosas e cheias de unção, as quais até hoje elevam a Deus um louvor perene e enlevado. E elas que demonstram o espírito católico que reinava nos corações dos homens. 
"Ó portas, levantai vossos frontões"
Elevai vos bem mais alto, antigas portas,

a fim de que o Rei da glória possa entrar!"


Lincoln Catedral


"Felizes os que habitam Vossa casa;
para sempre haverão de Vos louvar!
Salmo 83,5

Basílica São Pedro



Exeter Catedral
Até hoje especialistas tentam decifrar como fizeram os arquitetos da Idade Média para, com tão pobres instrumentos, criarem obras colossais que “humilham” as técnicas modernas mais avançadas.
Mergulham eles nos “mistérios das catedrais”.
Enquanto o mundo parece rumar para uma modernidade cada vez mais caótica, as catedrais góticas em seu mutismo eloqüente apontam um caminho inteiramente diverso.
A primeira e mais imediata consideração é sobre a sabedoria dos construtores. Monges, teólogos, arquitetos, artistas, simples pedreiros, neles parecia habitar uma sabedoria que ia muito além de suas naturezas humanas, por vezes rudes e imperfeitas.
 Da sabedoria sobrenatural que só a graça divina dispensa às suas almas mais amadas.
 Foi essa sabedoria sobrenatural, de que a Igreja Católica é a tesoureira, que gerou aqueles homens e suas catedrais.
Longe da Igreja, o homem do terceiro milênio sente-se apequenado, tristonho e cheio de incertezas
.



Reims nave central

“Hec Domini porta via. . . est omnibus horta. Ianua soma vite, por me gradiendo Venite".
Esta é a porta do Senhor, o caminho ... é aberto a todos. Eu sou a porta da vida, venham e passem através de mim.


Catedral Lichtfield



Mosteiro São Gerônimo Portugal  Jesus disse então:Em verdade, em verdade vos digo:eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que viera antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutam.
"Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo,poderá entrar e sair, e encontrará pastagem"
Jo10,7
Mosteiro San Cugat Espanha



“Vos qui transitis, qui crimina flere venitis, Per me transite soma Quoniam ianua vite. Ianua vite soma. volo parcere. . . Venite."
"Você que está passando, vocês que estão chegando a chorar pelos seus pecados, passam por mim desde que eu sou a porta da vida. Eu sou a porta da vida."



Westminster Catedral


O termo “gótico” ( gótico<godo=pinheiro alto), foi usado pela primeira vez pelo pintor, arquiteto e historiador italiano Giorgio Vasari (1574-74) para descrever toda a arte entre a queda do império romano e o início da Renascença. O estilo contrastava com a perfeita harmonia da arquitetura clássica e por isso foi associado aos povos bárbaros, mais especificamente aos godos, daí o nome. Mas segundo Henry Lyon, essa ligação, baseada “na ignorância, não durou muito tempo, mas o nome, embora absurdo, sobreviveu,

Massaud Moisés afirma que o estilo gótico esteve “em moda na Europa ocidental entre os séculos XII e XIV, caracterizado sobretudo pela utilização de arcos em ogiva que simbolizavam, graças ao acentuado movimento vertical, a ascensão mística do homem medieval”.
O efeito causado pela luz que atravessa os vitrais,( grandes, coloridos, "Bíblia dos Pobres"),   os arcos, a geometria da construção com seus ângulos acentuados, tudo isso visava criar um estado de deleite estético naquele que contemplasse a construção.

Westminster Abbey
               
 O verdadeiro Templo é Jesus Cristo e o seu Corpo Místico.


Para os cristãos franceses os labirintos eram chamados de Chemin de Jérusalem, ou Caminho de Jerusalém. E em igrejas como Chartres e Reims os peregrinos tinham de perfazer seu trajeto de onze voltas de joelhos. O onze estava associado ao pecado por ser o número que excedia aos dez mandamentos sagrados. Essa forma de peregrinação aludia à subida de Jesus ao Gólgota, onde ao chegar, e antes de expirar na cruz, ele encontra o seu Deus. Por isso a saída dos labirintos nos templos cristãos era defronte ao altar, para simbolizar esse encontro com o Divino. Os labirintos medievais encontravam-se sempre no portal oeste das igrejas


Labirinth Cathedral Chartres
Alcobaça Mosteiro


Cathedral Cologne 
Cathedral Cologne
Portal da Catedra de Sevilha
"Ego sum ​​óstio por si me QUIS introierit salvabitur
 et ingredietur et egredietur et pascua inveniet"

João 10,9

"Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo;
poderá entrar e sair, e encontrará pastagem"





A fachada principal de Notre-Dame de Paris, a única basílica com duas torres quadradas , vista para a praça em Ile de la Cité, tem a fachada com três grandes portas em arco.




 
As portas têm no centro e nos lados as estátuas. Em ambos os lados da principal porta e no meio  há uma estátua.



 à direita : a mulher inclinando a cabeça e uma serpente cobre seus olhos como uma bandagem e arrogantemente sibila para nós do topo de sua cabeça. Uma coroa fica caída a seus pés, algumas tábuas de pedra parecem estar escorregando de sua mão direita, e ela está desanimada, segurando um estandarte quebrado.
Uma imagem sinistra, de fato.

 a mulher inclinando a cabeça e uma serpente cobre seus olhos como uma bandagem e arrogantemente sibila para nós do topo de sua cabeça



algumas tábuas de pedra parecem estar escorregando de sua mão direita,



 e ela está desanimada, segurando um estandarte quebrado.



Uma coroa fica caída a seus pés



 À esquerda da porta do meio, a estátua é decididamente mais alegre. Com o peito e um impulso dos quadris, esta senhora está coroada e com um halo de santidade; a cálice transbordando na sua mão, confiante segura um estandarte com a cruz no peito.A pequena bolsa fixada no cinto está repleta de graças para serem distribuídas. 

O que tudo isso pode significar?

Os nomes das estátuas vão nos dar alguma ideia. O personagem de cobra-citado acima é chamado de “sinagoga”.
 E a outra é chamada de “Igreja”.
 A “Sinagoga”, virando as costas para a “Igreja”, simboliza que perdeu seu poder, sendo derrotada e destronada; as tábuas de antiga lei de Moisés escorregam de sua mão.
 A “Igreja” orgulhosamente detém alta cruz de Cristo, e o cálice simboliza a Santa Comunhão, a Última Ceia, e outras coisas que não são do interesse “Sinagoga”.



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