Com centena e meia de peças, muitas delas "resgatadas ao abandono e ao esquecimento", o Museu Diocesano de Arte Sacra será inaugurado na próxima sexta-feira no edifício da Sé de Santarém, graças a um investimento de 1,7 milhões de euros.
"Este é um projeto que se impunha na relação da Igreja com o Mundo e com a Cultura, pois não temos o direito de esconder a visibilidade do património e herança cristã", disse à agência Lusa Joaquim Ganhão, diretor do museu e responsável pela Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja.
Integrando o projeto "Rota das Catedrais", o museu vai ter em exposição permanente cerca de 150 peças de um total de 300 que foram alvo de reabilitação desde que se iniciou, em 2005, o processo de inventariação, valorização e restauro do espólio da diocese.
Por isso, o museu, com várias salas e espaços de visitação, que incluem a Sé e o corredor nobre do Paço Episcopal, tem um espaço para exposições temporárias - a funcionar no antigo refeitório jesuíta -, onde poderão ser mostradas peças que agora ficam na reserva.
"Queremos aqui também fazer representar o território diocesano", disse à Lusa Eva Raquel Neves, a técnica de conservação e restauro que acompanha o projeto desde que, concorrendo a um estágio, começou a fazer o inventário da diocese de Santarém.
Na exposição permanente encontram-se, além das peças que fazem parte do espólio da Sé, muitas outras pertencentes às paróquias.
"Fomos percebendo ao longo dos anos que havia muito património perdido, em arrecadações, em vãos de escada, muitas peças despejadas com a destruição dos conventos (no final do século XIX)", disse, frisando que o inventário ainda não está completo.
Uma das peças que simboliza o "resgate" permitido pelo projeto é uma pintura da Anunciação, do século XVI, que chama a atenção na primeira sala: duas tábuas fragmentadas encontradas aquando do restauro do altar-mor da Igreja de S. João Batista, em Pedrógão (Torres Novas).
"Quando virámos as tábuas encontrámos a pintura", que estava em muito mau estado e surge agora permitindo uma "boa leitura", disse.
O percurso começa na antiga entrada jesuíta do "magnífico e vasto edifício, de traça do arquiteto régio Mateus do Couto (tio), localizado na principal praça da então Vila de Santarém", erigido sobre as ruínas do Paço Real, e cuja recuperação da fachada constituiu a primeira fase do projeto inserido na "Rota das Catedrais" juntamente com a reabilitação de seis dos oito altares da Sé.
Depois da passagem por um pátio interior, a primeira sala revela a "boca do poço do Paço medieval", descoberta durante as obras, e uma pintura em grande escala da Santíssima Trindade, elemento presente ao longo de todo o percurso.
A padroeira da Sé, Nossa Senhora da Conceição, recebe os visitantes na sala seguinte, dedicada à Encarnação, com muitas imagens de Maria e onde se podem ver as tábuas fragmentadas, um presépio em terracota ou um retábulo que se supunha desaparecido, encontrado na Igreja de Tancos (Vila Nova da Barquinha), talvez o restauro mais caro, realizado na Universidade Católica do Porto.
Na sala da Paixão, muitas pietás (Maria com o corpo de Jesus morto no colo) e o Cristo de Mont'Iraz, escultura de madeira do século XIII em que o braço direito de Jesus está descaído. A peça, que inspirou a lenda local da Pastorinha, terá pertencido a um grupo escultórico da Descida da Cruz, entretanto desmembrado.
Exemplo da cooperação das paróquias (111 na Diocese de Santarém) é a Última Ceia, de Gregório Lopes, pertença da Igreja de S. João Batista, em Tomar, que Joaquim Ganhão classifica como "emblemática e significativa".
A antiga zona de balneários deu lugar a um espaço expositivo que teve de recorrer a painéis em tijolo vermelho, forma de impermeabilizar a sala dedicada ao Testemunho da Igreja no Mundo, havendo ainda, depois do refeitório, uma sala "mais telúrica", com imagens usadas nas procissões.
O percurso completa-se com uma subida ao Corredor Nobre, onde se encontra a Série Régia, o Ciclo dos Patriarcas, um núcleo dedicado à religiosidade popular, e uma sala de reuniões.
Fonte: Diário de Notícias
Que Deus abençoe esse museu! E logo em Santarém! Local do Santíssimo Milagre Eucarístico! Um dia me mudo para lá! Paz e bem!
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