sábado, 7 de setembro de 2013

Iniciada a restauração da igreja Matriz de Maria da Fé com apoio da Lei Rouanet


Texto e fotos: Herika Nogueira

Teve início o trabalho de restauração da Matriz de Nossa Senhora de Lourdes, localizada no município de Maria da Fé, no Sul de Minas Gerais. O projeto de restauro da igreja está aprovado pelo Ministério da Cultura - MinC para captação de recursos através da Lei de Incentivo à Cultura, Lei Rouanet, possibilitando que cidadãos (pessoa física) e empresas (pessoa jurídica) apliquem parte do Imposto de Renda devido nas obras de restauração.

A centenária Matriz de Maria da Fé é Patrimônio Cultural, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA. ´A Matriz é considerada o maior e mais significativo bem patrimonial mariense. Destacam-se as pinturas feitas pelos irmãos Pietro Gentilli e Ulderico, em 1940, e as esculturas em madeira marmorizada e gesso, de Marino Del Fávero. Ela atrai turistas de diversas localidades e tem grande importância para a cultura e a história de nossa região´, realçou o Padre Leonardo Almeida Pereira, proponente do projeto.

Padre Leonardo destaca também a importância da Matriz na religiosidade do povo mariense. “Além do valor artístico, menciono o valor religioso. Maria da Fé é predominantemente uma cidade de católicos. Então, o templo, a igreja, representa esse sinal de fé e de unidade da comunidade”, expressou o Padre.

O Ateliê Arte e Restauro Juarez Oliveira está responsável pela coordenação e realização da restauração da Matriz. Além das pinturas dos irmãos Gentilli, o restauro deve abranger a estrutura física da igreja, que apresenta problemas nas instalações elétricas, de infiltração e de trincas nas abóbodas laterais. Segundo o Padre Leonardo, as esculturas estão conservadas, mas será feito um estudo de viabilidade técnica e financeira para a conservação das imagens.

O Ministério da Cultura aprovou o projeto no valor aproximado de 1,5 milhão de reais. Para viabilizar o início das obras, a Matriz conta com o patrocínio de 500 mil reais da empresa Tractebel Energia que, além de ter benefícios fiscais da Lei Rouanet, fortalece a iniciativa para a preservação desse bem patrimonial de relevante importância artístico-histórico-cultural.

Para a continuidade das obras de restauração da Matriz de Maria da Fé será necessária a captação de novos recursos. Pessoas jurídicas e físicas podem contribuir, por meio de doação ou patrocínio, com abatimento de 100% do valor incentivado até o limite de 4% do Imposto de Renda devido pela pessoa jurídica e 6% pela pessoa física. Somente podem incentivar pessoas jurídicas que sejam optantes pelo regime de tributação lucro real ou pessoas físicas que apresentem a declaração de imposto de renda completa.

A Incentive Projetos e Eventos orientou a elaboração do projeto, a criação do Conselho Gestor de Obra - formado por pessoas da comunidade mariense, e o encaminhamento da proposta ao Ministério da Cultura – MinC. Hoje a empresa auxilia o proponente na coordenação administrativa e financeira.

A previsão de término para a restauração completa da Matriz é de dois anos. ´Se a equipe técnica descobrir problemas mais sérios, este prazo poderá sofrer alteração´, finalizou o Padre Leonardo.

Profissionais envolvidos
Dannyele, Padre Leonardo, Mônica e Sérgio

A equipe de profissionais do Ateliê Arte e Restauro Juarez Oliveira, está composta pela Arquiteta Chefe, graduada na Argentina, Adriana Mônica Martin; pela Historiadora da Arte, formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, e auxiliar de restauro, Dannyele Liberato; e pelo Restaurador, que há 20 anos trabalha em patologias de edificações e recuperação de pinturas, Francisco Sérgio Pimentel.

Os profissionais, os equipamentos de proteção individuais – EPI´s, andaimes e ferramentas chegaram a Maria da Fé no mês de junho. Em julho, começaram os trabalhos de prospecção da estrutura física e das pinturas, na lateral direita da igreja.

Análise Técnica
Segunda a Arquiteta Chefe, Mônica Martin, a restauração da Matriz está no estágio de verificação, ou seja, de constatação das condições da estrutura física e de averiguação do estado das pinturas.

A equipe técnica de restauro identificou a existência de trincas e de problemas no forro, no telhado, no sistema elétrico e no sistema de vazão da água pluvial, provavelmente causados por reformas anteriores.

A Arquiteta Chefe destaca o problema de infiltração como emergencial. ´O sistema de vazão não foi dimensionado adequadamente. A má captação do sistema de águas pluviais causa grande infiltração, com acúmulo de água e de umidade no interior da igreja, comprometendo o forro, as paredes, as janelas, as portas e a pintura´, esclareceu Mônica Martin, que estabeleceu algumas medidas emergenciais, visando à preservação da estrutura do edifício e o prosseguimento das obras de restauro da Matriz.

Participação da Comunidade
A participação da comunidade de Maria da Fé está registrada na história da Matriz de Nossa Senhora de Lourdes desde a criação da Paróquia, em 1908, mobilizando ações, apoiando e investindo recursos.

Para a atual restauração da Matriz, a comunidade participa também através do Conselho Gestor de Obra, formado por marienses que, de alguma forma, podem contribuir e auxiliar mais diretamente nos trabalhos de restauração. O Conselho é responsável, principalmente, pela fiscalização da obra. Está presidido pela Professora Mari Léa Zaroni Campos, que possui relevante conhecimento histórico sobre a Matriz, e tem como vice-presidente o Advogado Osvaldo Renó Campos. Também compõem o Conselho: Maria Aparecida da Silva Machado (Nenzinha), organista da Matriz por décadas, tendo acompanhado a restauração realizada em 2000; Márcia Freitas, Presidente e representante do Conselho Municipal de Cultura; Adilson Santos, Prefeito Municipal; Valdemar Zaroni e Lázaro Barnabé, interlocutores com a comunidade; além do Padre Leonardo Almeida Pereira, proponente do projeto.

História da Matriz de Nossa Senhora de Lourdes
A Paróquia de Maria da Fé foi criada oficialmente na data de 27 de outubro de 1908.

Em 1922, a pequena igreja foi incendiada por uma vela acesa e esquecida na sacristia, ficando em destroços. Somente a primeira imagem de Nossa Senhora de Lourdes, feita de madeira, não foi consumida pelas chamas e decora, até hoje, o altar mor da atual Matriz.

Após a demolição do antigo edifício, teve início à construção da nova Matriz, em 1928, por iniciativa do Padre Lauro Augusto de Castro, contando com a dedicação e recursos da própria comunidade mariense.

Em 1931, as obras foram paralisadas por falta de recursos, sendo retomadas em 1932, ano em que o altar mor, todo em mármore Carrara, chegava ao Brasil encomendado da Itália. Em 1933, a Matriz estava parcialmente construída, faltando apenas a pintura interna e a decoração da mesma. Na torre central está o campanário, com três sinos de bronze e um relógio.

Pietro Gentilli e seu irmão Ulderico, italianos de nascença, iniciaram a pintura da Matriz em 1939. Enquanto Pietro se dedicava aos quadros, seu irmão decorava o fundo das paredes, bordas e roda tetos. As pinturas são de extrema beleza e harmonia, as cores e os desenhos combinam-se perfeitamente. As obras foram finalizadas em 1940.

Marino Del Fávero, também italiano, assina as esculturas datadas de 1932. Anjos, imagens, o púlpito, detalhes das bordas das postas e arcos, capitéis das colunas e os altares das capelas laterais, foram confeccionados pelo artista em madeira marmorizada, gesso e metal.

Os irmãos Gentilli e Marino Del Fávero têm expressiva representatividade na arte sacra brasileira, com obras em várias igrejas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Em 1º de novembro de 1940 era inaugurada a obra da Matriz de Nossa Senhora de Lourdes.

Entre os anos de 1970 e 1983, a Matriz passou por reformas em sua estrutura física. Em 2000, foi feita a restauração de sua pintura interna e no ano de 2008 houve uma reforma na cobertura do edifício, com substituição de calhas, rufos e adequação das descidas de água pluvial.

A Matriz de Maria da Fé, templo de fé e devoção, é também uma obra de arte que conta uma história a ser preservada


Fonte: Revista Centenário Paróquia de Maria da Fé: História e Memória Coletiva – Volume 1

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