Arte Cusquenha: Maria Santíssima e o menino Jesus. |
Se existe uma venerável arte
sacra cuja contemplação eleva a alma do Católico aos píncaros da fé, tal
arte poderia ser apontada como a Arte Sacra Cusquenha.
Caracterizada por traços suaves, tonalidades vivas e augusta beleza das
indumentárias, de modo que ao mesmo tempo exala em suas matizes cândidas
nuances de uma linha artística realmente voltada à Deus, a Arte
Católica Cusquenha é muito especial em diversos ângulos.
Advinda dos habitantes recém-convertidos de Cusco (Peru, ainda na época da colonização espanhola do até então Império Inca),
sua beleza não somente provém da mistura do Flamengo com o Bizantino,
mas deriva de uma característica que é perceptível ao mais ignorante
apreciador de obras: a tenacidade na representação propriamente indígena
e o fausto assaz das obras que imprimem toda veneração que se pode
conceder ao âmbito religioso.
São José em Arte Cusquenha - Artista deconhecido |
Não é à toa que até o presente
momento muito se retrate esta arte envolta de sacralidade; seja porque
sua representação explore a mais profunda vivacidade que uma pintura
pode alcançar, ou ainda, pelo fato de que a aproximação com o real
ultrapasse o material e nos leve a admirar a santidade retratada em
pinceladas, trazendo-nos pela mesma admiração uma fé espontânea que pode
até ser para nós desconhecida em um primeiro momento, não deixando por
isso de ser agradável e afável. Por isso, pode-se dizer que esta é a
arte sacra das Américas por excelência; a arte que enaltece a santidade e
serve de meio para uma adoração mais perfeita à Santíssima Trindade.
José e Jesus, c. 1700 |
A Arte Cusquenha nasce
de uma escola que leva o nome da região em que a mesma estava situada -
Escola de Cuzco -. Tal instituição, criada pela Companhia de Jesus (Societas Iesu, S. J)
e continuada após a supressão da Ordem, possui alguns pilares quando da
disponibilização do estudo de artes para os indígenas: 1º - O
aproveitamento na fé, objetivando-se o ensino artístico a fim de
absolver mais almas para a Santa Fé e salva-las; 2º - Dignificação dos
índios, algo que poderia ser realizado por meio da demonstração aos
Europeus de que a capacidade dos mesmos no campo artístico era excelsa,
tal qual nas artes dos cânticos e da fé; 3º - Produção de um novo estilo
que se adaptasse ao cotidiano indígena, algo necessário para aproximar a
piedade cristã da realidade indígena e etc. Em resumo, sem dúvidas se
fazia necessário tais aportes realizados pela Companhia de Jesus, não
somente a fim de evitar a escravização indígena - algo buscado nas
reduções que se espalharam na América do Sul -, mas também para a
conversão dos povos que embora possuíssem senso religiosos
extra-ordinário, ainda direcionavam sua fé para deuses pagãos.
O propósito primário desta produção era didático. Os espanhóis, desejando converter os Incas ao Catolicismo, enviaram para a região missionários com o objetivo de lhes ensinar a religião através da arte. Fundaram-se então oficinas onde os padres lhes ensinaram a pintar, sendo esse núcleo considerado o primeiro centro artístico organizado das Américas. Logo seu estilo se expandiu para outros centros coloniais da Bolívia e Equador.¹
Detalhe de rara pintura, onde se vê a figura de Cristo repetida por 3 vezes, representando a Santíssima Trindade na coroação de Maria - século XVI - coleção particular - Rio de Janeiro. |
A Escola frutificou tal qual o joio (não indico no sentido pejorativo, mas tomo este exemplo para demonstrar a disseminação da Arte Sacra em campos silvícolas)
relatado por Nosso Senhor Jesus Cristo - que penetra nos campos e
searas alheias e se torna inextinguível -. Suas produções são
verdadeiramente demonstrativas do quanto a fé cristã pode mobilizar uma
sociedade em favor de causas santas e dignas.
Várias obras se tornaram famosas
em união com seus artistas, podendo-se apontar os principais nomes que
pululavam desta Escola: Bernado Bitti (Italiano, um dos primeiros introdutores da arte em territórios cusquenhos), Luis de Riaño (Grande consolidador da arte), Diego Cusihuamán, Diego Quispe Tito, Basilio Santa Cruz Puma Callao, Marcos Zapata e Marcos Retira.
O que ratifica de maneira plena a
riqueza desta confluência de artes, impoluta, ao contrário das artes
que nasciam em território outro (artes renascentistas da Europa,
contaminadas por pornografias e naturismo), é a fecundidade visível nas
obras deixadas pelos artistas de maior quilate. E um dos redutos de tais
obras está localizado na própria cidade originaria - Cuzco - cuja
Catedral é coroada com verdadeiras obras de artes como A Coroação das Virgens e A Virgem das aves.
Virgem do Carmelo |
E embora não fosse um fim
direto, logo se tornou um dos objetivos da produção artística de Cusco a
via econômica. Isto porque a conseqüência de tamanha beleza dos quadros
fora o aumento na demanda da produção, natural no que toca às artes
sacras; produzindo-se, inclusive, em Mosteiros e Abadias para o próprio
sustento das mesmas. E é por meio de tal arte que a cidade de Cuzco até
os tempos hodiernos consegue manter parte da população católica, algo
iniciado a partir do Sec. XVII³ e que se tornou tradicional na cultura
andina.
Nossa Senhora ao Centro, Jesuíta à direita e S. Sebastião à Esquerda. |
Particularmente a arte
se concentrava na Hierarquia Angelical, representando em diversas obras
os Arcanjos e os demais anjos, e também nos santos de maior
popularidade entre os neo-cristãos e os colonizadores espanhóis, tal
qual alguns Títulos Marianos e santos de especial devoção, como São
José. Todavia, uma das principais marcas desta arte é a representação
comum de Maria com o menino Jesus, que - descrevendo de maneira abrangente
- traz sempre uma beleza singular não encontrada em outras
representações sacras. Pode-se, pois, aferir que tal sensibilidade é uma
herança indígena que ricamente purpura a citada vertente Cusquenha,
herança esta que atribui especial devoção à imagem binária que tanto
ocupa as orações católicas: Jesus e Maria.
Esta é a importância da Arte
Cusquenha, tanto cultural como econômica; sustentado várias famílias
católicas e enriquecendo nossa religiosidade com belos quadros e
afrescos cujas notas nos remetem diretamente à algo celestial e
majestoso que ultrapassa nossa miserável realidade de pecados.
Calvário, século XVIII. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo |
¹ - Vide artigo completo em Wikipédia (Acessado em 10 Março de 2011): http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Cuzco
² - Informações detalhadas em Wikipédia em Espanhol (Acessado em 10 março de 2011): http://es.wikipedia.org/wiki/Escuela_cuzque%C3%B1a_de_pintura
³ - Ibid.
Trecho extraído do site do Apostolado Católico Arauto da Verdade©, disponível no link: http://www.arautoveritatis.com/2011/03/beleza-inefavel-da-arte-sacra-de-cusco.html#ixzz1yTI4FJAJ
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