terça-feira, 15 de abril de 2014

Capelas Rurais Paulistas dos séculos XVII e XVIII, por Carlos Gutierrez Cerqueira

Foto : Júlio Moraes
Foto : Júlio Moraes

Prólogo
A historiografia nos convida a imaginar a vida na extensa circunvizinhança de São Paulo de Piratininga dos dois primeiros séculos como a pintura de uma paisagem predominantemente rural, os morros cobertos por matas, com pequenas aberturas onde se cultivam os víveres indispensáveis à subsistência das famílias espalhadas por este vasto e bucólico cenário, em suas moradias, sempre rodeadas por índios trabalhando, cingindo a terra, conduzindo o gado, transportando coisas.

Uma dessas moradas se destaca sobremaneira já pelo portal de entrada, todo em madeira lavrada, onde, logo depois de ultrapassá-lo, se vê alguns cavalos num cercado tosco tendo ao lado algumas cocheiras, de onde prossegue um caminho adornado por roseiras e marmeleiros de lado a lado até encontrar um pátio onde se dispõem diversas benfeitorias.

O observador atento logo se apercebe da rara presença de mulher branca, aqui apenas assinalada numa figura postada ao lado de um homem barbudo que parece dar ordens, a partir da varanda de uma casa larga e atarracada, a um grupo de índios que se dirige a uma capela alpendrada posicionada a pouca distância.
Bem ao lado da capela alguns índios se ocupam em fincar um pau comprido encimado por uma bandeira, prenunciando alguma festividade.

Outro grupo, este só de índias, se concentra em torno de umas choças, não muito distantes da mencionada casa, onde preparam comidas em abundância.

A normalidade cotidiana parece algo alterada diante de tanta atividade. Alheio a tanta agitação, um padre, provavelmente da Companhia de Jesus, catequiza um grupo de indiozinhos, que parecem entonar cânticos religiosos.

Bem mais adiante, após ultrapassar um trigal bem proporcionado, surge um panorama não muito diverso, exceto em relação à escala dos elementos antes mencionados, que se dispõe em unidades ao longo de um caminho plano, umas de tamanho médio, outras menores, demarcadas por valas e arvoredos de espinho, retratando a vida mais modesta de seus moradores que, todavia dispõem igualmente de alguns índios para o trato de suas lavouras e criações.

O caminho prossegue e mais adiante ainda se vê um grupo de índios transportando sabe-se lá o quê em grades feitas de cipó por sua vez atravessadas por paus que se apoiam sobre seus ombros.

Outro pequeno grupo segue mais adiante conduzindo algumas cabeças de gado. O destino parece ser um platô onde, no alto, se vê um casario descontínuo pontilhado por algumas torres de igrejas que se erguem a pouca altura sobre os telhados dos demais edifícios.

Para além desse elevado, no prosseguimento do caminho, pode-se ainda observar, vindo em direção contrária e tendo à frente homens encimando bandeiras, outros agitando suas espadas, seguidos por um grupo de pessoas armadas, atrás das quais seguem centenas de índios, muitos dos quais acorrentados e cercados por outros índios que, com lanças em punho ou porretes à mão, os conduzem em fila. Apesar da distância, percebe-se o grande número de mulheres e crianças, algumas de colo, que, abraçadas ou de mãos dadas, seguem enfileiradas.

E, por fim, no lado oposto e à meia altura do quadro, num clarão da mata, se vê uma capela com um edifício anexo tendo vários casebres no entorno de uma larga praça assim formada, com inúmeros índios próximos à figura de um padre a gesticular e apontar para o céu!

Veja aqui a íntegra do texto – Capelas Rurais Paulistas dos séculos XVII e XVIII

Fonte: Casa do Patrimônio Vale do Ribeira

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