Um relato de uma pessoa que teve como professor um "Padre Santo", o Venerável Pe. Rodolfo Komórek. Saiba mais de sua vida e da Causa de Beatificação no blog: Padre Rodolfo Komórek.
Quando Nosso Senhor escolheu os apóstolos para fundamentarem
a sua Igreja deu-lhes esta palavra de ordem: ide.
Pe. Rodolfo foi bem o homem que caminhava. A graça de Deus
em marcha, encarnada naquela figura bem-aventurada do enviado evangelizante.
Em 1936 foi mandado para Lavrinhas, no Estado de São Paulo.
Lavrinhas, minúscula cidade às margens do Rio Paraíba, perto da fronteira com o
Estado do Rio de Janeiro. Ali os salesianos mantêm um de seus seminários
menores, a mais famosa casa de formação da Província do sul do Brasil.
Como o Pe. Rodolfo nunca soube dizer “não”, quanto antes o
compareceu no seminário. Trazia por toda bagagem um embrulho que continha os
volume do breviário, dois livros de leitura meditação. Sobre o corpo envergava
duas velhas batinas superpostas, e por cima de tudo um vetusto guarda-pó.
Calçava sapatos paupérrimos. Chapéu surrado, herança de algum irmão falecido.
Deus lhe bastava.
Ia como confessor, cargo para o qual estava eximiamente
habilitado. E também professor, incumbência inédita em sua vida. Era então o que mais trabalhava. Levantando-se às três horas
ia para a Igreja dizer o breviário até as 4h30. Depois abria a porta e se punha
no confessionário.
Tive a oportunidade de conviver com ele como seminarista que
eu era por aquela época. O mais das vezes tínhamos ocasião de avizinhá-lo
apenas nas aulas, na santa confissão e nos passeios de quinta-feira.
Dava aulas de desenhos, de geografia e de matemática. Exigia
absoluto silêncio durante as lições. Nos exames passava as questões e se
ajoelhava em seguida ao lado da cátedra no duro ladrilho, a recitar o breviário
ou o terço. E aquele edificante espetáculo geralmente desfazia nos alunos todas
as intenções de usar subsídios fraudulentos.
Uma vez nos confidenciou que rezava naquelas circunstâncias
pelo bom êxito de nossas provas. Ficamos muito satisfeitos, confiados na
eficácia de suas preces, já que não podíamos contar com sua camaradagem. Era
bem conhecido como por demais justo para descambar na mínima parcialidade.
Não permitia nenhum gracejo de nossa parte e não dava nunca
ocasião de hilaridade. O único alívio que concedia aos nossos nervos
irrequietos solicitados pelo frescor das manhãs de junho era um pouco de
ginástica, em classe mesmo no início da lição. (...) O santo mestre tinha
adivinhado na sua simplicidade o nosso fraco e o início de sua aula era
evidentemente desejado.
Na classe de desenho, com tenacidade não comum exigia que
traçássemos linhas retas, sem régua. Era uma inovação dolorosa e nos custava
obedecer. Se alguém transgredia e usava quaisquer adminículos (o nosso
desespero chegava a encontrá-lo até nas margens de nossas gravatas) o professor
estava sempre ali, a reprovar com seus bons modos, batendo sem ruído as palmas
das mãos observando o transgressor com seu verbo do infinito e sua bondade
também quase infinita: “não reguar... não reguar”.
Se um outro em vez de uma linha reta traçasse uma sinuosa
não devia apagar com a borracha, mas prosseguir implacavelmente a fileira dos
famigerados segmentos verticais. A borracha era abolida; porém “de contrabando”,
quase sempre se tentava esfregar o próprio erro, quando... Lá vinha o austero
professor com seu verbo infinito e sua enérgica bondade quase infinita: “não
borrachar... não borrachar”.
Entretanto para nós, as suas lições, realmente formativas,
eram 45 minutos de verdadeiro exercício de vontade. Independentemente, porém de seu proceder
severo, havia, sobretudo a sua virtude que nos bloqueava naturalmente a
vivacidade.
Éramos possuídos de um senso de respeito pela sua figura
ascética e penitente; tínhamos a impressão de que uma perturbação qualquer diante
dele assumia as proporções de sacrilégio. Grande parte dos alunos se confessava
com o Pe. Rodolfo. (...)
Mostrava-se rigoroso na nota. Geralmente era da opinião que
só Nosso Senhor merecia 10... E aceitava qualquer aula que lhe mandassem
ministrar, sem nenhuma objeção. Era extremamente devotado. Preparava-se com
inapontável esmero, e apesar de suas intensas fadigas no ministério, dava 28
aulas semanais. (...)
O Pe. Rodolfo salientou-se como educador, no sentido de
aproveitar todas as ocasiões oportunas para corrigir os erros dos alunos. Ele acreditava
na obra da graça, bem sabendo que quem opera em nossas almas é o Espírito Santo.
Mas a graça não destrói a natureza, a qual permanece com as suas más tendências
e quem não a perde não a pode salvar. A sua vida era uma encarnação do “abneget
semetipsum”, (renuncia-se ti mesmo). E o Evangelho que era verdadeiro para ele,
devia ser também para os outros.
Texto do Pe. Ébion de Lima.
Capítulo XII - Livro: Rodolfo Komórek, o “Padre Santo” – 2ª
Edição - Editora Salesiana, São Paulo, 1972
Salve Maria,
ResponderExcluirConheci seu Blogger e o achei mto bom
Para vosso conhecimento:
http://juliosevero.blogspot.com.br/2012/10/eua-nao-tem-mais-maioria-protestante.html
Aliás, os temas que esse blogueiro aborda é de altíssimo nível, sugiro conhecê-lo, inclusive lendo o seu perfil.
Att.
Eduardo - MG