quinta-feira, 28 de julho de 2016

Beleza e descaso convivem em Ouro Preto (MG), Patrimônio da Humanidade

Além do trânsito caótico, a falta de conservação ameaça bens da antiga Vila Rica. Moradores lutam por restauração.


Igreja barroca do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Ouro Preto, está fechada desde 2014 e comunidade cobra recursos para restauração. (Foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)

A Igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos pede mais do que socorro – grita por salvação. O sinal mais evidente desse clamor está na fachada barroca, na qual uma placa mostra que a comunidade, em especial do Bairro Cabeças, está unida pela restauração, embora aguardando há anos pelas obras e recursos federais. O lugar para pôr o cartaz não poderia ser mais emblemático: na portada de pedra-sabão, sob a imagem de São Miguel Arcanjo resgatando as almas do purgatório, esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). A beleza e o horror se revelam ao mesmo tempo, pois a peça se degrada a cada dia, com parte dos anjos quebrada e a cena do purgatório no mesmo ritmo, seguindo a passos largos para o inferno da destruição. Esse é um dos lados tristes dos bens culturais de Ouro Preto, primeira cidade brasileira (1980) reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

“O título é muito importante, aumenta o turismo. Mas se não tivermos os bens conservados, o que os visitantes vão ver?”, pergunta com preocupação o juiz da Irmandade do Senhor Bom Jesus, São Miguel e Almas e zelador do templo, José de Paiva Gonzaga. Mais conhecido como Til, ele atuava como sacristão, quando a igreja estava em atividade. “Foi fechada em 2 de novembro de 2014”, conta Til, lembrando que era Dia de Finados e a poucos dias das homenagens ao Barroco mineiro e à passagem dos 200 anos da morte de Aleijadinho.

O interior da igreja, datada de 1763 e com previsão de receber recursos do Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas (PAC-CH), está interditado por medida de segurança. O zelador informa que todo o forro foi retirado, deixando à mostra as vigas de madeira. “Está tudo podre, com alto risco de causar acidente”, diz olhando para o alto. Já do lado de fora, Til mostra a estrutura que parece pender para o lado esquerdo.

Problemas a parte, Ouro Preto não deixa de atrair turistas, com a maior parte se concentrando na Praça Tiradentes, e, dali, partindo em busca dos tesouros que a cidade, antiga Vila Rica, oferece, como o Museu da Inconfidência, a Igreja de São Francisco de Assis, uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo, a recém-restaurada Igreja de Santa Efigênia, a Escola de Minas, antigo Palácio dos Governadores, a Basílica de Nossa Senhora do Pilar e outros.

Problemas

O grande desafio, entretanto, é equacionar problemas do século 21, principalmente, a circulação de veículos, – atualmente, conforme o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)/Ministério das Cidades, a frota é de 32,7 mil contra 15,7 mil em 2006, em cidade do século 18 onde vivem 70 mil habitantes (sede e 12 distritos) e que recebe de 15 a 25 mil visitantes por mês. Para atendê-los, há 161 hotéis e pousadas, o que, segundo a Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio, tem sido suficiente.

Na tarde de quarta-feira, em frente à Escola de Minas e ao Museu da Inconfidência, havia dificuldade até para a travessia dos turistas, já que as duas “ilhas” existentes foram retiradas. “Fica perigoso para se chegar do outro lado, pois há muitos carros. Queremos muito visitar o museu, mas está quase na hora de fechar”, comentou a aposentada Mary Spessoto com a amiga Cléo Pussi, ambas residentes em Franca (SP) e visitando a cidade pela primeira vez. Com calma, as duas atingiram seu objetivo e, antes, teceram elogios a Ouro Preto. “Motivo de orgulho para todos os mineiros”, afirmou Mary. “É lindo!”, ressaltou Cléo.

O promotor de Justiça de Ouro Preto, Domingos Ventura de Miranda Júnior, afirma que o tráfego intenso de veículos no perímetro tombado é constante fonte de problemas, “não só pelos gargalos no trânsito, mas também pelos danos que causam às edificações e à infraestrutura urbana”. Para ele, a implementação do plano de mobilidade urbana e a licitação do transporte coletivo com baixa tarifa e frota compatível com as estreitas e ladeirosas vias são premissas essenciais da atuação do Ministério Público.

O secretário de governo e responsável pela Superintendência de Trânsito, Marco Antônio Nicolato Medírcio, reconhece o déficit de infraestrutura para pedestres e que o Plano de Mobilidade Urbana a ser implementado vai resolver uma série de questões na cidade. Ele explica que já foram adotadas medidas pontuais, que não solucionaram o problema de maneira abrangente.

Ouro Preto
Monumentos que seduzem visitantes na cidade, reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco, em 1980


. Museu da Inconfidência
. Basílica de Nossa Senhora do Pilar
. Igreja de São Francisco de Assis
. Escola de Minas

Por Gustavo Werneck

Fonte original da notícia: em.com.br

Fonte: Defender

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