A todo cristão vale a doutrina básica de que Nosso Senhor e Salvador Jesus é o verbo de Deus encarnado, em tudo igual a Deus e em tudo igual ao homem, exceto no pecado, que por nós morreu e ressuscitou. Assim, Deus não é para nós algo distante ou invisível, haja vista que em Cristo contemplamos a segunda pessoa da Trindade, que é um só com o Pai e o Espírito Santo. Portanto, para nós cristãos, Deus é também tangível, é passível de ser tocado ao mesmo tempo que é adorado em toda sua dimensão, por exemplo, na Santíssima Eucaristia, que é verdadeiramente o Cristo em corpo, alma e divindade.
Nenhum objeto material é santo por si mesmo, mas é santificado pela misericórdia de Deus no momento em que começa a fazer parte das coisas do alto, ou seja, quando começa a ter parte com o céu, o qual pertence a Deus. Ora, tudo aquilo que então tange o sagrado é automaticamente “sacralizado” por fazer parte diretamente do mistério divino, por mais simples ou controverso que seja sua matéria ou simbologia.
Como é possível que duas simples barras que se cruzam possam nos dizer tanto? Como um símbolo de punição e morte pode converter-se em sinal de salvação e vida? Ora, na cruz tudo é consumado, todo o Amor de Deus pela humanidade é escancarado pelos séculos dos séculos, fazendo com que o madeiro da cruz deixe seu posto de sentença aos criminosos e se eleve a um verdadeiro marco donde é derramada a redenção para a humanidade.
Contemplar a cruz é, portanto, contemplar onde se deu o verdadeiro duelo entre a vida e a morte, no qual Nosso Senhor Jesus Cristo venceu e triunfou por Amor, derrotando a morte e o pecado. A cruz é para todo cristão o símbolo maior do Amor de Deus para conosco, não pelo objeto em si, mas por todo mistério nele realizado, pela vitória nela alcançada por Cristo a qual nenhum outro objeto material já existente neste mundo ou em qualquer outro pode abrigar. Somos todos marcados pela cruz e carregamos a vitória nela alcançada através de nosso batismo.
Tratar a cruz como um símbolo é primeiramente entender que a palavra “símbolo” quer justamente dizer “ação de unir”. Todo símbolo nos remete a um significado e nos transfere a uma realidade atemporal, tornando-nos comuns àquilo que representa, quando compreendemos, evidentemente, seu significado. Sendo símbolo do sacrifício de Nosso Senhor e Salvador, a cruz é um elo visível entre todo cristão e o próprio Cristo, que se deu na cruz por todos nós. Ela nos une a todo mistério da salvação, ao evangelho, a toda igreja e a todas as pessoas que creram, creem e crerão em Cristo como Nosso Senhor e Deus até a consumação dos tempos. Toda a igreja se encontra na cruz, independente do tempo ou da circunstancia, do contexto cultural ou político, ela assinala nossas vidas em tempos de paz ou tribulação, ela nos dá esperança, nos abençoa e nos guia, por exemplo, pelas mãos do sacerdote que a traça sobre nós agindo na pessoa do próprio Cristo.
Toda cruz é formada basicamente por duas barras que se cruzam num ângulo de 90º. Há, entretanto, diversos modelos de cruzes que variam em seus elementos, enriquecidas através dos tempos pela arte sacra, pela arquitetura e atualmente, inclusive, pelo design, nesse último caso em propostas visuais contemporâneas que buscam enaltecer o caráter tão antigo, porém sempre tão novo da mensagem evangélica. Entretanto, toda representação da cruz obedece (e deve obedecer) sempre à formatação básica de duas barras cruzadas, possuindo às vezes até outras barras como forma de evidenciar sua pretensão simbólica, que podem, sem detrimento algum de sua essência, variar de acordo com a tradição artística e litúrgica do contexto no qual a mesma está inserida.
É o caso da cruz eslava, também conhecida por cruz de oito braços, bastante comum nas igrejas de tradição bizantina, onde cada barra horizontal possui um significado distinto, porém que se complementam formando uma única mensagem. A barra superior simboliza a inscrição sobre a cabeça de Jesus, a central (e maior) onde as mãos de Jesus foram pregadas e a inferior o apoio onde foram pregados os pés do Senhor.
Cruz eslava
Outra variação de modelo de cruz bastante curiosa é a chamada “cruz copta”, tradicionalmente utilizada pelos cristãos do Egito. Cada extremidade dos braços da cruz possui três pontas, simbolizando a Trindade, somando ao todo doze pontas que remetem aos doze apóstolos, aos quais foi confiada a Igreja e a pregação do Evangelho até os confins da terra. É notório que a diversidade de tradições cristãs incrementou o formato básico da cruz, como forma de enfatizar toda a riqueza simbólica impregnada nela, por talvez muitas vezes tal riqueza não apresentar-se de forma clara, porém em si não menos verdadeira. É como se cada formato ou variação de elementos quisesse expor ainda mais a riqueza intrínseca à forma básica da cruz, fazendo com que a mesma, na sua diversidade, seja constantemente enriquecedora para nós em simbolismos, tocando profundamente nossa fé e nos catequizando dia após dia.
Cruz copta
Envergonhar-se da cruz é envergonhar-se do próprio Cristo, de modo que toda relação com a cruz, quer contemplando-a, usando-a como um pingente ou pendurada na sala de casa, quer traçando-a sobre nossa fronte ou sobre a testa dos que amamos, enfim, carregar a cruz em nossas vidas revela nossa íntima relação com aquilo que cremos, afirmando constantemente, como bem lembrou o salmista, sermos sondados por Deus na plenitude de nossas vidas, por todos os lados e em todas as circunstancias. É confessar constantemente que Deus já nos conhecia antes mesmo de sermos gerados e que Nosso Senhor nos amou primeiro, na cruz entregando-se, amando-nos e salvando-nos.
Fonte: Ecclesia Design
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