Homilia
de Dom Geraldo Lyrio Rocha, por ocasião da celebração do tricentenário
do início da construção da Catedral Basílica de Mariana, aos 24 de
outubro de 2013:
A Arquidiocese de Mariana rejubila-se
com a celebração do tricentenário do início da construção desta
Catedral, a primeira do Estado de Minas Gerais e do interior do Brasil, e
a única que conserva os traços originais do período colonial.
Há trezentos anos, iniciou-se a
construção deste templo, como nova igreja matriz da paróquia de Nossa
Senhora da Conceição, que havia sido criada em 1704, pelo Bispo do Rio
de Janeiro, Dom Frei Francisco de São Jerônimo. Como sabemos, iniciou-se
na costa a colonização portuguesa das terras brasileiras. Assim, as
primeiras dioceses se encontram no litoral: São Salvador da Bahia, São
Sebastião do Rio de Janeiro, Olinda, São Luís do Maranhão e Belém do
Pará.
Em 1745, pela Bula Candor lucis aeternae,
o Papa Bento XIV criou a Diocese de Mariana, desmembrada do Rio de
Janeiro, e a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição foi elevada à
categoria de Catedral com o título de Nossa Senhora da Assunção.
Dizem os historiadores que a mudança do
título se deve a um voto do Rei de Portugal quando, em 1385, o reino
português encontrava-se ameaçado pelo reino de Castela. A razão era a
sucessão ao trono de Portugal, ambicionado pelo Rei de Castela que,
através das complicadas linhas dinásticas, era um dos pretendentes. Os
portugueses, comandados por aquele que seria D. João I, resistiram às
pretensões de Castela. O momento decisivo da disputa se deu na manhã de
14 de agosto de 1385. Foi a célebre batalha de Aljubarrota onde os
portugueses, com um exército visivelmente inferior, venceram as armas de
Castela, na véspera da festa da Assunção de Maria. Os lusitanos tomaram
essa vitória como um verdadeiro milagre e o atribuíram a Nossa Senhora
da Assunção.
Segundo Augusto de Lima Júnior, “para
agradecer à Senhora, os benefícios e a salvação de Portugal nesse
momento de tantos perigos, Dom João I determinou que de então em diante,
todas as catedrais do Reino fossem consagradas a Nossa Senhora da
Assunção” (LIMA JÚNIOR, Augusto de. História de Nossa Senhora em Minas Gerais.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1965, p. 105). Ao que tudo indica, D.
João V, em 1745, fez cumprir esse voto em Mariana e São Paulo, as duas
dioceses criadas pela mesma bula pontifícia.
Este evento que hoje celebramos é
carregado de significação: Mariana é a primeira vila, primeira cidade,
primeira capital e primeira diocese de Minas. Aqui nasceu Minas Gerais.
Com sua peculiar erudição e
inconfundível estilo, diz-nos Mons. Flávio Carneiro Rodrigues, Diretor
do Arquivo Eclesiástico de Mariana: “O território coberto pela diocese
primaz de Minas, que compreendia a região mineira então habitada (centro e sudeste),
aproximadamente um quinto do Estado, hoje repartido entre sete
províncias eclesiásticas, se subdividiu numa radiosa constelação de
bispados: Diamantina, Pouso Alegre, Campanha, Juiz de Fora, Belo
Horizonte, Caratinga, Luz, Leopoldina, São João del Rei e
Itabira-Fabriciano. A sua Catedral tornou-se assim a mãe dadivosa de
tantas outras Catedrais”.
E prossegue Mons. Flávio: “De Mariana,
irradiou-se para todos os horizontes mineiros o facho sagrado do
Evangelho que civilizou, educou e engrandeceu a gente mineira. Em
Mariana, se ergueram sólidos os umbrais da Religião Católica para os
montanheses. Assumindo a sua história, nossa Arquidiocese quer guardar
ciosamente o precioso legado que recebeu de seus ancestrais na fé”
(CARNEIRO RODRIGUES, Flávio – Guia Geral da Arquidiocese de Mariana, Ed. Dom Viçoso, Mariana, 2008, p. 20).
Louvamos e bendizemos a Deus pelos
bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, leigos e leigas que nos
precederam na fé e escreveram as belas páginas desta rica história
tricentenária. Doze bispos me antecederam na Cátedra Marianense,
formando uma esplendorosa coroa que fulgura no firmamento desta Igreja
particular. Entre as mais brilhantes estrelas destacam-se especialmente:
O primeiro Bispo Dom Frei Manoel da Cruz que aqui chegou, vindo de São
Luís do Maranhão, depois de uma homérica viagem de 4.000 quilômetros,
pelo interior brasileiro, que durou quatorze meses. Foi um apóstolo
intrépido e entre os seus feitos destaca-se a fundação do seminário de
Mariana em 1750. Marcante foi a presença e atuação do Servo de Deus Dom
Antônio Ferreira Viçoso, cujo processo de beatificação se encontra em
Roma, depois de concluída a fase diocesana. Missionário, educador da
juventude, defensor dos direitos da Igreja, protetor dos escravos e dos
pobres, Dom Viçoso empenhando-se heroicamente pela exaltação da Igreja e
dignidade do Clero.
O primeiro Arcebispo de Mariana foi o grande Dom
Silvério Gomes Pimenta, negro, sábio e santo. Foi padre Conciliar no
Vaticano I, a quem coube saudar o Papa Beato Pio IX, em nome do
Episcopado da América Latina. Participou também do Concílio Plenário
Latino Americano e foi brilhante membro da Academia Brasileira de
Letras. Como estrela de primeira grandeza, nessa luminosa constelação,
reluz com extraordinário brilho meu querido e saudoso predecessor Dom
Luciano Pedro Mendes de Almeida, Irmão do outro, Doctor amoris
causa, Homem de Deus, Servidor da Igreja, Profeta da esperança, Amigo
dos pobres, Defensor da vida, da justiça e da dignidade humana. Homem de
inteligência prodigiosa, memória privilegiada, mas sobretudo de
extraordinárias virtudes, especialmente na vivência da caridade e no
serviço aos pobres. Aguarda-se o nihil obstat da Congregação para a Causa dos Santos a fim de que possa ser iniciado seu processo de beatificação.
Na celebração deste auspicioso evento,
queremos reafirmar nossa obediência ao Papa Francisco, legítimo Sucessor
de Pedro a quem disse o Senhor “Tu és Pedro e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la.
Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra
será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado
nos céus” (Mt 16, 18-19), conforme ouvimos no evangelho proclamado.
O Senhor nos ajude, com a força de sua
graça, para que, diante das interpelações dos tempos atuais, possamos
proclamar com os lábios, o coração e a vida que Jesus é “o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).
A comemoração dos trezentos anos do
início da construção desta Catedral, nos leva a recordar que, para nós
cristãos, o templo é ícone do santuário espiritual que é a Igreja. Pela
graça do Batismo, nós fomos “integrados no edifício que tem como
fundamento os apóstolos e os profetas, e o próprio Jesus Cristo como
pedra principal, para nos tornarmos morada de Deus pelo Espírito” (cf. Ef 2,20.22).
Por intercessão de Nossa Senhora da
Assunção, titular desta Catedral Basílica e, juntamente com seu esposo
São José, Padroeira da Arquidiocese de Mariana, o Senhor nos conceda a
graça de vivermos o que nos diz o Apóstolo Pedro na primeira leitura há
pouco proclamada: “Aproximai-vos do Senhor, pedra viva, rejeitada
pelos homens, mas escolhida e honrosa aos olhos de Deus. Do mesmo modo,
também vós, como pedras vivas, formais um edifício espiritual, um
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pd 2, 4-5), como nos disse a Primeira carta de Pedro que ouvimos.
AMÉM!
Fonte: Arquidiocese de Mariana
25 outubro, 2013
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