Falta de respeito, depredação do patrimônio cultural e marcas de vandalismo. Mesmo estando em obra para restauração da fachada, inclusive com andaimes, a Igreja Matriz de Santa Luzia, na Grande BH, foi pichada na madrugada de ontem. Segundo o titular da paróquia, padre Danil Marcelo dos Santos, a câmera de segurança no adro registrou, às 2h36, “um homem jovem, forte, magro e alto, com o cabelo espetado”, subindo a escadaria do templo barroco do século 18. “Pelas imagens, não dá para ver o rosto da pessoa, que está sem máscara, mas dá para vê-lo passando rente à parede. A câmera de vídeo tem o foco dirigido apenas para a entrada e não temos mais detalhes ”, informou. A parede, branca, foi pintada de preto e a porta principal, vermelha, pichada de branco, com símbolos e a frase “Deus me perdoe”.
Padre Danil contou que ficou sabendo da pichação às 7h, quando foi chamado por uma funcionária do santuário. Ele chamou a polícia e fez boletim de ocorrência. Em seguida, o religioso enviou e-mail ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), responsável pelo tombamento da igreja e do Centro Histórico da cidade, e à promotora de Justiça da comarca, Vanessa Campolina. “Pedi vistoria urgente ao Iepha. Esse é um bem da comunidade”, afirmou a promotora. Vanessa solicitou à Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico um laudo sobre a situação. O caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Polícia de Santa Luzia.
O trabalho de restauração da fachada começou há um mês e tem previsão de ficar pronto até o fim de novembro, quando começará a trezena de Santa Luzia – o ponto alto do jubileu será 13 de dezembro, consagrado à padroeira, quando milhares de pessoas visitam o santuário e acompanham a procissão pelas ruas. “Gastamos até agora cerca de R$ 120 mil com a pintura, valor recolhido entre os paroquianos. Temos agora que montar um andaime para pintar a torre e não sei se sobrará dinheiro para recuperar a fachada. O presidente do Iepha, Fernando Cabral, entrou em contato ontem com o padre Danil e adiantou que, na segunda-feira, vai designar um técnico para avaliar o estrago.
O presidente da Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, o médico Márcio Castro Silva, ficou decepcionado. “É um desrespeito com a religiosidade e a cultura do nosso povo”. Ele lembrou que, no fim da década de 1980 e início da de 90, sob coordenação da associação cultural comunitária, a igreja foi totalmente restaurada, sendo 60% dos recursos provenientes dos moradores, que fizeram barraquinhas e outras ações solidárias. O diretor do Museu Aurélio Dolabella e colaborador da igreja Marco Aurélio Fonseca, também lamentou: “É um patrimônio histórico público e deve ser respeitado e preservado”, afirmou.
Tropeiros – A capela primitiva dedicada a Santa Luzia foi erguida por volta de 1701, em torno da qual se formou um rancho para tropeiros que vinham dos currais da Bahia a fim de abastecer a região das minas. De 1744 a 1778, o pequeno templo sofreu várias alterações, tendo contribuído para isso o sargento Joaquim Pacheco Ribeiro, em agradecimento à cura de sua visão. O apuro ornamental do seu interior reflete três fases estilísticas do período colonial. Milhares de pessoas visitam o templo, principalmente em dezembro, para pedir graças e fazer agradecimento à protetora dos olhos.
Memória: Terceiro ataque
Esta é a terceira vez que a fachada da Matriz de Santa Luzia é pichada. Na primeira, em 1995, um grupo de jovens de Betim, Belo Horizonte e de Santa Luzia foi punido. Em 18 de janeiro daquele ano, por determinação da Justiça e negociação com os pais dos menores, os pichadores foram escoltados pela polícia até a igreja e, sob os olhares da comunidade, rasparam a sujeira com lixas e cobriram a parede com tinta. Em 22 de junho de 2001, a pichação se repetiu e, do lado esquerdo da fachada, foi escrito: “Deus me livre”. Por Gustavo Werneck
Fonte: em.com.br
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