quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mostra vê arte popular como ‘abrigo’ do barroco

‘A sagrada família’, no Centro Cultural Correios, começa nesta quarta, com cem obras

O GLOBO/ Audrey Furlaneto 

“Pietá”: escultura de artista anônimo
Foto: Divulgação
“Pietá”: escultura de artista anônimo Divulgação
RIO - Para o curador Romaric Büel, a arte popular brasileira é ainda hoje a morada do barroco. Ele reuniu cem peças, a maioria de coleções particulares, para a exposição “A sagrada família”, que o Centro Cultural Correios abre nesta quarta, às 19h, para convidados. Estão lá trabalhos das artes popular, sacra e barroca — todos com o mote religioso e a intenção de retratar personagens da vida de Jesus Cristo.

Com imagens de Pietá, Sant’Anna e outras figuras religiosas, a mostra, diz Büel, aponta para uma constatação: o barroco, no Brasil, nunca foi interrompido e sobrevive no “abrigo” da arte popular.
Se a chegada de Dom João VI ao país transforma a arte, até então essencialmente religiosa (e, depois, mais voltada para os retratos dos poderosos), por outro lado não consegue enterrar por completo a arte sacra nem o barroco — ambos sobrevivem por meio de artistas populares que buscam nas igrejas e na fé a inspiração para suas criações.

— A arte barroca se encerraria em 1800, mas é surpreendente que no Brasil, onde o movimento foi tardio, ela sobreviva até hoje. Me parece importante mostrar isso, que a arte popular se mantém, pela necessidade de criação, sem universidade, sem academia. A escola dos artistas populares é a igreja, a matriz, o convento — afirma o curador.

Para ele, também é surpreendente que a arte popular sobreviva para além do trabalho de museus, como o do Pontal ou o de Arte Naïf. Há muito interesse, segundo Büel, por parte de grandes colecionadores privados em manter trabalhos de arte popular brasileira em seus acervos.

Muitos artistas que estão em “A sagrada família” são anônimos. Isso porque, lembra o curador, a tradição barroca “não destaca o próprio artista, algo relativamente novo”.
— Era mais importante produzir e valorizar a fé do que destacar o autor. Os artistas barrocos brasileiros são pessoas humildes, muitas vezes negros formados por jesuítas. A fé, na verdade, predomina com relação ao nome dos artistas — completa Büel.

Entre as cem peças da exposição, há trabalhos que datam de desde o final do século XVI, alguns de origem portuguesa, até meados dos anos 1980. As imagens de Sant’Anna, segundo Büel, são as mais frequentes nas representações da arte sacra brasileira. São, diz ele, uma “herança ibérica”. Mas há inevitáveis presépios, imagens de Jesus, São José, Pietá, Adão e Eva, entre outros.

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