segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Obras na Igreja do Rosário em Bragança Paulista

Por Paulo E. de Oliveira / Bragança Jornal Diário

 Restauração de obras de arte, um trabalho altamente técnico que requer profissionais especificamente capacitados, é tradicionalmente definida como o processo que envolve quaisquer métodos que se provem eficazes na manutenção da obra o mais perto de sua condição original pelo maior período de tempo possível, com a menor intervenção e com matérias e métodos que possam ser reversíveis para reduzir possíveis problemas com tratamentos futuros.

Essa especialidade também requer uma ampla documentação do trabalho realizado. São exatamente estas as etapas realizadas durante o processo de restauração dos afrescos, decorações e vitrais da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Bragança Paulista, que no final de 2010 constatou ser vítima das intempéries, que ameaçavam não somente a estrutura do templo como também suas pinturas, consideradas um marco na história da arte sacra brasileira dos anos 40.

Desde então uma equipe de profissionais, altamente capacitados em restauração de arte sacra, se reuniram na empreitada, que por consequência coloca Bragança Paulista como um centro de referência no assunto no Estado de São Paulo.

Equipe

A equipe técnica liderada pelos artistas plásticos Nirceu Helena e Antonio Cubero, sócios da Oficina de Restauro Bragança, incorporou ainda os artistas plásticos Paulo Cubero, Clayton Caber, Luis Aparecido Moraes e Fabiano Freitas. Todos com ampla experiência na restauração.

Nirceu acumula 29 anos de experiência em restauro de arte sacra, Antonio Cubero tem 15 anos de um currículo onde estão trabalhos de restauração de igrejas das cidades históricas de Minas Gerais, onde também chegou a restaurar peças de Aleijadinho, enquanto que Paulo Cubero já trabalhou seis anos com Nirceu.

Clayton Caner, prestes a se formar em arquitetura pela UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas, estudou seis anos com Nirceu e por vários anos trabalhou com restauração de arte sacra com Sérgio Prata, que deu início à restauração dos vitrais da Igreja do Rosário.

“Clayton será um arquiteto restaurador. Existem muitos poucos profissionais que atuam nessa área no País”, explicou Nirceu. “A restauração tem que ser feita por pessoas especializadas. Usamos a carta de ética de procedimentos de restauração em patrimônios históricos e culturais. Seguimos a regra à ponta da letra”, afirmou Nirceu, que explicou que o trabalho minucioso do restaurador é feito centímetro a centímetro para achar falhas ou defeitos.

“A nossa grande vitória foi convencer a comissão encarregada pela Diocese a aceitar o nosso trabalho, fundamentado na técnica e nos vários de experiência e conhecimento. Não foi fácil”, garantiu em entrevista ao jornal na semana passada.

Problemas e soluções


No dia 31 de outubro de 2010 rachaduras em alguns pontos das paredes decoradas da Igreja do Rosário causaram a queda de reboco que continha parte dos conhecidos afrescos, pinturas finalizadas em 1942 pelo pintor Salvador Ligabue, que na época tinha 37 anos de idade e que pintou os painéis praticamente deitado como assim o fizera Michelangelo na Capela Sistina, no Vaticano.

Logo em seguida a Diocese decidiu fechar o templo ao público e no dia 4 de novembro membros da Defesa Civil e da Secretaria Municipal de Obras deram início a um laudo técnico. No dia 7 de janeiro de 2011 a Diocese divulgava que o templo passaria por restauração. Desde então a igreja passa por um processo de recuperação, que começou com as estruturas físicas avariadas e com a restauração da arte sacra, principalmente as pinturas de cenas e imagens bíblicas. Em julho de 2011, a equipe de Nirceu Helena e Antonio Cubero entrou em ação.

“Refizemos todos os painéis, reparamos a interferência de 1980 do pintor Bruno Di Justi e tentamos recuperá-la como ela era. A nossa interferência é mínima. Usamos produtos químicos que puxam as cores originais. Fizemos uma limpeza total, com vários tipos de ação”, afirmou Nirceu Helena no início da última semana ao Cidade de Bragança. Além disso os artistas fizeram injeção de um produto químico, uma cola usada mundialmente em igrejas e museus.

À base de água, ela é injetada por meio de uma seringa. Esse produto químico se endurece dentro da bolha formada, que causa o descolamento da pintura da argamassa. “Dessa forma a pintura volta a se fixar em seu suporte original”, explicou.

A restauração envolveu as partes físicas, elétricas, vitrais, afrescos e toda a parte decorativa do templo, tudo ao mesmo tempo. As atividades foram separadas para que uma equipe não interferisse no andamento da outra.

Problema da torre


“Pegamos a obra quando o telhado tinha sido resolvido. Daí partimos para o problema estrutural – movimentação da torre, apareceram rachaduras – aplicamos material e unimos os tijolos que acabaram se separando uns dos outros. Depois veio a aplicação de massa. A nossa sorte foi de que as área afetadas pegaram pouco da área artística”, afirmou Nirceu.

Previsão

“Tivemos aqui vários problemas graves. Nós demos um prazo de um ano com erro de três meses, que seriam 15 meses e já estamos já com 16 meses, mas teremos que estender esse prazo até início de 2013. Felizmente os problemas mais graves estão superados.

Os problemas estruturais atrasaram a obra e muitas vezes, após o restauro concluído, ele tem que ser analisado e muitas vezes alguns detalhes devem ser refeitos. Além disso, o órgão começou a ser restaurado.

Também é bom lembrar que os vitrais ainda não estão concluídos e os seus encaixes podem ainda favorecer infiltração de água. Uma nova equipe já está se preparando para essa fase, uma vez que a época das chuvas já está começando” relatou Nirceu. Embora a obra não esteja concluída a igreja já começou a realizar casamentos sob a pressão dos noivos, o que também é um fator de dificuldade, pois parte dos materiais usados na restauração têm que ser removidos para as cerimônias.

“Quando temos os casamentos, temos que movimentar as torres e os bancos. No início das obras os bancos tinham sido levados para restauração, mas eles voltaram antes do tempo, o que nos causa muita dificuldade. Peço que os noivos tenham paciência. A iluminação não está completa, o som ainda não existe”, justificou.

Custo da obra

“A nossa obra foi orçada em R$360 mil, divididos em 24 pagamentos de R$ 15 mil. Contudo, trabalhamos em seis. Pagamos impostos e os materiais de pintura, que no mês passado nos deixou no vermelho. As pessoas pensam que estamos ficando ricos com isso. Estou trabalhando direto aqui e de vez em quando sobra R$ 3 mil.

São mais de 2.000 metros quadrados de pintura realizada centímetro por centímetro. Para termos lucro, o orçamento da obra deveria ser o dobro. Fazemos por amor”, declarou Nirceu. “Este é um patrimônio do povo e encaramos isso de forma muito profissional”, finalizou.

Afastamento dos tijolos

 

Na década de 1930 um vazamento de uma adutora no subsolo perto da igreja causou um afundamento da torre esquerda (de quem olha de frente para o templo).

A força exercida sobre o prédio causou um trincamento em diagonal pelo teto da igreja. Essa força por sua vez causou afastamento de tijolos, encaixados uns aos outros no teto, causado por trincas nas abóbodas. Segundo Nirceu, o afastamento dos tijolos, especialmente no painel de São José, era muito grave e ainda mais grave no painel de Santo Antônio. “Formaram-se trincas nas abóbada.

É bom lembrar que naquela época não se usava tanto concreto e o teto foi feito como um sistema romano de encaixe de tijolos. Somente os arcos de sustentação são de concreto e os vergalhões eram lisos ao contrário dos atuais que são escamados para dar mais aderência ao concreto. Em alguns lugares foi necessário chegar até o ferro, retirar a ferrugem.

Usamos uma técnica da engenharia de aplicação de um produto especial, um polímero usado até em cascos de navios, que permitiu a união dos tijolos que haviam se afastado uns dos outros”, detalhou Nirceu.

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