TÂNIA CAMPELO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM REDENÇÃO DA SERRA (SP)
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress | ||
Parede da igreja de Santa Cruz, em Redenção da Serra (SP), desabou após fortes chuvas |
Parte da memória de Redenção da Serra, município do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, está ruindo. A chuva que os moradores tanto pediram para pôr fim à seca agora ameaça seu principal patrimônio histórico.
Após forte tempestade, uma parede lateral da centenária igreja Matriz de Santa Cruz caiu. A construção foi tombada pelo Condephaat (conselho estadual de defesa do patrimônio) em 1982.
O dano, ocorrido no dia 22 de dezembro, abalou ainda mais a estrutura fragilizada pela falta de manutenção.
O dano, ocorrido no dia 22 de dezembro, abalou ainda mais a estrutura fragilizada pela falta de manutenção.
Trincas, rachaduras e infiltrações são vistas por toda a construção. Na terça-feira (5), um grupo de moradores cobriu a lateral da igreja com plástico, numa tentativa de protegê-la de novas chuvas.
Construída em 1882, em taipa de pilão, a matriz fica na cidade velha, a única área de Redenção da Serra que não submergiu com a criação da represa da usina hidrelétrica de Paraibuna, pertencente à Cesp (Companhia Energética de São Paulo).
A igreja ficou fechada por nove anos, entre 2004 e 2013, quando um grupo de moradores e a prefeitura decidiram limpar e reabrir o templo. Desde então, a comunidade realiza missas esporádicas, aulas de catequese e primeira comunhão no local.
Na época da inundação, em 1973, a população da cidade, de cerca de 9.000 pessoas, foi levada para um loteamento construído a cerca de 3 km do reservatório. Hoje, a cidade tem 3.930 habitantes.
"A cidade velha é o que sobrou do passado de Redenção. É triste ver nosso patrimônio desmoronando. A prefeitura já notificou a Cesp e o Ministério Público, mas até agora nada foi feito", disse Nelma Biondi de Angelis, secretária de Agronegócios e Meio Ambiente de Redenção.
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress | ||
Buraco no teto de igreja construída em 1882 no Vale do Paraíba, São Paulo |
O Condephaat agendou para a próxima semana uma vistoria na igreja. Em nota, o órgão disse que a discussão sobre a restauração dos prédios históricos começou em 2011.
Autor dos planos de restauração do Palácio da Justiça (São Paulo) e da Bolsa do Café (Santos), o arquiteto Samuel Kruchin desenvolveu um projeto para a realização emergencial de reparo.
ELO COM CIDADE ALTA
A execução foi estimada em R$ 15 milhões, mas não deve ser levada adiante porque faltam recursos para a construção de um dique para evitar a inundação da cidade velha em época de cheia. O dique também abriria uma ligação entre a cidade velha e a alta, encurtando a distância entre as duas.
Segundo Kruchin, em agosto de 2015 a estatal descartou a possibilidade de realizar a obra. "O resultado é o que vemos aí hoje", disse.
Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress | ||
Interior de igreja no Vale do Paraíba, São Paulo, tem infiltrações |
O presidente da companhia de energia, Mauro Arce, diz que gostou do projeto, mas que a Cesp não tem condições de construir a barragem. "Poderíamos contribuir, desde que a obra fosse enquadrada na Lei Rouanet [de incentivo fiscal], mas nunca chegaria aos R$ 3 milhões necessários para o dique", diz.
Segundo ele, uma equipe da Cesp vistoriou o local esta semana e enviará um relatório ao governo federal para avaliação e definição de eventuais medidas para preservação dos prédios. "Aquilo tudo pertence a um condomínio, de que participam a União, os governos de São Paulo, Rio e Minas, Furnas e a Cesp", diz Arce.
Para a prefeitura, o projeto de recuperação da cidade velha, além de proteger o patrimônio histórico, pode alavancar o turismo e a economia do município, que tem o segundo pior IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) da região.
Fonte: Folha de S. Paulo
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