O templo católico, construído no século 18, é tombado pelo Iphan, que autuou a entidade e exige o retorno das cores antigas na fachada, portas e janelas.
Fotos: Edmar Melo/JC Imagem
A nova pintura da Capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, no Parque da Jaqueira, vai sair mais cara do que imaginava a Arquidiocese de Olinda e Recife. Mal acabou a obra, a entidade terá de desfazer o trabalho e será multada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por ter descaracterizado um monumento protegido por lei federal. A igreja já tinha sido notificada, em 2015, pela colocação de um toldo na frente do prédio, retirado na tarde de quarta-feira (6).
Construída em 1766 (século 18) e tombada desde 1938, a Capela da Jaqueira, bairro da Zona Norte do Recife, tinha a fachada toda branca, com portas e janelas na cor verde. Em dezembro de 2015, a Paróquia das Graças, que administra a igrejinha, trocou a tonalidade verde pela azul. E pintou na mesma cor azulada os detalhes da fachada: frisos, adornos e cercaduras de portas e janelas.
“A fachada branca com portas e janelas verdes era um padrão estilístico comum da época. A paróquia deverá pintar novamente o prédio, mantendo essas cores”, declara a arquiteta Gisela Montenegro, superintendente em exercício do Iphan-PE. O valor da multa está sendo calculado pelo instituto, diz ela, acrescentando que a Arquidiocese também está sendo punida por outras irregularidades cometidas na capela.
Em 2011, a paróquia removeu pavimento antigo da calçada da igreja, sem permissão, e teve a obra embargada. No ano seguinte, uma vistoria constatou a construção de um anexo e irregularidades no piso e no gradil. No mês de julho de 2015, a Arquidiocese foi notificada pela instalação do toldo fixo, apoiado em estrutura metálica e coberto com policarbonato.
O Iphan estabeleceu prazo de cinco dias para a instituição religiosa comprovar que a obra do toldo tinha autorização. “Como não recebemos nenhum documento, emitimos um auto de infração no mês de agosto”, informa Gisela.
Padre Josenildo Tavares Ferreira, o administrador da Paróquia das Graças, disse que vai procurar o Iphan esta semana para explicar as intervenções. “Todo ano pinto a igreja de branco, mas desta vez decidi botar os detalhes azuis, uma cor que faz parte da simbologia religiosa. O objetivo é conservar e preservar o patrimônio”, declara.
Ele disse que recebeu o auto de infração, referente à pintura, em 28 de dezembro último. “Não entendo o Iphan. Se a gente cuida, é notificado. Se a gente não cuida, é notificado. O que realmente o Iphan quer?”, indaga. O religioso admite que não pediu autorização ao instituto para trocar a cor das portas e janelas, nem para pintar de azul os detalhes da fachada da edificação.
Com relação ao toldo, padre Josenildo disse que a estrutura é necessária para o conforto dos fiéis que assistem à missa dominical do lado de fora da capela. “É uma proteção para amenizar o sol e a chuva”, justifica. Gisela Montenegro garante que pedidos de instalação de toldos móveis, para eventos em igrejas, são aprovados com frequência pelo Iphan.
“Perdíamos a visão da fachada da igreja com aquela peça metálica, fixa e coberta com policarbonato”, destaca a arquiteta. O Ministério Público também tinha recomendado a remoção do equipamento.
Proteção
Gisela Montenegro esclarece que qualquer intervenção em imóvel tombado pela União, seja pintura ou obra, necessita de aprovação do Iphan. “Não é que seja proibido, mais precisamos saber o que será feito para garantir a proteção do monumento, contra riscos e descaracterização”, justifica.
A Capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras é um dos destaques das construções religiosas dos antigos sítios de Pernambuco, diz a placa de identificação afixada no jardim. O templo, que fazia parte do Sítio da Jaqueira, foi tombado pelo valor arquitetônico e histórico, afirma Gisela.
Domingo (3), no encerramento da missa das 10h, a paróquia divulgou entre os fiéis a rifa de uma bicicleta, para arrecadar dinheiro, comprar tinta branca e fazer a repintura do imóvel.
Por Cleide Alves
Nenhum comentário:
Postar um comentário