domingo, 16 de agosto de 2015

O miraculoso cinto de Nossa Senhora


Santo Cinto de Nossa Senhora dentro do relicário, catedral de Prato, Itália
Santo Cinto de Nossa Senhora dentro do relicário, catedral de Prato, Itália

Na catedral de Prato, Itália, não longe de Florença hoje é venerado solenemente o santo cinto, cíngulo, ou correia de Nossa Senhora.

Ele foi trazido de Jerusalém no ano de 1141 por Michele Dagomari, habitante da cidade e romeiro na Terra Santa.

Porém, em 1173, como não havia confirmação da autenticidade da relíquia, a Providência valeu-se de um fato extraordinário para que todos a reconhecessem como verdadeira.


Assunção aos Céus: os Apóstolos contemplam o túmulo vazio.  São Tomé chega tarde. (Francesco Botticini)
Assunção aos Céus: os Apóstolos contemplam o túmulo vazio.
São Tomé chega tarde. (Francesco Botticini)
A presença dos Apóstolos na Assunção é uma tradição que remonta aos primeiros séculos do cristianismo. Não faz parte do dogma gloriosamente proclamado pelo Papa Pio XII, mas é largamente aceita, como se pode verificar na iconografia tradicional.

São Gregório bispo de Tours (538-594), o maior historiador do século VI, foi o primeiro a escrever sobre a Assunção. Segundo a tradição por ele transcrita, um anjo teria avisado Nossa Senhora de sua próxima partida aos Céus.

Por sua vez, Nossa Senhora teria comunicado a notícia às pessoas mais próximas, entre as quais São João Evangelista.

Os Apóstolos teriam sido avisados e teriam tido tempo de chegar naturalmente. Porém, segundo outros, chegaram miraculosamente.

A Liturgia católica do rito maronita reza: “Vós sois, ó Maria, a Mãe Puríssima, fonte de abundantes bênçãos; Vós sois a plena de graça, que quando deixastes este mundo, vieram todos os santos Apóstolos de distantes regiões, para vê-La partir para o Céu, enquanto os Anjos do Altíssimo, diante de Vós, cantavam com alegria”.

Nossa Senhora dá seu cinto a São Tomé. Benozzo Gozzoli
Nossa Senhora dá seu cinto a São Tomé. Benozzo Gozzoli















Os Apóstolos certamente estavam acompanhados e havia a presença dos fiéis que moravam nas proximidades da casa da Santíssima Virgem. A Santa Casa de Loreto conserva um altar dito dos Apóstolos, onde eles celebravam Missa por ocasião das visitas que faziam a Nossa Senhora.

São João Damasceno, Padre da Igreja, se refere à tradição do Oriente a respeito. Segundo ele, durante o Concílio de Calcedônia, o imperador Marciano e a imperatriz Pulquéria pediram o corpo de Nossa Senhora a Juvenal (422 – 458), bispo de Jerusalém e primeiro Patriarca da cidade.

O Patriarca respondeu, segundo o Damasceno, que Ela morreu rodeada de todos os Apóstolos, salvo São Tomé, que chegou com alguns dias de atraso.

O retardatário São Tomé teria pedido a São Pedro para ver o túmulo e constatou que o mesmo estava vazio. Nesse momento, ao levantar suas vistas para o céu, Tomé viu Nossa Senhora na Glória, que, sorridente, desatou o cinto e lançou-o em suas mãos como símbolo de maternal bênção e proteção.

Segundo outras versões, Santo Tomé, que chegara atrasado, só viu a Assunção de longe. Teria sido um castigo por ele ter duvidado da Ressurreição. Mas um castigo moderado pela misericórdia de Nossa Senhora que lhe teria feito, à distância, o dom de seu cinto.

Relicário é aberto nas exposições solenes na catedral de Prato
Relicário é aberto nas exposições solenes na catedral de Prato
O culto do cinto de Nossa Senhora foi instituído por Santo Agostinho, o grande Doutor da Igreja, e continua sendo difundido pelos bons sacerdotes agostinianos.

É o famoso cinto bento, dito de Santo Agostinho, mas que é de Nossa Senhora, o qual é especialmente protetor contra os assaltos do demônio e da impureza.

É a origem da devoção a Nossa Senhora da Correia, também chamada de Nossa Senhora da Consolação.

Sobre este culto piedoso e muito popular escreveu São Germano, Patriarca de Constantinopla, por volta de 720: “Não é possível ver vossa venerável correia, ó Santíssima Virgem, sem sentir-se cheio de alegria e penetrado de devoção”.

O monge Eutino, que viveu pelos anos 1098, pregando sobre ela, dizia: “Nós veneramos a Santa Correia, vemos conservar-se inteira depois de 900 anos: Cremos realmente que a Rainha do Céu cingiu-se com ela”.

O cinto estava em Prato, Itália, em 1173. Mas, o problema é que não se tinha certeza da autenticidade da relíquia, na falta de documentação canônica ou outra digna de fé.

O bispo de Prato expõe à veneração popular o Santo Cinto.  Púlpito externo da catedral de Prato.
O bispo de Prato expõe à veneração popular o Santo Cinto.
Púlpito externo da catedral de Prato.














Naquele ano, a Providência valeu-se de um fato extraordinário para que todos  reconhecessem sua autenticidade.

No dia de Santo Estêvão, padroeiro da cidade, colocavam-se todas as relíquias sobre o altar, para  com elas serem abençoados os doentes e os endemoninhados.

Na ocasião, foi exposta também a caixa contendo o cinto de Nossa Senhora.

Aproximaram então uma possessa que, no momento em que tocou a caixa, começou a afirmar com insistência que esse cinto era da Santíssima Virgem, e no mesmo instante viu-se liberada de seu mal.

Iniciou-se então o culto público à sagrada relíquia. O próprio São Francisco de Assis esteve com seus primeiros frades em Prato, no ano de 1212, para venerá-la.

São Tomé recebe o cinto. Andrea della Robbia
São Tomé recebe o cinto. Andrea della Robbia
Entre as muitas representações do episódio do presente do cinto por ocasião da Assunção, temos a famosa terracota de Andrea della Robbia.

Ou o célebre quadro de Benozzo Gozzoli (acima) sobre o mesmo glorioso fato.

Podemos assim acreditar piedosamente, em união com a tradição da Igreja, que todos os Apóstolos, inclusive o retardatário Tomé, se reuniram para a Assunção.

Nesta festa podemos elevar a ele a mesma oração que Santo Agostinho compôs a propósito da dúvida que o apóstolo tivera sobre a Ressurreição:

 “Oh, bem-aventurado Tomé, tu tocaste com a mão e, pela tua dúvida, inúmeros céticos acabaram crendo!”.

Foi por meio dele, ou a propósito dele, que o cíngulo de Nossa Senhora ficou nesta terra e é venerado desde a Idade Média na catedral de Prato, Itália. 

Fonte: Orações e Milagres medievais

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