É o mais importante documento da religiosidade popular ligado ao tropeirismo.
A Capela do Divino Espírito Santo, que fica no Jardim São Paulo, em
Sorocaba, agora é reconhecida a nível estadual como patrimônio histórico
e cultural. Ela foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat).A capela, que já era tombada pelo município desde 1996, foi construída pelos tropeiros em 1883, e até hoje é local de orações, com missas de segunda-feira a sábado para a comunidade do Largo do Divino. Segundo o Condephaat, a capela é um dos três locais sagrados onde paravam os peregrinos e tropeiros agradecidos ou penitentes que chegavam ou partiam de Sorocaba, e é o mais importante documento da religiosidade popular ligado ao tropeirismo.
Além disso, o Condephaat enfatiza que a região de Sorocaba foi precursora da indústria e também do emprego da nova técnica construtiva do tijolo queimado, no início do século XIX, que foi utilizada na capela. “O imóvel constitui-se, portanto, de um bem cultural e de relevância histórica para o Estado de São Paulo”, conclui o órgão.
A decisão reforça que fica “proibida qualquer intervenção que possa vir a descaracterizar o referido imóvel, sem prévia autorização do Condephaat”, sob pena de punições previstas na legislação federal e estadual. A deliberação foi feita em sessão ordinária de 24 de março de 2014, mas divulgada em 12 de abril no Diário Oficial do estado.
Para o arquiteto Alberto Streb, presidente do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), o tombamento estadual é um reconhecimento importante. “É uma valorização histórica, do ciclo do tropeirismo, já que ali era um ponto de encontro entre as tropas que vinham do Sul do país. Eu vejo como um reconhecimento justo que pode ser explorado turisticamente”, enfatiza.
Streb comenta que, dentre as mudanças com o reconhecimento estadual, deve haver mais rigor para as futuras construções no entorno da capela. O arquiteto explica que qualquer modificação em um raio de 300 metros deve primeiro ser autorizada pelo Condephaat, a fim de garantir que não haja nenhum prejuízo às estruturas do prédio. “É uma proteção para que o bem tombado não seja sufocado ou até mesmo abalado por técnicas de construção que possam ser empreendidas”, completa.
A chefe de seção do patrimônio histórico da Secretaria da Cultura de Sorocaba, Cláudia Tavares Ribeiro, afirma que o reconhecimento histórico pelo Condephaat é positivo para a cidade. “É uma vitrine maior do que um tombamento municipal. Dá ainda mais legitimidade à nossa origem tropeira”.
Tropeirismo e devoção
E essa origem foi retomada há nove anos, quando a tropeada Itararé-Sorocaba voltou a passar pela Capela do Divino durante a Semana do Tropeiro, geralmente na última semana de maio. “Os tropeiros costumam parar na capela por uma meia hora e pedem a bênção”, comenta o padre Inácio Kriguer, que foi pároco da Capela do Divino nos anos de 1983 e 1984 e entre 2006 e 2013.
Padre Inácio já contou a história da capela a vários curiosos e também turmas de alunos que costumam visitar o local. Ele diz que o prédio foi usado por muito tempo como uma capela de devoção, que depois passou a servir a comunidade, com missas aos domingos rezadas por um padre da Catedral.
A importância do espaço cresceu e em 1974 foi criada a paróquia e a capela tornou-se matriz da Comunidade do Divino e dos bairros do Central Parque, São Marcos, Novo Mundo, Jardim São Paulo e Guadalajara. “Acho que é uma coisa inédita uma capela se tornar matriz. Só um tempo depois é que foram construídas igrejas nos bairros daquela região”, diz o padre, destacando que o local é pequeno, com capacidade para até 100 pessoas.
No início da década de 1990, uma nova igreja foi construída, em um terreno próximo da capela. Foi nessa mesma década que a capela foi incendiada. Após o incidente, o prédio foi restaurado pela Prefeitura e tombado pelo CMDP, com homologação em 1996.
Depois das melhorias, padre Inácio comenta que as missas voltaram a ser realizadas na capela, assim como alguns casamentos, principalmente de quem possui uma relação afetiva com o local. “Mas, depois do tombamento municipal, ficamos com algumas restrições. Não pode usar som alto e iluminação forte. Nós já avisávamos os noivos”, lembra.
A Capela do Divino Espírito Santo possui arquitetura barroca, com aspectos originais preservados como o piso em ladrilho hidráulico, um sino da época da construção, o altar e suas pinturas religiosas, os nichos laterais com as imagens, a porta da frente e um medalhão de 1902, que resistiu ao incêndio da década de 1990.
Por Míriam Bonora
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
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