Sob as bênçãos do Patrimônio Municipal e da comunidade religiosa, Igreja de São José, um dos símbolos de BH, terá de novo na fachada decoração prevista no projeto do século passado.
Brilho e cores originais voltarão a ornamentar um dos símbolos de Belo Horizonte. Entre os templos mais bonitos e visitados da cidade, a Igreja de São José, na Avenida Afonso Pena, Centro da capital, vai ganhar de novo na fachada e laterais o aspecto do projeto feito por Edgard Nascentes Coelho, em maio de 1901, quando a capital ainda se chamava Cidade de Minas. Entusiasmados com o projeto, os padres redentoristas que comandam a paróquia assistem hoje à montagem de andaimes na parte central do templo para a recuperação estética, conforme explica a especialista e encarregada da obra, Maria Regina Reis Ramos, conhecida como Marrege, do Grupo Oficina de Restauro.
“Fizemos prospecções nas paredes e encontramos, sob camadas de tinta, os tons vermelho, laranja e cinza. Em fotografias antigas, vimos os desenhos, e, no projeto original, as cores”, explica a restauradora, que elaborou os estudos e caiu no gosto da comunidade religiosa. A intervenção já está aprovada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município.
No dia 18, na igreja, durante missa festiva celebrada pelo bispo auxiliar dom João Justino de Medeiros Silva, foi aberta oficialmente a programação da Arquidiocese de Belo Horizonte para a Copa do Mundo, com o tema Dignidade e Paz. Bandeiras dos 32 países participantes do Mundial de Futebol e dos 12 estados brasileiros que receberão jogos foram hasteadas no adro, ao som do Hino Nacional tocado pelo saxofonista Chico Amaral, repicar de sinos e olhares de admiração dos fiéis presentes à igreja centenária.
Na celebração, dom João Justino disse que a Igreja quer acolher os visitantes em clima de paz, sem perder de vista as reivindicações da população. “Estaremos com todos os olhares voltados para o nosso país. E esta é uma oportunidade de não só torcermos, mas fazermos uma copa da civilidade, de jogar a favor da vida”, afirmou, lembrando que, a partir do debate levantado pelas manifestações do ano passado, a Arquidiocese de Belo Horizonte também estará recolhendo assinaturas para projeto de lei de iniciativa popular para a reforma política.
Sem atrapalhar - Os andaimes não vão atrapalhar as visitas à igreja durante as partidas das seleções, pois vão ficar montados até pouco antes da Copa, para os primeiros serviços, retornando em meados de julho, para que a obra avance. Previsto para durar em torno de dois anos, com recursos de cerca de R$ 1,4 milhão, o projeto vai contemplar de início a parte central da construção – algo em torno de um terço da fachada. Na biblioteca, mostrando o projeto elaborado há 113 anos, o titular da Paróquia São José, padre José do Carmo Zambom, conta que será iniciada uma campanha para obter recursos, assim como ocorreu durante a obra de restauração do interior do templo, que trouxe de volta o esplendor das pinturas parietais de autoria do alemão Wilhelm Schumacher, escurecidas pelo pó de asfalto e fuligem. No projeto original, está escrito Matriz da Cidade de Minas – Maio de 1901, três meses antes de Belo Horizonte receber o nome atual.
Padre Zambom explica que a matriz foi pintada em 1912, por Schumacher, e pôde ser vista até 1928, quando, devido à degradação provocada pelo tempo, ganhou o bege em todo o exterior. “Acho que as pessoas vão gostar muito”, acredita Marrege, que tem sua equipe ainda trabalhando na restauração de pinturas da capela da casa dos padres, localizada no fundo do templo. A intervenção vai revelar aspectos que os belo-horizontinos não conhecem, como as torres antes revestidas de pedra ardósia e depois cobertas por tinta prateada.
Conforme o estudo, todas as fachadas estão repintadas com tinta acrílica na cor bege. De acordo com as prospecções, foram encontradas mais duas camadas de repinturas sobre a original, de colorações terrosas e azul. Além disso, foram localizadas tonalidades alaranjadas (cor de tijolo) e vermelho óxido de ferro, dispostas alternadamente em faixas das paredes externas, e um tom azul-escuro esverdeado nas colunas, junto a douramentos. A decoração corresponde a uma segunda pintura da igreja realizada em 1928, já que a primeira, decorativa, era imitação de pedra, com a comprovação pelo registro fotográfico do acervo da congregação. “A recuperação estética vai valorizar a edificação na sua concepção estilística”, informa a restauradora.
Interior - Recebendo a visita diária de cerca de 2 mil pessoas, a Igreja de São José teve todo o interior restaurado de 2010 a 2013 (veja quadro), com destaque para os elementos artísticos que recuperaram a luminosidade e foram inaugurados em 22 de dezembro. As pinturas parietais – feitas diretamente sobre paredes e teto, grande moda em BH no início do século 20 – consumiram dois anos de trabalho, entre 1911 e 1912.
Considerado o maior conjunto desse tipo de ornamentos em igrejas da capital, o interior da matriz reúne uma variedade de motivos religiosos e alguns pagãos: há figuras de 28 santos, de um lado os homens e do outro as mulheres; o patrono da matriz no alto do arco-cruzeiro, com a inscrição Rogai por nós; os evangelistas; painéis mostrando José do Egito (que não tem nada a ver com o pai adotivo de Jesus), sendo vendido pelos irmãos e depois em sua volta triunfal; Nossa Senhora ao lado dos apóstolos; e até os símbolos do zodíaco que, para os religiosos, representam constelações. Quem olha atentamente cada centímetro coberto pelas pinturas pode encontrar algumas envoltas em mistérios que desafiam historiadores e teólogos, a exemplo das três lebres perto da porta lateral.
As várias cores da unidade
Ontem à tarde, quem passava pela Avenida Afonso Pena, no Centro da cidade, não ficava indiferente às bandeiras hasteadas na Igreja de São José. O comerciante José Raimundo Rocha Santana, acompanhado da mulher, Dileusa, veio de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para conferir a homenagem da paróquia aos estrangeiros que chegarão à capital. “Vimos de longe a bandeira da Argentina, sempre o maior rival do Brasil na Copa, e procuramos também a da Croácia, que será o nosso primeiro adversário”, comentou José Raimundo. “Agora estamos aqui, olhando uma por uma, e tentando identificar os países”, disse Dileusa. Para facilitar essa tarefa, serão afixadas placas de cada nação nos mastros.
Chegando para a missa das 16h e vendo toda a movimentação de funcionários para limpar o adro, a vendedora Sônia Ribeiro, residente no Bairro Gameleira, na Região Oeste, considerou a ideia “inovadora”, pois as bandeiras “chamam a atenção e saúdam os turistas”. A missionária Ludmilla Abreu, de 22 anos, da comunidade Árvore da Vida, de Jaboticatubas, na Grande BH, ressaltou a importância do hasteamento das bandeiras “pela unidade da fé e dos povos”.
Para receber os estrangeiros, a Arquidiocese de BH está programando missas em inglês, espanhol, francês e italiano em várias igrejas da cidade, apresentação de orquestras e corais, ações sociais, entre outras atividades. Na Igreja de São José já está definido que as missas vão ser celebradas em espanhol às quartas e sextas, às 11h, e domingos às 11h30.
Templo de Histórias
1900
Em janeiro, é criada a Paróquia de São José
1902
Em abril, ocorre o lançamento da pedra fundamental
1904
O templo é liberado para celebrações
1907
Término da obra interna da igreja
1910
Conclusão das torres e da pintura do batistério
1911
Instalação do relógio e do sino
1911/1912
É feita a pintura interna da igreja
1928
Fachada e laterais perdem a cor original e ganham a cor bege
2010 a 2013
Restauração do interior do templo, com início no coro
2014
Projeto de recuperação da fachada entra em execução
Por Gustavo Werneck
Fonte: em.com.br/ Defender
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