Bicentenário de Aleijadinho inspira comemorações.
Se durante o século XIX, a mentalidade
artística brasileira recusava o barroco, especialmente a partir da
chegada da Missão Artística Francesa ao país, foram os modernistas, como
Oswald de Andrade (1890- 1954), que recuperaram a importância de um
legado que tem no nome de Antônio Francisco Lisboa uma de suas
principais referências.
Considerado o maior artista brasileiro do período colonial,
Aleijadinho é reverenciado de maneira crescente e agora ganha diversas
homenagens em razão do bicentenário de sua morte, registrada em 18 de
novembro de 1814. Uma dessas ações veio a público ainda em 2013, quando a
Lei 20.470/2012, aprovada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais,
determinou tal data como o Dia do Barroco Mineiro.
“Desde o lançamento dessa iniciativa no ano passado, a importância de
tratar o barroco, não só a partir do ponto de vista das artes visuais,
mas também da música, entre outros segmentos, ganhou mais atenção. Desta
vez, o destaque sem dúvida é para Aleijadinho que, ao ser o maior
representante do barroco mineiro, eleva o movimento artístico ao status
de reconhecimento que merece”, observa Eliane Parreiras, Secretária de
Estado de Cultura.
Vêm sendo também realizadas desde novembro
de 2013, atividades em Congonhas, cidade que abriga o Santuário do Bom
Jesus de Matosinhos – obra-prima do artista no campo da escultura.
Prevista para acontecer até o fim deste ano, essa programação deve
culminar na inauguração do museu voltado, principalmente, às criações de
Aleijadinho e à arte sacra.
“A ideia é que essas ações aconteçam até novembro de 2014, fechando
assim o ciclo de comemoração do bicentenário do artista. Desde 2013 nós
abrimos a Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos para uma série de
concertos centrados na música colonial, o que teve como objetivo trazer a
população para aquele espaço. É uma forma de estimularmos a atenção do
público com o patrimônio cultural e artístico”, explica Sérgio Rodrigo
Reis, presidente da Fundação Municipal de Cultura de Congonhas.
Abordagens. Reis pontua que a memória do escultor e
arquiteto tem sido revisitada até o momento por meio de diferentes
abordagens. Em março, por exemplo, foi tema do Carnaval da cidade e,
mais recentemente, as esculturas dos Passos da Paixão de Cristo,
pertencentes ao Santuário, serviram como ponto de partida para um
espetáculo encenado durante a Semana Santa.
“Já no próximo domingo (11/5), vamos inaugurar a Semana Nacional de
Museus, toda ela dedicada a Aleijadinho, com a presença de Angelo
Oswaldo, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), e da
historiadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, a maior especialista do
artista no Brasil. Os dois vão abordar aspectos da vida e da obra do
homenageado. Myriam, especificamente, vai tratar do processo de
restauração dos Passos da Paixão de Cristo”, diz Reis.
Oswaldo deve visitar o museu, que vem
sendo construído desde 2006, com algumas interrupções. Em fase de
acabamento, o futuro museu tem, entre os seus objetivos, qualificar a
fruição das criações do mestre barroco. “Geralmente as pessoas chegam em
Congonhas, passam pelas capelas dos Passos da Paixão de Cristo,
observam os 12 profetas no adro da igreja, mas não encontram informações
que as ajudem a entender a dimensão daqueles trabalhos”, esclarece o
presidente do Ibram. Outra contribuição do museu, para ele, é o fomento
ao turismo.
“Hoje o tempo médio da visitação ao Santuário é de cerca de uma hora.
Com o equipamento, as pessoas vão encontrar mais um atrativo para
permanecerem no local, aprofundando os seus conhecimentos sobre as obras
expostas ao ar livre; a história da criação do Santuário; e dos
materiais usados por Aleijadinho”, diz.
Jurema Machado, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, instituição que concebeu o projeto do museu,
ressalta que esse não será um equipamento estático, mas interessado em
tecer diálogos constantes com manifestações do presente.
“Haverá um acervo conectado com a história
de Congonhas, que é um importante destino de peregrinação, até estudos e
depoimentos que servem para pensar como aquele sitio está presente no
imaginário nacional, no cinema, nas artes visuais, nos quadrinhos, entre
outros”, conta Machado. “A intenção é permitir a quem visitar as
exposições olhar com mais profundidade o que encontra em Congonhas”,
conclui.
Pesquisa. Diversificado deverá ser também o roteiro
de eventos desenhado pela Secretaria de Estado da Cultura para celebrar a
efeméride em Belo Horizonte e em outros municípios. Eliane Parreiras
frisa que estão ainda na mira propostas para incentivar a pesquisa e a
educação. “São iniciativas que visam abarcar o barroco e as obras de
maneira ampla. Mobilizamos uma equipe de especialistas para pensar o
conteúdo dessa programação e estamos chegando a um conjunto de
atividades culturais, a ser compartilhado em breve, com a sociedade que
está ancorado em todas as áreas artísticas”, afirma a secretária.
“Haverá exibições de trabalhos escultóricos, pictóricos, lançamentos
de livros relacionados ao barroco, entre outros, que vão divulgar a
produção artística mineira”, diz Pareiras.
Por Carlos Andrei Siquara
Fonte: O Tempo
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