Tombada em 2008, a igrejinha dedicada a Santa Efigênia, construída com doações dos fiéis para atender ao desejo do pároco, está fechada há quase um ano: reforma incluirá recuperação de piso externo e jardim. (Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Erguida há 70 anos, a capela dedicada a Santa Efigênia em São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central de Minas Gerais, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, começa a ser restaurada em novembro. O templo, tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal em 2008, está fechado desde o fim de 2014 e deve ser entregue à população no primeiro semestre de 2016 – a obra está orçada em R$ 320 mil.
A igreja surgiu de uma história de carinho entre a comunidade e um vigário que celebrou missas, batizados e casamentos por seis décadas no município. Trata-se do padre João José Marques Guimarães (1890-1984), natural de Morro Vermelho, povoado da cidade vizinha de Caeté. Ele entrou para a história do município como “o amigo dos pobres” e “o pároco milagreiro”.
Há quem garanta que filetes de água saíram de sua sepultura pouco tempo depois de ele morrer e que enfermos que passaram o líquido no próprio corpo foram curados. Lenda ou não, placas e mensagens em agradecimento a graças alcançadas foram colocadas sobre seu jazigo.
Padre João foi tão querido no lugarejo, onde hoje vivem cerca de 10,5 mil pessoas, que uma imagem dele, com 16 metros de altura, foi erguida sobre um pedestal de 4 metros, numa das colinas de São Gonçalo do Rio Abaixo. No Centro Histórico, um busto dele é mais uma demonstração de gratidão da população.
A construção da igreja foi um desejo do vigário. Moradores antigos contam que João manifestou a vontade de celebrar cultos mesmo depois de já ter se “aposentado” da paróquia. O povo, comovido, financiou a obra. O templo foi erguido a menos de 10 metros da casa do pároco, na Praça Cônego Guimarães.
Por isso, lá em São Gonçalo do Rio Abaixo, a capela dedicada a Santa Efigênia também é chamada de “igrejinha do padre João”. Sua fachada foi inspirada na da centenária capela de Nossa Senhora do Rosário, do século 18, levantada na Praça Primeiro de Março, no Centro. Esta tem cores branca e marrom. Já no templo do padre, destacam-se o branco e o azul.
A pintura, porém, está desbotada. Parte da fachada, trincada. O maior problema é o telhado, que ameaça cair. Uma lona foi colocada sobre as telhas para evitar que o sol e a chuva danifiquem o interior. A obra consiste na reforma total do telhado e forro, pintura externa e interna, troca de revestimento e piso, recuperação das escadas internas, guarda-corpos e altar-mor (tratamento e imunização de peças em madeira).
A prefeitura vai aproveitar a restauração para recuperar o jardim no entorno e trocar o piso externo, com adaptações para dar acesso a pessoas com mobilidade comprometida.
A proximidade das obras na Santa Efigênia deixou fiéis emocionados. Dona Lúcia de Fátima de Souza, de 60 anos, é vizinha do templo e, diariamente, passa em frente à construção. Às vezes, ela para diante da igreja e se recorda dos cultos, batizados e casamentos. “Meu sobrinho se casou aí”, conta a pensionista. Ela conheceu padre João: “Ele era um vigário muito bom para o povo. Prova disso é que há uma imagem dele no alto do morro”.
Enquanto isso…
…À espera de uma mão de tinta
A área externa da Igreja do Rosário, a mais antiga em São Gonçalo do Rio Abaixo, também ganhará nova pintura. Os detalhes do serviço ainda estão sendo levantados pela prefeitura. O templo, o mais antigo no município, provavelmente data do início do século 18. A estimativa é possível em razão de algumas características, como a talha de seus três retábulos, que seguem o chamado estilo dom João V, introduzido em Minas Gerais por volta de 1730 e que prevaleceu por aqui até cerca de 1760. Atrás dele, duas altas mangueiras servem de pouso a bandos de barulhentas maritacas. Próximo à entrada, o busto de padre João.
Por Paulo Henrique Lobato
Defender
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