Trabalho estava parado há seis anos por falta de recursos financeiros; custo é de R$ 7,1 milhões.
Após seis anos parado por falta de recursos, o restauro da Catedral Metropolitana de Campinas será retomado em duas semanas. A recuperação desse patrimônio histórico recomeçará pelas fachadas. O arquiteto Ricardo Leite, coordenador do processo de recuperação, informou nesta quarta-feira (1) que a empresa Concrejato, contratada para realizar o trabalho, iniciará a montagem do canteiro de obras no próximo dia 13, com previsão de entregar as fachadas restauradas em agosto. O restauro deveria ter começado em novembro, mas a direção da Catedral transferiu o início para este mês para evitar que o canteiro de obras restringisse o fluxo de pessoas no calçadão e pudesse prejudicar o comércio durante as vendas de Natal.
Orçamento
A segunda fase da recuperação da Catedral, orçada em R$ 7,1 milhões, está sendo retomada porque a Arquidiocese de Campinas, proponente do projeto junto ao Ministério da Cultura, conseguiu captar o mínimo de 20% dos recursos, uma exigência da lei de incentivo fiscal (Lei Rouanet) para começar a obra. As doações, que somam R$ 1,9 milhão, vieram do Bradesco (R$ 1,5 milhão), do Banco Itaú (R$ 350 mil) e da Caixa Econômica Federal (R$ 100 mil). Os bancos estão utilizando a lei de incentivos fiscais para repassar parte do imposto de renda devido para a recuperação da Catedral.
Os recursos doados, disse Leite, serão suficientes para a recuperação das fachadas. Nessa parte da obra, os azulejos que revestem a torre da igreja serão retirados para a substituição dos que estiverem danificados por outros que serão fabricados com a mesma técnica utilizada nas peças originais. Os terraços do campanário também serão recuperados e os antigos mecanismos que acionam os sinos passarão por revisão. Toda a argamassa externa será refeita.
Imagens
As imagens da fachada passarão por restauro. Ali estão os quatro evangelistas — Mateus, Marcos, Lucas e João — e mais quatro anjos do apocalipse com suas trombetas. Uma delas, a de Marcos, está sem a cabeça desde 2010. A peça caiu, mas não quebrou e está guardada na igreja à espera do restauro. Mateus é o primeiro à direita do prédio e tem um anjo a seus pés. Marcos, o que está sem rosto, é o segundo, com um leão. Depois vem Lucas, com um touro, e João, com uma águia.
Para concluir a segunda fase das obras falta conseguir verbas para a substituição dos sistemas elétrico, hidráulico e de comunicação da Catedral. Na primeira fase, com R$ 1,58 milhão captados pela Lei Rouanet, foram feitas a troca do telhado do templo para eliminar as infiltrações que, em dias de chuva, permitiam a entrada de água, que acabava danificando altares e o chão do templo centenário.
O telhado foi construído em três lances: um sobre a nave central, outro do altar-mór e Capela do Santíssimo e outro que atravessa a igreja em frente ao altar-mór. Também foi feita a restauração do teto, com reformas na parte hidráulica e elétrica. Os três imensos lustres de cristais também passaram por restauro.
História
Tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), a Catedral é uma referência histórica, pois sua monumentalidade e excelência arquitetônica, presentes na talha do mestre Vitorino dos Anjos e na elaboração dos vitrais, simbolizam a fase de grande desenvolvimento urbano vivido pela cidade ao longo do século 19 graças à economia cafeeira.
A construção da Catedral teve início em 1807, estendendo-se por mais de 70 anos até sua inauguração, em 1883. O grande porte da construção já sugeria as pretensões de crescimento da então Vila de São Carlos (1797/1842), sendo instaurada as fundações em um terreno mais distante do Largo da Matriz Velha (atual área da Basílica do Carmo), para onde se projetava o crescimento da vila no início do século 19. Ao longo dos 76 anos de construção, a nova Matriz recebeu ornamentações em cedro vermelho (disponíveis em terrenos próximos) trabalhado em estilo barroco brasileiro pelo artista baiano Vitoriano dos Anjos.
Tramitação
Para conseguir cerca de R$ 5 milhões que faltam para completar a verba necessária à segunda fase do restauro, a Catedral aposta na lei de transferência do potencial construtivo, que existe desde 2009, mas que até hoje não foi utilizada pela Prefeitura. Essa lei funciona como uma espécie de ressarcimento pelo eventual prejuízo que um proprietário tem quando o imóvel é declarado patrimônio da cidade. A Catedral já seguiu toda a tramitação exigida pela lei e espera receber os chamados Certificados de Potencial Construtivo Decorrente do Tombamento (CPC-T).
Com os certificados, a Catedral poderá usar em outra área, e até vender, os metros quadrados a que teria direito de construir no terreno caso a edificação não fosse tombada. A lei precisou ser mudada no ano passado porque seus critérios inviabilizavam a utilização. Um dos impedimentos era que a legislação não era atrativa porque os bens tombados são enquadrados na lei de zoneamento como zona 18, que permite construir somente uma vez a área do terreno. O prefeito Jonas Donizette (PSB) alterou essa regra, estabelecendo que, para efeito de transferência de potencial construtivo, o imóvel tombado seguirá o zoneamento que existe num raio de 200 metros ao redor.
Áreas
Outra modificação na legislação é que a Prefeitura passará a controlar a distribuição os certificados para que as áreas que irão receber o potencial não tenham adensamento além do que suporta a infraestrutura existente. A legislação autoriza o repasse do potencial construtivo para a região do bairro São Quirino, Carrefour, Vila Nova, Castelo, Nossa Senhora Auxiliadora, Parque Brasília, Jardim Garcia, Campos Elíseos, Aurélia, Vila Teixeira, Pompeia, Ponte Preta, Proença, São Fernando, Nova Europa, Jardim das Oliveiras, Valença, Campo Grandes, Mauro Marcondes, San Martin, Nova Aparecida e Fazendinha.
Por Maria Teresa Costa
Fonte: Correio Popular
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