segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Autoridades, religiosos e moradores lutam para salvar igreja de 300 anos em Brumadinho (MG)

Problemas estruturais, trincas, infiltrações e cupins afetam bem cultural.
Matriz de Nossa Senhora da Piedade completou 300 anos em 8 de setembro de 2013.
Matriz de Nossa Senhora da Piedade completou 300 anos em 8 de setembro de 2013.

Uma comunidade unida para defender seu patrimônio e disposta a lutar pela restauração de seu bem cultural e espiritual mais precioso. Autoridades municipais, religiosos e moradores do distrito de Piedade do Paraopeba, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, temem pela situação da Matriz de Nossa Senhora da Piedade, que completou 300 anos em 8 de setembro e sofre com problemas estruturais, trincas, infiltrações, gambiarras na parte elétrica, descaracterização da arquitetura barroca, deterioração das madeiras e afins, como o ataque de cupins. “Houve muita perda, intervenções e a igreja se mantém de pé.

 Não queremos em hipótese alguma que o templo seja interditado”, diz o administrador paroquial, padre Paulo Eustáquio Cerceau Ibrahim, mostrando o escoramento do coro com madeira.
Para discutir o assunto, diz padre Paulo, foi realizado, em outubro, um seminário com participação de arquitetos, historiadores, especialistas de órgãos federais, estaduais e municipais e instituições ligadas à preservação. “A igreja tem diversos estilos, há duas lajes no lugar do forro, que foram colocadas pelos padres holandeses que estiveram aqui, e muitas alterações, embora as telhas originais tenham permanecido”, diz padre Paulo, enquanto observa as torres e o campanário, que se moveram e preocuparam ainda mais o administrador paroquial. “Aqui é uma caixa de pandora. Com a obra, vamos ter muitas surpresas”, afirma ele, que guarda em local seguro pedaços de retábulos, tarjas e outros objetos dos primórdios da construção colonial tombada pelo município.

O início da elaboração do projeto de restauro, feito pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob coordenação do professor Flávio Carsalade, é um sinal importante para impedir a derrocada do templo. “A partir daí, vamos buscar parceiros, entre as empresas que atuam na região, para fazer o serviço. A prefeitura também poderá participar com recursos”, adianta o vice-prefeito de Brumadinho, Breno Carone, que se encontrou, na tarde de ontem, com o padre Paulo para discutir o assunto. “Piedade do Paraopeba é porta de entrada para a maioria dos visitantes que seguem para o Instituto Inhotim e muitos deles param para tirar fotos da igreja. Com o restauro, o turismo religioso será fortalecido e a população, estimada em 3 mil pessoas, vai ganhar muito”, diz Breno.

Boa parte do trabalho de restauração do templo vai se concentrar em seu interior.
Boa parte do trabalho de restauração do templo vai se concentrar em seu interior.

Igualmente entusiasmado, Carsalade lembrou que o projeto estará pronto em seis meses. “Trata-se de um caso muito especial. A matriz é barroca e passou por muitas intervenções ao longo do tempo. Agora, vamos fazer prospecções para avaliar os riscos. De todo jeito, a matriz inspira cuidados”, disse o professor. Mesmo com as ameaças, o templo está aberto para missas, casamentos e batizados, e o padre explica que, se o projeto for concretizado, as celebrações religiosas serão transferidas para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Esperança

Fotografias do início do século passado, relatos de antigos moradores, documentos históricos e outros registros são fundamentais para ajudar no restauro da matriz. Lúcida e bem-humorada nos seus 92 anos, Argemira Gomes da Silva é a memória viva da igreja onde foi batizada, se casou e trabalhou durante duas décadas, tocou harmônio e regeu um coral. “Esta igreja é ‘meu tudo’. Queira Deus que eu tenha bastante saúde para vê-la prontinha”, afirma Argemira na varanda de sua casa, localizada atrás da matriz. A simpática senhora se lembrou de detalhes fundamentais: “O piso, hoje de cerâmica, tinha tábuas de madeiras, largas. Já o forro era pintado com cenas do céu e do purgatório”, conta Argemira, sem tirar as mãos do inseparável terço.

Saiba mais: os primórdios

História é o que não falta ao distrito de Piedade do Paraopeba, que surgiu por volta de 1680 pelas mãos de integrantes da Bandeira de Fernão Dias Paes Leme. Nos seus estudos, o engenheiro e pesquisador Euler de Carvalho Cruz verificou que a primitiva Capela de Nossa Senhora da Piedade do Paraopeba teve seu patrimônio instituído por Bento Rodrigues da Costa, em escritura de 27/2/1729. Estabelece o documento lavrado em Sabará que Rodrigues comprou do sargento-mor Leslico de Pontes Pinto terras e capoeiras em que havia uma capela, que foi reedificada e doada a Nossa Senhora da Piedade. O templo passou por reconstruções: a capela foi demolida, sendo erguida uma com esteios de braúnas e paredes de pau a pique e com telhas curvas; em 1896 a edificação ganhou duas torres, relógio e sino; em 1969, a igreja ganhou paredes de alvenaria e piso de ladrilho hidráulico.

Por Gustavo Werneck
Fonte: em.com.br

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