Sem dinheiro, Chico Paulo mostrou sua devoção angariando verbas entre os vizinhos da comunidade
Quixadá.
Nestes tempos de renovação da fé dos católicos no seu salvador, através
da celebração do Nascimento de Jesus Cristo, um agricultor desta
cidade, Francisco Paulo Rabêlo, mais conhecido como Chico Paulo,
demonstra a sua dedicação na doutrina da Igreja Católica com um ato
considerado nada comum nos dias atuais.
A edificação está sendo construída no vilarejo de Riacho do Meio fotos: Alex Pimentel
Ele
juntou todas as suas economias e resolveu construir a igreja da sua
comunidade, o vilarejo de Riacho do Meio, situado a cerca de 10Km do
Centro de Quixadá. Até pouco tempo antes do Natal eles se reuniam no
pátio da escolinha da vila para assistirem as celebrações.
Agora
com a generosidade do agricultor, o auxílio da família, e alguns poucos
amigos, a comunidade daquele lugarejo terá seu próprio templo, com
paredes de tijolos. Por ironia, o simplório trabalhador rural continua
morando em uma humilde casa de taipa. Os R$ 20 mil gastos por ele para
erguer a primeira igreja do lugar seriam suficientes para recuperar
totalmente o seu lar.
Homem de poucas palavras, acanhado, Chico
Paulo não gosta de dar satisfação acerca da sua atitude. Filho de pais
muito religiosos, criado no costume de frequentar a igreja ele diz
apenas ter feito a coisa certa.
"Por maior que ficasse depois de
reformada a casa não teria espaço suficiente para acolher todos os
filhos de Deus. Além do mais, como já estou mais para lá do que pra cá
quem sabe assim assegure meu cantinho no céu", brinca para justificar a
sua decisão. Afinal foram mais de 30 anos guardando os ganhos apurados
no roçado.
Como a seca apertou nos dois últimos anos, sem
paciência de ficar parado, ele mesmo passou a cavar o alicerce da nova
Casa de Deus.
Mutirão
Os irmãos e alguns
vizinhos passaram a ajudar nos mutirões. Mas ele não esconde a sua
decepção, a maioria dos moradores, embora católicos, nunca pegou sequer
em um tijolo. Continua pagando pedreiro e servente para auxiliá-lo na
sua empreitada. Mas como não tem mais dinheiro precisa de ajuda
financeira para comprar o piso, as portas e as janelas da igreja. A
santa padroeira, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, foi doada pelo
pároco Francisco das Chagas.
Os
R$ 20 mil gastos pelo agricultor para erguer o primeiro templo católico
do lugar seriam suficientes para recuperar totalmente a sua casa de
taipa. Entretanto, a dedicação na doutrina da Igreja Católica foi maior
que a necessidade
A irmã mais velha de Chico Paulo, Antônia
Teixeira, ficou responsável pelos cuidados da igreja. Além de orgulhosa
com a atitude do irmão ela confessa estar ansiosa com a conclusão da
igreja.
"Quem sabe surja uma mão caridosa para doar o restante do
material. O motivo da preocupação está na proximidade de maio, mês do
centenário mariano na comunidade. Será um mês inteiro de festa. Com a
casa de Nossa Senhora terminada a alegria será maior", confessa. Já
ocorreu até ensaio, uma procissão foi realizada no dia 16 passado, na
comunidade vizinha, Umarizeira, até a nova igreja.
O pároco
Francisco das Chagas elogiou a atitude do agricultor, não pelo aspecto
material, pela construção, mas por preservar alguns valores importantes
da igreja. Um deles é lembrar do próximo. Quando fazia a última
celebração do pátio do grupo escolar do Riacho do Meio ele ressaltava a
importância da família, como célula mãe da sociedade. Os pais de Chico
Paulo desempenharam com êxito esse papel. A obra erguida por ele é um
exemplo. "A Igreja Católica é a última instância moral da sociedade",
ressaltou o religioso.
Com 17 anos, Herbson Teixeira Ribeiro
concorda e costuma ouvir atento aos sermões do padre. Nascido e criado
no ambiente rural ele percebe os amigos se distanciarem das famílias,
muitos passam os fins de semana bebendo cachaça. Ele, resolveu seguir os
passos do tio. Também acompanha o terço dos homens, realizado toda
semana. É importante dedicar um pouco do seu tempo aos ensinamentos de
Deus. Também é preciso saber viver, explica o jovem.
De acordo
com Ana Paula Ribeiro, uma das articuladoras dos fieis do lugar, cerca
de 70 famílias moram na sua comunidade, na maioria herdeiros da Fazenda
Riacho do Meio. Seu bisavô, João José da Silva foi o patriarca.
Entretanto,
foi seu avô, Francisco Ribeiro, quem começou a promover a celebração
das missas, em maio de 1914. Naquela época a vila do distrito de Daniel
de Queiroz, era lugar mais frequentado daquela região, por conta da
ferrovia e da estação.
Mas a força e a fé da sua família
sobressaltaram esses tempos. Hoje, os moradores avaliam que graças a
Chico Paulo, o antigo sonho da capelinha da fazenda se concretiza. "Mas é
preciso ajudá-lo, afinal toda casa, até mesmo a de Deus, precisa de
portas e janelas", dizem.
Mais informações:
Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Riacho do Meio
Quixadá
Telefone: (88) 3415.5697
ALEX PIMENTEL
Fonte: Diário do Nordeste
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