Nossa Senhora da Abadia é também conhecida pelo titulo de Santa Maria do Bouro, pois é originária do convento do Bouro, próximo à cidade de Braga, em Portugal. Segundo
a lenda, a imagem de Nossa Senhora da Abadia é muito antiga, tendo
pertencido a um recolhimento religioso conhecido por Mosteiro das
Montanhas, que existia naquelas paragens por volta do ano 883. Quando os
sarracenos invadiram a Península Ibérica, os monges fugiram, escondendo
a imagem da Virgem Maria. Os séculos passaram. No tempo do Conde D.
Henrique, um antigo fidalgo da corte, Pelágio Amado, fugindo aos faustos
desse mundo, retirou-se para a ermida de São Miguel, a pouca distância
de Braga, onde foi viver com um velho ermitão que ali morava há muitos
anos. Certa noite, avistaram uma grande claridade que vinha do centro de
um vale próximo e como este fato se repetisse na noite seguinte,
ficaram os dois vigiando e ao amanhecer foram verificar a origem daquela
estranha luz. Encontraram escondida entre os penedos uma imagem de
Nossa Senhora e, cheios de alegria à vista daquele tesouro, os eremitas
se prostraram, agradecendo a Deus por tão singular favor. Mudaram a sua
morada para aquele sitio e ali edificaram uma pequena ermida, onde
colocaram a imagem da Santa." Teve noticia da descoberta o arcebispo de
Braga e foi pessoalmente visitar os ermitães. Verificando a pobreza em
que viviam, mandou construir uma igreja de pedra lavrada digna de
abrigar a Mãe de Deus. Aos poucos, vários monges se uniram aos dois
santos homens e a fama dos milagres de Nossa Senhora da Abadia se
espalhou pela terra portuguesa, a ponto de o rei D. Afonso Henriques ter
ido especialmente visitar o santuário, onde deixou uma boa esmola para o
culto divino e as necessidades daqueles servos de Deus. Após a
descoberta do Novo Mundo, a pequena imagem de Nossa Senhora da Abadia
atravessou o oceano no surrão de algum devoto bracarense e foi instalar
seu culto nos chapadões do «Triângulo Mineiro», onde várias cidades a
tomaram por Padroeira. Passou depois para Goiás, localizando-se
principalmente em Muquém e na antiga capital da província, a Vila Boa,
que conserva ainda sua bela matriz, edificada no século XVIII.
Atualmente uma das localidades mais famosas pelas romarias é a de Nossa
Senhora da Abadia da Água Suja, antigo centro de garimpagem de
diamantes. O Santuário da Virgem do Bouro nesse rincão das Alterosas
atrai todos os anos no dia 15 de agosto um grande número de devotos e a
procissão é célebre pelo pitoresco das promessas. Aqui um peregrino anda
vergado sob o peso de enorme pedra, outro carrega um aleijado nos
ombros e vêem-se ainda homens sem camisa levando velas ou vasilhas de
água na cabeça; outros açoitam-se ou fingem açoitar-se durante o cortejo
noturno. Tudo isso em agradecimento às graças alcançadas por intermédio
de Nossa Senhora da Abadia. Na progressista cidade de Uberaba é também
grande a devoção a Santa Maria da Abadia do Bouro. Sua igreja,
construída em fins do século passado após muita insistência junto às
Autoridades Eclesiásticas, teve inicio com solene missa oficiada pelo
vigário e acompanhada pela banda de música «união uberabense». Junto ao
templo havia uma cisterna cuja água era considerada milagrosa pelo povo,
a ponto de virem pessoas de longe em busca do precioso líquido. Houve
entretanto vários abusos e um dia, inexplicavelmente, a cisterna secou.
Iniciada a edificação da igreja, foi mandada vir do Rio de Janeiro uma
bonita imagem de Nossa Senhora da Abadia, que permaneceu na Matriz de
Uberaba até a inauguração do templo em 1884. A
afluência de fiéis era tão grande, que foi necessário aumentar o
recinto nos dias de festa com toldos cobertos de folhas de palmeiras,
para que o povo tivesse um abrigo durante as cerimônias religiosas.
Posteriormente a igreja da Abadia foi ampliada e reformada. A festa de
15 de agosto tornou-se a mais popular e concorrida da redondeza e o
uberabense, por mais longe que esteja, ao aproximar-se a grande data,
volta á sua terra para matar as saudades e para render culto a Nossa
Senhora da Abadia.
Fontes:
Augusto de Lima Júnior, "História de Nossa Senhora em Minas Gerais", Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1956
Nilza Botelho Megale, "Invocações da Virgem Maria no Brasil", Ed. Vozes, 4a. ed., 1998
Edésia Aducci, "Maria e seus títulos gloriosos", Ed. Loyola, 1998
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