sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Arquitetura moderna nas Igrejas

por Fernando Tavolaro de Castro


Estive olhando com mais atenção às fotos da Igreja da Santíssima Trindade, que foi recentemente inaugurada em Fátima, Portugal. É um templo construído seguindo as modernas linhas arquitetônicas, projetado pelo arquiteto greco-ortodoxo Alexandros Tombazis.


As linhas arquitetônicas do templo me lembraram de um artigo que li certo tempo atrás, que tratava sobre o assunto. O título é "Igrejas modernas, “feias como o pecado”", publicado na Revista Catolicismo. O artigo trata sobre o best-seller Ugly as Sin, do arquiteto Michael Rose, Doutor em Belas Artes pela Brown University (EUA) apresenta a catedral Notre Dame de Paris como a jóia-da-coroa da Cidade Luz, o verdadeiro epicentro, a alma da capital francesa.

O autor nos lembra que as Igrejas contruídas no estilo clássico são como verdadeiros "Evangelhos de pedra". Qualquer pessoa que olhe para as esculturas, gravuras, vitrais e demais imagens sacras percebe a aura de solenidade que emada dos locais. Esses templos emanam sacralidade, impelem o fiel a orar. A arquitetura das Igrejas impõe um limite entre o sagrado e o profano, coisa que muitos templos modernos não consegue mais expressar com a clareza de antes.

Vejamos os detalhes. Na Basílica de Fátima, a primeira imagem representa Cristo, enquanto a segunda representa a Cristo na recém-inaugurada Igreja da Santíssima Trindade.

Qual delas expressa de forma mais clara a idéia que querem passar?

Entendam que o intuito desse artigo não é criticar a arquitetura moderna. Ela existe e tem sua beleza, utilidade e funcionalidade. O que quero chamar a atenção é que tal tipo de arquitetura não é o ideal para um templo, pois não expressa com o mesmo esplendor a plenitude do Cristianismo. Michel Rose insiste que Notre Dame é arte no sentido mais nobre do termo, é arquitetura da mais alta classe, um “lugar sagrado” que espelha esplendorosamente as realidades eternas. Em muitas cidades pequenas e em volta das Igrejas mais antigas, praças e largos cumprem uma função de transição, do ambiente profano para o sagrado. Ela é, antes de tudo, a casa onde Deus habita na Terra. Assim Deus era visto quando foi construída.

Michel Rose diz que as palavras de Cristo no Sermão das Bem-Aventuranças são normativas. Nosso Senhor ensinou: “Não pode se esconder uma cidade que está situada sobre um monte. Nem os que acendem uma luzerna a metem debaixo do alqueire, mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos que estão na casa” (Mt 5, 14-15).

A fachada é o rosto da igreja. Ela evangeliza, ensina, catequiza. Na Idade Média, bastava ao catequista explicar o significado das inúmeras estátuas e cenas entalhadas na pedra, para dar aulas perfeitas sobre as verdades fundamentais da fé, as virtudes e os vícios opostos, a História Sagrada, a ordem do Universo, a hierarquia das ciências, etc.

A arte católica não pode nascer apenas de uma racionalização ou de uma artificial adaptação do que é moderno ao uso sacro simplesmente por ser moderno. Ela deve nascer do íntimo do artista católico, que conhece, ama e vive a Fé, e por isso sabe identificar o que é compatível ou não com a mesma.

A tradicional arquitetura sacra surgiu do encontro da Fé com as basílicas romanas, que tinham um ambiente de sacralidade e reverência (por serem palácios imperiais e o imperador ser considerado "divino"), e puderam ser aproveitadas, depois de devidamente "evangelizadas".

Ao longo dos séculos, os templos foram sendo construídos a partir dessa Fé cristã que havia impregnado os modos de pensar, de sentir, de agir, configurando a arte e a cultura ocidental em geral, de modo que a história da grande arte ocidental quase confunde-se com a história da arte sacra, até o Século XVIII (e mesmo o Renascimento, ao voltar aos padrões clássicos pré-cristãos, aplica-os ao conteúdo da Fé).

Com a artificial ruptura entre a Fé e a vida civil, depois da Revolução Francesa, simultaneamente ao caráter dessacralizado do protestantismo que cada vez ganhou mais espaço no catolicismo, gerando as concepções modernistas, a distinção entre o sacro e o profano - que estavam harmonizados e hierarquizados no catolicismo - foi desaparecendo e o que é profano, utilitário, foi adquirindo cidadania numa arte que em muitos casos já não se pode chamar de sacra.

Não é impossível fazer Igrejas em estilo contemporâneo utilizando a arquitetura atual e ao mesmo tempo manter a reverência dos templos antigos. Tudo é uma questão de querer expressar a Fé ao se desenhar essas Igrejas, sem ideologismos.

Fonte: http://www.blogdofernando.com.br/2007/10/arquitetura-moderna-nas-igrejas.html

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