terça-feira, 16 de julho de 2013

Preciosidades que celebram a arte e a fé


Sobre este último, havia dificuldades inerentes à negociação com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que ocasionaram uma pausa a partir de 2011. Mas a situação, enfim, se reverteu. “Aquele hiato foi difícil, pois foram três anos e meio de um trabalho intenso. Porém, aconteceu um fato muito bonito: toda a cidade pediu a construção do Museu de Sant’ Anna. Em cinco dias, ele foi aprovado e o projeto foi publicado no ‘Diário Oficial’. Já fiz a captação dos recursos pelo BNDES, as obras começaram, e acredito que em um ano e meio ele será entregue à população”, comemora.

São 260 imagens que a empresária doou ao Iphan. Um acervo precioso datado dos séculos XVII, XVIII e XIX. “São Sant’ Annas de todas as regiões do Brasil. As peças são lindas e revelam a força da presença feminina na fé cristã. Tenho certeza de que ela (Sant’Anna) ajudou na realização desse sonho”, atribui.

O fator perseverança também foi imprescindível, aliado à escolha de uma equipe de peso para a idealização do Museu de Sant’Anna. “Já que estou falando em primeira mão para O TEMPO, não poderia deixar de citar os envolvidos”, considera. Ângela Gutierrez conta que o projeto arquitetônico tem a assinatura de Gustavo Penna, a museografia é de Pedro Mendes da Rocha. Ângela Dourado é responsável pela identidade visual, Pedro Pederneiras, do Grupo Corpo, pela iluminação. A consultoria é do artista plástico e professor da UFMG José Alberto Nemer.

Fila. Ângela Gutierrez diz que recebeu como uma honra o convite da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) para expor “Oratórios: Relíquias do Barroco Brasileiro” no Museu Nacional de Belas Artes, ao lado do grande evento dessa temporada, “A Herança do Sagrado: Obras-Primas do Vaticano e de Museus Italianos”. As exibições celebram a primeira visita do papa Francisco ao país, entre 22 e 28 de julho.

“São 115 peças, entre oratórios, imagens, adornos, palmas e castiçais. Estar ao lado dessa grande exposição é muito importante, sobretudo para essa arte tão presente na tradição de Minas Gerais”.

Para estabelecer um interessante contraponto às relíquias do Vaticano, compostas por obras de nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Caravaggio, Ângela optou por pinçar registros de uma arte extremamente popular. “As pessoas saem impressionadíssimas com o peso que os oratórios têm também nas mãos do artista popular, desconhecido, que entalhou aquelas imagens a partir do seu talento e da força de sua religiosidade. No fim, tudo é fé. Mesmo quem não é católico fica impressionado. O objeto de fé é um objeto de arte”, diz.

A presidente do Instituto Flávio Gutierrez conta que a mostra veio diretamente de uma bem-sucedida temporada expositiva em Quito, no Equador. “Foram três meses em cartaz. E o espectador pode perceber o convívio de elementos da arte sacra pura e a feita no Brasil, com as referências da cultura africana. É o sincretismo que traz santos como Cosme e Damião, entidades do candomblé para a fé católica”, explica Ângela.


O barroco popular com o viés rústico e de intensa produção a partir do século XVII em exposição neste recorte reserva também nomes conhecidos. Há pinturas internas em oratórios atribuídas ao Mestre Ataíde. “Trata-se de uma mostra bem compacta, porém bastante completa. A força do misticismo, os trabalhos afro-brasileiros bastante característicos provocam uma grande empatia. Tanto que o Museu Nacional de Belas Artes criou um horário estendido. Às 9h da manhã já havia gente na fila, é impressionante, fiquei muito feliz”.

“Oratórios: Relíquias do Barroco Brasileiro” fica em cartaz na capital fluminense até o dia 18 de agosto. Sua próxima itinerância é justamente o palco da realização de um dos grandes projetos de Ângela Gutierrez. As peças serão apreciadas durante o Festival Internacional de Gastronomia de Tiradentes.

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