segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ex-metalúrgicos tentam evitar ampliação de capela em Timóteo (MG), no Vale do Aço

Eles temem a descaracterização do templo que lhes serviu de refúgio na ditadura.
São José Operário dá o nome à pequena igreja, que já não comporta os fiéis nas missas de domingo. Proposta do padre é rejeita por trabalhadores

Apesar da simplicidade, a pequena Capela de São José Operário, erguida na década de 1950 na Praça de Primeiro de Maio, em Timóteo, no Vale do Aço, ganhou significado maior ao servir de ponto de apoio às greves de metalúrgicos durante a ditadura militar e acolher trabalhadores perseguidos pelos patrões. Esses mesmos operários lutam agora contra a ameaça de descaracterização da igreja, que seria ampliada em até três vezes com o objetivo de comportar os fiéis nas missas de domingo. Para defender a capela, os trabalhadores chegaram a pedir socorro à Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural de Timóteo.

Apesar de a igrejinha ainda não ter sido tombada pelo patrimônio histórico, a última palavra caberá ao promotor de justiça Kepler Cota Cavalcante Silva, que evitou dar entrevistas ontem. Por meio da assessoria de imprensa, informou apenas que encaminhou ao Ministério Público estadual pedido de vistoria técnica de historiador e arquiteto, devidamente qualificados, para bater o martelo em relação ao valor histórico e cultural da Capela São de José Operário. O pedido ainda não foi avaliado pelo promotor responsável pela área em Belo Horizonte, Marcos Paulo de Souza Miranda, que em férias e retorna só na segunda-feira.
Até a direção do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Timóteo e Coronel Fabriciano foi acionada para interferir nas questões da fé na cidade, que dividem os próprios católicos. “O padre quer demolir nossa igrejinha, que já é tombada no coração das pessoas da cidade. Nela, nos casamos e batizamos nossos filhos”, conta Jésus Ferraz Barbosa, metalúrgico e sindicalista aposentado, que mobilizou mais de 2 mil pessoas pela internet contra a reforma. Segundo ele, o departamento jurídico do sindicato acionou o MP e a prefeitura, com o objetivo de cassar o alvará que permite reformas no templo.

“Só reclama quem não frequenta mais a capela. Acho que 99% dos fiéis estão a favor da ampliação da matriz”, garante o trabalhador aposentado da antiga Acesita Eugênio Nunes de Souza, de 61 anos, coordenador da Matriz de São José de Acesita. Ele explica que a atual capacidade da igreja é de 100 pessoas sentadas e 300 em pé. Para receber mais de 1,5 mil católicos na missa mais concorrida, às 19h30 de domingo, é necessário transferir o altar para fora da capela, além das mais de 1 mil cadeiras improvisadas. “Cinco voluntários chegam três horas antes da missa e preparam tudo. Não é fácil, mas o pessoal trabalha com afinco”, afirma.

“Não vamos interferir na fachada da igreja e não há nada definitivo ainda. O projeto está sendo elaborado com seriedade e será submetido a consulta pública”, diz o padre Pascifal José, de 43, natural de Petrolina (PE), nomeado pároco em maio de 2010. Ele substitui Abdala Jorge, o falecido padre que, durante 50 anos, liderou o histórico de lutas trabalhistas em torno da Praça Primeiro de Maio. “A igreja já tem um puxadinho, que acabou se tornando uma gambiarra e não resolveu o problema, porque os fiéis ficam praticamente de costas para o altar. Minha preocupação é com os idosos e cadeirantes, que,  chova ou faça sol, participam da missa do lado de fora por falta de espaço”, sustenta.

Litúrgico
Padre Pascifal diz estar aberto a outras sugestões, como a realização de plebiscito para decidir se a igreja deve ser reformada ou a cessão de terreno por particulares ou poder público capaz de comportar um templo três a cinco vezes maior que o atual. “No projeto arquitetônico, que será entregue em 90 dias, está mantida a fachada da igreja. O altar iria para o fundo da capela, e, no meio, seria acrescentado de cinco a seis metros de construção, o que aumentaria a capacidade para 1,1 mil pessoas sentadas. Estão previstos espaços litúrgicos para a celebração de batismo e casamento, nova engenharia, som e acústica, além de espaço para coral e confessionários”, detalha.

Antes de pensar na ampliação, a comunidade da Capela de São José discutiu a alternativa da igreja do Timirim, conhecida como Matriz de São José, que comporta exatamente a mesma quantidade de pessoas e costuma ficar vazia. A ideia, entretanto, foi recusada. Além do apego dos moradores à histórica capelinha, a igreja central conta com localização estratégica e proximidade de pontos de ônibus para quem vem de outros bairros e das cidades próximas, como Ipatinga e Coronel Fabriciano.

Por Sandra Kiefer
Fonte: em.com.br

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