Eles temem a descaracterização do templo que lhes serviu de refúgio na ditadura.
Apesar da simplicidade, a pequena Capela de São José Operário,
erguida na década de 1950 na Praça de Primeiro de Maio, em Timóteo, no
Vale do Aço, ganhou significado maior ao servir de ponto de apoio às
greves de metalúrgicos durante a ditadura militar e acolher
trabalhadores perseguidos pelos patrões. Esses mesmos operários lutam
agora contra a ameaça de descaracterização da igreja, que seria ampliada
em até três vezes com o objetivo de comportar os fiéis nas missas de
domingo. Para defender a capela, os trabalhadores chegaram a pedir
socorro à Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural de
Timóteo.
Apesar de a igrejinha ainda não ter sido tombada pelo patrimônio
histórico, a última palavra caberá ao promotor de justiça Kepler Cota
Cavalcante Silva, que evitou dar entrevistas ontem. Por meio da
assessoria de imprensa, informou apenas que encaminhou ao Ministério
Público estadual pedido de vistoria técnica de historiador e arquiteto,
devidamente qualificados, para bater o martelo em relação ao valor
histórico e cultural da Capela São de José Operário. O pedido ainda não
foi avaliado pelo promotor responsável pela área em Belo Horizonte,
Marcos Paulo de Souza Miranda, que em férias e retorna só na
segunda-feira.
Até a direção do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Timóteo e
Coronel Fabriciano foi acionada para interferir nas questões da fé na
cidade, que dividem os próprios católicos. “O padre quer demolir nossa
igrejinha, que já é tombada no coração das pessoas da cidade. Nela, nos
casamos e batizamos nossos filhos”, conta Jésus Ferraz Barbosa,
metalúrgico e sindicalista aposentado, que mobilizou mais de 2 mil
pessoas pela internet contra a reforma. Segundo ele, o departamento
jurídico do sindicato acionou o MP e a prefeitura, com o objetivo de
cassar o alvará que permite reformas no templo.
“Só reclama quem não frequenta mais a capela. Acho que 99% dos fiéis
estão a favor da ampliação da matriz”, garante o trabalhador aposentado
da antiga Acesita Eugênio Nunes de Souza, de 61 anos, coordenador da
Matriz de São José de Acesita. Ele explica que a atual capacidade da
igreja é de 100 pessoas sentadas e 300 em pé. Para receber mais de 1,5
mil católicos na missa mais concorrida, às 19h30 de domingo, é
necessário transferir o altar para fora da capela, além das mais de 1
mil cadeiras improvisadas. “Cinco voluntários chegam três horas antes da
missa e preparam tudo. Não é fácil, mas o pessoal trabalha com afinco”,
afirma.
“Não vamos interferir na fachada da igreja e não há nada definitivo
ainda. O projeto está sendo elaborado com seriedade e será submetido a
consulta pública”, diz o padre Pascifal José, de 43, natural de
Petrolina (PE), nomeado pároco em maio de 2010. Ele substitui Abdala
Jorge, o falecido padre que, durante 50 anos, liderou o histórico de
lutas trabalhistas em torno da Praça Primeiro de Maio. “A igreja já tem
um puxadinho, que acabou se tornando uma gambiarra e não resolveu o
problema, porque os fiéis ficam praticamente de costas para o altar.
Minha preocupação é com os idosos e cadeirantes, que, chova ou faça
sol, participam da missa do lado de fora por falta de espaço”, sustenta.
Litúrgico
Padre Pascifal diz estar aberto a outras sugestões, como a realização
de plebiscito para decidir se a igreja deve ser reformada ou a cessão
de terreno por particulares ou poder público capaz de comportar um
templo três a cinco vezes maior que o atual. “No projeto arquitetônico,
que será entregue em 90 dias, está mantida a fachada da igreja. O altar
iria para o fundo da capela, e, no meio, seria acrescentado de cinco a
seis metros de construção, o que aumentaria a capacidade para 1,1 mil
pessoas sentadas. Estão previstos espaços litúrgicos para a celebração
de batismo e casamento, nova engenharia, som e acústica, além de espaço
para coral e confessionários”, detalha.
Antes de pensar na ampliação, a comunidade da Capela de São José
discutiu a alternativa da igreja do Timirim, conhecida como Matriz de
São José, que comporta exatamente a mesma quantidade de pessoas e
costuma ficar vazia. A ideia, entretanto, foi recusada. Além do apego
dos moradores à histórica capelinha, a igreja central conta com
localização estratégica e proximidade de pontos de ônibus para quem vem
de outros bairros e das cidades próximas, como Ipatinga e Coronel
Fabriciano.
Por Sandra Kiefer
Fonte: em.com.br
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