Não é novidade para ninguém que a liturgia no 
Brasil sofre uma crise sem precedentes, especificamente no que concerne à
 observância íntegra dos ritos sagrados. Talvez o aspecto que mais salte
 aos olhos (ou aos ouvidos) dos fiéis e que denuncia a decadência da 
sacralidade litúrgica é a qualidade musical. Em nome de diversos 
pretextos, que não convém serem listados aqui, as lideranças da Igreja 
no Brasil adotaram como que um caminho de relaxamento e empobrecimento 
da beleza musical, e de total desprezo pela tradição milenar de uma 
música mais sóbria e sacra.
É bastante 
patente que a música litúrgica popular no Brasil se tornou um fator mais
 lúdico do que sacramental; mais dispersivo do que compenetrante; mais 
extravagente do que discreto; e mais emotivo do que teológico. Hoje essa
 realidade se tornou norma universal no Brasil; quando não defendidas 
explicitamente por alguns “liturgistas” de laboratório, ao menos na 
prática já se proliferou em praticamente todas as paróquias Brasil 
afora. Mas esse cenário pode mudar em breve. 


Em Campinas, em meio a uma situação nada distante da descrita acima, eis que começam a brotar os primeiros frutos de um empenho da parte de pessoas que vem lutando para a promoção de um repertório litúrgico verdadeiramente sacro e em consonância com a espiritualidade que a Igreja e a Tradição Apostólica nos pedem.
O 
CEMULC (Curso de Extensão em Música Litúrgica de Campinas) é o primeiro 
curso de formação litúrgica regular que se tem notícia no país. Não é 
apenas um pequeno curso de música, aos moldes dos que estamos 
acostumados a ter notícias, que tão somente reúnem os fiéis para 
aprender novas melodias de gostos duvidosos, mas trata-se realmente de 
uma escola de música, com duração de três anos, em que são ensinados 
todos os princípios para se formar músicos competentes. O curso inclui 
na sua matriz disciplinar as matérias de Apreciação Musical, Canto 
Coral, Canto gregoriano, Estruturação Musical (Teoria Musical, Solfejo, 
Percepção Musical, Harmonia e Análise Musical), História da Música, 
História da Música na Liturgia, Iniciação à Composição, Liturgia, 
Pastoral da Música Litúrgica, Regência, Pedagogia e Didática Musical, 
Religiosidade Popular e Liturgia, Salmos e Cânticos Bíblicos, 
Sonorização para a Liturgia, além dos cursos específicos dos seguintes 
instrumentos musicais: Teclado, Órgão, Violão, Violino, Flauta-doce, 
Flauta-transversal e Canto.


O objetivo do curso é formar lideranças em toda a arquidiocese, preparando os fiéis leigos de cada paróquia a dominarem não apenas a técnica musical, mas a formarem uma bagagem sólida e esclarecida no conhecimento do mistério sagrado a que são chamados a colaborar dentro da liturgia. São abordados temas que escapam ao que é oferecido atualmente pela maioria dos cursos regulares, como a evolução orgânica do canto dentro da história da Igreja, o estudo das sensações e contemplações que a música é capaz de oferecer (em contraste com a euforia que se vê tão comumente dentro do culto sagrado), um estudo das partes da missa que não fuja das determinações do Missal Romano, bem como a importância e necessidade de se seguir o ritual prescrito pela Igreja como forma de se conservar a fé e a própria história da Igreja de todos os tempos como sagrado tesouro da fé.
Todos
 os professores do curso possuem formação superior nas áreas que 
lecionam no curso, que desde sua fundação, em 2007, já contou com a 
matrícula de 1089 alunos das diversas paróquias da Arquidiocese. A 
primeira turma a concluir o curso, com 190 formandos, celebrou sua 
formatura em 03. 12. 2009, em cerimônia solene e precedida pela Santa 
Missa cantada pelos formandos do curso e celebrada por D. Bruno 
Gamberini, arcebispo metropolitano de Campinas.
Desde
 sua existência, o CEMULC também tomou por função, a pedido do 
Arcebispo, cuidar da música para a Missa Solene de Corpus Christi, 
realizada no centro da cidade. Nesta ocasião, todos os alunos dos três 
anos são preparados para tomar parte num grande e majestoso coro para o 
enriquecimento desta importante celebração da cidade, com uma 
participação de uma orquestra de instrumentistas convidados. 
 
O
 diretor geral do curso, Clayton Júnior Dias, é o responsável pelo setor
 de Música Litúrgica da Diocese de Campinas, e faz parte da Comissão 
Regional de Liturgia do Regional Sul 1 da CNBB. Clayton é graduado em 
música com especialização e canto erudito e regência e, juntamente com a
 administração do CEMULC, está trabalhando na confecção de uma coletânea
 de Hinários litúrgicos para a Arquidiocese. Pouco a pouco as paróquias 
têm passado a adotar estes hinários como modelo ou mesmo na íntegra para
 o repertório a se utilizar nas celebrações. Dessa forma o curso tem se 
mostrado bem-sucedido no objetivo que se propõe de agir como um 
multiplicador de bons formadores musicais.
Outra 
contribuição extraordinária do curso, e que mereceria um artigo a parte,
 é a fundação do Coral da Arquidiocese de Campinas, formado em sua 
maioria por estudantes do curso. Atualmente o coral é designado para 
cantar nas missas solenes a pedido do Arcebispo, atuar nas paróquias em 
que são convidados em ocasiões especiais, promover recitais de música 
sacra durante o ano, e gravar os CD’s com as músicas do Hinário 
Litúrgico. No último dia 15 de agosto, Vigília da Assunção de Nossa 
Senhora, o coral comemorou seu 2º aniversário de existência cantando em 
uma missa na Catedral da Sé, São Paulo, a convite de Dom Frei João 
Mamede, Arcebispo Auxiliar de São Paulo. 

As
 peças cantadas pelo coral são em sua maioria de origem estrangeira, uma
 vez que o repertório nacional não apenas peca por estética, mas também 
por faltas graves ao texto exigido para os ritos sagrados. Assim, a 
solução para o coral tem sido adaptar composições de grandes e 
respeitados liturgistas, como Mons. Marco Frisina, Mons. Valentino 
Miserachs, Pe. Antonio Parisi, (Itália), Pe. Cartageno, Pe. Manuel Luís 
(Portugal), Pe. Gelineau, Jean Paul Lécot, Jacques Berthier e Lucien 
Deiss (França), entre outros de renome. O repertório utilizado para a 
missa de Corpus Christi desse ano e dos dois anteriores conta com peças 
do Pe. J. P. Lecót, como o belíssimo Gloria in excelsis Deo e o Credo, 
da "Missa de Lourdes".
Também há um trabalho de 
resgate do canto gregoriano, trazendo-o de volta ao seu lugar na 
celebração eucarística, de onde nunca deveria ter saído. Dentre algumas 
peças já ensaiadas e cantadas pelo coral, destacam-se o Veni Creator (em
 missas crismais e de Pentecostes), Attende Domine (como ofertório para a
 Quaresma) e Regina Caeli (como canto final para as missas na Páscoa).
Muitas
 das peças que o coral utiliza estão incluídas nos fascículos já 
lançados do Hinário Litúrgico da Arquidiocese. Alguns liturgistas já 
consideram este trabalho como superior ao próprio Hinário Litúrgico da 
CNBB. 

Eu,
 como aluno do CEMULC e integrante do Coral da Arquidiocese, sinto-me 
honrado em acompanhar esse belíssimo trabalho em prol de uma liturgia 
verdadeiramente bela e digna. 
Alguns vídeos podem ser encontrados no meu canal pessoal: www.youtube.com/user/Zakatos. Note-se que há outros corais, também de Campinas, contribuindo para popular a lista de contribuições do canal.
Em
 breve o Coral da Arquidiocese terá o seu próprio blog, onde se 
pretenderá divulgar os locais das celebrações próximas, bem como as 
gravações dos vídeos do repertório cantado, e o download das partituras.
Creio
 que posso falar, em nome de toda a diretoria do CEMULC, que desejamos 
ardentemente que esse trabalho, ainda que em seus primeiros passos, 
possa inspirar outras pessoas a buscar um maior empenho no conhecimento,
 estudo e formação musical, para que possamos adorar a Deus em espírito e
 em verdade, contribuindo para um culto eucarístico verdadeiramente 
santo e agradável a nosso Senhor.
Quem dera tivesse um CEMULC na minha cidade, sou católica, e quero muito aprender a tocar órgão esse instrumento é lindo e concordo com tudo que foi comentado acima
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