Suspeita é que imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios tenha sido levada durante internação do frei Ronaldo
Raquel Brito
A imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios, que estava na Igreja do Santo Antônio Além do Carmo, foi furtada da basílica. A informação foi compartilhada pela Paróquia Santo Antônio Além do Carmo (Pascom), que iniciou uma campanha nas redes sociais para encontrar a obra sagrada.
Segundo Jailson Jesus dos Santos, pároco da Igreja, a imagem foi roubada em julho deste ano, entre a internação e a morte do frei Ronaldo Marques Magalhães, antigo padre do templo. “Quando eu cheguei na paróquia, uma semana depois da missa de sétimo dia do frei, fiz um levantamento dos bens e a imagem já não estava lá. Eu comecei a procurar em outros lugares, em outras igrejas, para saber se ela foi emprestada ou se foi mandada para restauração. Quando não vi resultado, fiz a denúncia”, conta.
A denúncia em questão foi feita ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que, de acordo com o padre, direcionou o caso para a Polícia Federal. Ainda não foi feito um boletim de ocorrência.
A obra costumava ficar na Sala de Santo Antônio, no primeiro andar da Igreja. A suspeita, para o padre, é que o responsável pelo roubo tinha acesso fácil ao local. “A igreja não foi arrombada, não teve porta forçada nem cadeado quebrado. Quem pegou a imagem, sabia onde estava. Tinha a chave da igreja e a chave da sala onde ela ficava”, afirma.
Entretanto, Jailson explica que a imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios já teve outro lar. “Ela é a imagem principal, a imagem do altar-mór da Igreja dos Quinze Mistérios, fundada por uma irmandade negra. Essa igreja está deteriorada, por isso a imagem foi levada para o Santo Antônio”, diz o pároco.
Para ele, a imagem não é só importante para a paróquia, mas para toda a Bahia e o Brasil, uma vez que acompanhou na Igreja dos Quinze Mistérios movimentos como a Revolta dos Malês, em 1835, na qual a irmandade mencionada por ele teve papel ativo. “É um registro de uma memória negra, de uma luta de organização e resistência negra na Bahia”, ressalta.
A santa chegou à Igreja dos Quinze Mistérios em 1811. Mas, de acordo com o Iphan, a obra tem características que remetem à arte sacra do terceiro quartel do século XVIII, apresentando elementos do barroco. Segundo o instituto, a imagem não é tombada.
A peça é composta por uma santa usando uma coroa e um vestido dourado e azul, carregando um querubim de trajes brancas e coroa dourada. Abaixo, quatro outros querubins cercam as duas figuras principais.
De acordo com o padre Jailson, no momento do roubo, um dos anjos caiu e ficou na igreja. Ele destaca esse desfalque como uma característica que possíveis compradores devem estar atentos. “A expectativa é que se alguém foi oferecido a venda desta imagem, a compra desta imagem, possa fazer a denúncia e não comprar. Se um antiquário ou um colecionador perceber que essa imagem está sendo vendida, oferecida para ser comprada, nos avise. Porque ela não pertence à igreja, pertence à história do Brasil”, apela.
O pároco ressalta que a imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Quinze Mistérios é devocional, e que este é o mês em que se realiza a festa da santa, entre os dias 27 e 29 de outubro.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela.Fonte: Correio 24 horas
Nenhum comentário:
Postar um comentário