domingo, 4 de setembro de 2016

IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO CARMO – SÃO PAULO, SP


Os carmelitas foram a quarta ordem religiosa a desembarcar no Brasil, e seus primeiros frades desembarcaram em Santos ainda nos idos de 1592. Nesse mesmo ano, surgiu neles o “pensamento de fundar um convento na povoação que começava em Cima da Serra“. O fundador de Santos, Braz Cubas, se tornou um grande amigo dos carmelitas, e doou a eles dois grandes terrenos – um no litoral, e outro nas terras de Piratininga (atual São Paulo).

O primitivo convento do Carmo surgiu então sobre um outeiro do qual dominava toda a várzea do Rio Tamanduateí, sendo que o grande terreno constituía uma verdadeira fazenda cortada pelas águas do rio. Com o avançar dos anos, houve o início das Bandeiras, e com isso o povoado começou a efervescer. Consta que, durante algum tempo, os superiores carmelitas enviavam junto com os bandeirantes alguns moços, para que ‘pudessem trazer alguma ‘gente’, pois sem ella se acabariam totalmente, não só as fazendas, como também o convento‘ – tal necessidade dizia respeito à mão de obra indígena.

Na segunda metade do século XVII, alguns leigos instituíram a Ordem Terceira do Carmo, e sua primeira capela – anexada à igreja conventual – foi edificada em 1697. Porém, a construção definitiva da igreja dos terceiros foi iniciada somente em 1747. No início do século XIX ganhou um novo frontispício, que foi realizado por Joaquim Pinto de Oliveira – o “mulato Tebas” – escravo de um requisitado mestre-de-obras chamado Bento de Oliveira Lima.


Convento do Carmo e Igreja da Ordem Terceira, em fins do século XIX

O historiador Leonardo Arroyo conta que, em 26 de julho de 1867, a igreja dos terciários carmelitas sofreu um roubo gigantesco, ocasião em que foram levadas alfaias, paramentos, cruzes, sendo que tal crime nunca foi solucionado.

No interior da igreja, os altares laterais foram ornados com imagens de Cristo em sua Paixão, como é de costume nas igrejas de terciários carmelitas. E o belo altar mor, em estilo rococó, é dedicado à Nossa Senhora do Carmo, que é ladeada por uma imagem de Santa Teresa e São João da Cruz.

O teto da igreja – tanto no forro da nave central quanto da capela-mor – foi ornado com belíssimas pinturas do célebre padre Jesuíno do Monte Carmelo, artista que também realizou obras em Santos e em Itu (por exemplo, na Matriz de Nossa Senhora da Candelária e na igreja de Nossa Senhora do Patrocínio).

Em 1906 houve nova reforma na igreja, e em 1922 novas modificações deixaram a igreja da forma em que se encontra hoje.

Em 1928 o governo do estado, já imbuído da ‘febre’ urbanística do século XX, expropriou a ordem carmelita, e o convento foi demolido, ocasião em que os frades foram transladados para o bairro da Bela Vista, onde edificaram uma nova igreja. Mas a igreja da Ordem Terceira permaneceu no local primitivo, marcando posição, na mesma esplanada onde o Carmelo deitou suas raízes no século XVI, quando São Paulo era uma pequena vila rural.


Acima, altares laterais com imagens da Paixão de Cristo, e abaixo, forro da nave principal, retratando Maria e os santos da Ordem Carmelita, de autoria do Padre Jesuíno do Monte Carmelo.
Em um corredor lateral, há diversos painéis, que formavam um teto em ‘caixotões’ na antiga igreja do Recolhimento de Santa Teresa (atualmente demolida). Essas pinturas também são de autoria do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, e retratam cenas da vida de Santa Teresa, a Grande (Teresa de Ávila).



Desponsório místico de Santa Teresa


Coroação de Santa Teresa


Visão de Santa Teresa





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REFERÊNCIAS:

– Arroyo, Leonardo. Igrejas de São Paulo. São Paulo: Livraria José Olympio Editora, 1954

– BAZIN, German, L’Arquitecture Religieuse Baroque au Brésil, Tome II, Paris: Librairie Plon, 1958

– TIRAPELI, Percival, Igrejas Paulistas – Barroco e Rococó, São Paulo: Editora UNESP, 2003

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