Jovens que se apagaram pichações na Catedral da Sé posam com cartazes |
Entre eles, há estudantes de direito, de enfermagem e de análise de sistemas.
Juliana Almeida, de 38 anos, foi uma das articuladoras da limpeza coletiva: “é preciso respeitar o posicionamento do outro. Agrediram nossa casa, mas nós somos pela paz”.
Ela acredita que, se o projeto de lei entrar em vigor, vai ajudar a combater a impunidade de quem comete violência contra a mulher. “A partir do momento em que o exame de corpo de delito passa a ser obrigatório para aborto em caso de estupro, há chances maiores de se encontrar e punir o agressor”, defende Juliana. Ela vê essas medidas como uma forma de proteção maior para as mulheres, e não o contrário.
Ainda segundo ela, “esse projeto de lei vem para regular o que acontece no SUS, porque lá o aborto é feito em qualquer caso, a mulher só precisa dizer que foi estupro. Não há comprovação. Ao defendermos o projeto, lutamos pelo que a maioria da população brasileira também quer: o aborto apenas em casos comprovados de violência sexual”.
Gabriel Arruda, de 20 anos, concorda. Ele é estudante de direito na Universidade de São Paulo e argumenta que, “hoje, só a palavra da mulher já basta para se fazer um aborto, mas isso não é suficiente. Só a palavra de alguém não valida nenhum outro tipo de crime, é preciso haver alguma forma de comprovação”.
Ele, católico praticante, defende que a religião não interfere em seu posicionamento político: “se fosse só pela fé, as pessoas que estão aqui hoje lutariam sempre pela vida, ou seja, pela proibição total do aborto, mesmo em casos de estupro. Mas nós vivemos em um Estado democrático e defendemos que o que já está na lei seja cumprido”.
Amanda Stephanie Sousa, de 20 anos, é estudante de enfermagem na Unicamp e diz que esta não é uma questão de saúde pública. “Esse projeto de lei, sendo aprovado, protegeria a mulher. Se ela já passou por uma forma de violência, a sexual, ao abortar passaria por outra”.
Gabriel Zavitoski, 24 anos, é da área de análise de sistemas. No campo religioso, é o coordenador do grupo de jovens da Paróquia São João Batista, na Vila Guarani. Para ele, “é muito triste esse ódio ao sagrado. Mais do que tudo, isso [a catedral da Sé] é um patrimônio, um monumento histórico da cidade”.
Ele é a favor da vida em qualquer caso. Mesmo se alguém de sua família sofresse violência e engravidasse, ele seria contra o aborto. “É uma criança. Se a mulher não conseguisse ficar com o bebê, poderia colocar para adoção. Mas matar, de forma nenhuma”.
Camila Oliveira, de 25 anos, concorda: “um crime não justifica o outro”.
Até o início da tarde deste domingo (1º), boa parte das pichações já havia sido removida pelo grupo. O objetivo dos jovens era apagar as palavras. Algumas manchas permanecem e devem ser retiradas por uma limpeza profissional.
Segundo a Arquidiocese de São Paulo, todas as frases surgiram após a manifestação realizada na cidade contra um projeto de lei com medidas que dificultam o aborto legal e restringem a venda de medicamentos abortivos. O protesto ocorreu na última sexta (30).
Uma das organizadoras da manifestação, a produtora cultural Jaqueline Vasconcellos, 35, afirmou que o movimento discorda da pichação à catedral por se tratar de patrimônio histórico da cidade. Segundo ela, no entanto, uma manifestação com milhares de pessoas é “incontrolável” e os dizeres da pichação refletem milênios de repressão católica contra o corpo feminino.
Jaqueline questionou a postura da Arquidiocese de São Paulo, que emitiu nota repúdio contra a ação. “Fizemos uma manifestação legitimada pela sociedade e entendemos o ato da igreja [de emitir nota] como tentativa de tirar o foco da sociedade da discussão do PL [5069/2013]”, afirma.
Ela também criticou a atitude do cardeal Dom Odilo Scherer, que posou ao lado de jovens com placas de apoio ao projeto neste domingo (1º).
As organizadoras do movimento pretendem divulgar uma carta sobre o assunto.
Fonte: Terça Livre
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