Atelier de restauração do Curso Técnico de Conservação e Restauro, da Fundação de Arte de Ouro Preto, em Minas Gerais. Foto: Luiza Magalhães/FAOP
O antigo Ginásio Mineiro, um casarão oitocentista localizado no bairro Rosário, em Ouro Preto, abriga o Curso Técnico de Conservação e Restauro, da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Cultura, e oferece ao público conhecimentos sobre restauração e conservação no seio de Minas Gerais, estado considerado pelo Ministério da Cultura (MinC) como o berço das obras sacras do país. O curso da Faop tem abrangência nacional e garantiu, ao longo de quatro décadas, o reconhecimento de ser um dos mais renomados do Brasil.
O legado religioso dos séculos XVIII e XIX do estado, a riqueza e a singularidade das obras que compõem a identidade cultural e o patrimônio imaterial – práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios, celebrações, expressões cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas e lugares como mercados, feiras e santuários – de Minas Gerais exaltam a importância do curso fundado pelo restaurador e artista plástico Jair Afonso Inácio na década de 1970, tendo sido a primeira experiência de formação regular de profissionais no Brasil.
De lá para cá, o curso da FAOP tem representado um importante papel na preservação dos acervos comunitários, capacitando profissionais para analisar e intervir adequadamente em obras artísticas em três eixos de especialidades: Papel; Escultura Policromada; e Pintura de Cavalete.
No primeiro semestre de 2015, das 17 peças restauradas pela Fundação, sete foram esculturas policromadas, três pinturas de cavalete e mais sete acervos em papel. Esta ação beneficiou três municípios, envolvendo cinco comunidades ou instituições de cinco locais de origem, entre eles: Congonhas, Ouro Preto, São Bartolomeu, Senador Firmino e Turmalina.
A cidade de Turmalina, na região do Alto Jequitinhonha, recebeu cinco obras sacras no último dia 13 de novembro. As esculturas religiosas pertencem à Paróquia Nossa Senhora da Piedade e foram restauradas pelo Curso Técnico em Conservação e Restauro da FAOP.
O trabalho realizado por professores e alunos teve duração de um ano e meio, proporcionando aos futuros profissionais uma formação consistente e segura.
“O maior destaque está na relação da comunidade com este acervo de Minas Gerais, pois representa a memória histórica e cultural do Estado e canaliza a força da fé do povo mineiro, um dos mais ricos do país em obras sacras, com singularidade única e, por isso, o mercado precisa destes profissionais especialistas na área”, pontua diretora da Fundação de Arte de Ouro Preto, Gabriela Lopes.
Das 1.557 peças restauradas pela Faop entre 2005 e 2015, 197 foram da área de escultura policromada, 104 pinturas de cavalete e 1.256 acervos em papel. Esta ação beneficiou 22 municípios, envolvendo 49 comunidades ou instituições com 58 locais de origem, como Barbacena, Carandaí, Congonhas, Itabirito e Mariana.
O curso reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC), em 2002, forma técnicos na área de restauração que atuam em todo Brasil e também no exterior, o que torna o curso uma referência nacional e internacional.
Estudante em atividade no atelier da Faop
“Contamos com profissionais que se formaram na Faop atuando no Instituto Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais (Iepha), no Cecor – Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais, órgão complementar da Escola de Belas Artes da UFMG, na Pinacoteca de São Paulo, um dos museus de arte mais importantes do Brasil, na Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro, no curso de Paleontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Instituto Brasileiro de Museus de Brasília, com profissionais que montaram suas próprias empresas e estão atuando no mercado nacional e outros que estão dando aulas, com o papel de multiplicadores deste conhecimento da restauração e, ainda, desenvolvendo trabalhos em museus, fundações, órgãos de preservação, bibliotecas, arquivos, ateliês, obras de restauração, entre outros.”, exemplifica Gabriela.
A Fundação de Arte de Ouro Preto também promove ações educativas anuais junto às comunidades atendidas, visando orientação para a conservação de bens patrimoniais.
Parcerias em restauração
Segundo a arquiteta e urbanista e restauradora e conservadora de bens culturais do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, Daniela Cristina Ayala, somente este ano o Iepha já analisou e orientou a restauração de 20 peças sacras tombadas, isto é, registradas pelo Estado pela sua importância cultural.
“As últimas obras analisadas foram recolhidas nos municípios pelo Iepha para que o patrimônio seja restaurado da maneira mais adequada possível, preservando as técnicas que possibilitem a integridade da restauração”, explica Daniela.
As peças normalmente são recolhidas nas comunidades do estado pelo Iepha para análise e orientação quanto à melhora forma de manuseio e conservação e entregues aos parceiros do Iepha para a restauração, como a UFMG, a própria Faop e outras empresas terceirizadas para conclusão do trabalho.
Formação profissional
O Curso Técnico em Conservação e Restauro da Faop é destinado àqueles que já concluíram ou estão cursando o ensino médio a partir do 2º ano, e o ingresso é feito através de processo seletivo.
A formação regular tem duração de dois anos, divididos em quatro módulos semestrais. A carga horária total entre aulas teóricas e práticas somam 1.552 horas. Clique
aqui e veja a grade curricular completa e detalhes do processo seletivo.
Como parte do currículo, o ateliê de restauração da Faop tem peças (bens móveis) de valor imaterial, histórico e cultural recebidas pelos municípios e instituições parceiras, trabalhadas pelos alunos como material didático e devolvidas a baixos custos para as comunidades guardiãs.
Para maiores informações sobre o processo seletivo do Curso Técnico em Conservação e Restauro acesse o site
http://www.faop.mg.gov.br/.
História
A partir de 1981, com o falecimento do mestre Jair Afonso Inácio, o curso começou a ser reestruturado, sendo dividido em disciplinas, com ênfase na conservação e restauração de escultura policromada, pintura de cavalete e papel. A reestruturação valorizou o ensino das técnicas, dos conceitos da restauração e a formação cultural do profissional.
Na década de 1990, iniciou-se o processo de reconhecimento do Curso Técnico em Conservação e Restauração de Bens Culturais, importante avanço para a valorização e o reconhecimento da profissão de conservador-restaurador. O processo ensino-aprendizagem é conduzido de modo a aliar a fundamentação conceitual à vivência prática.
Nos dois primeiros módulos, a carga horária teórica é intensa, com a formação conceitual. O aluno tem sempre diante de si situações, inicialmente simuladas e, posteriormente, com acervos reais comunitários. Todo o processo é orientado pelos professores de ateliê que contam com a parceria de toda a equipe técnica e pedagógica do Núcleo.
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