quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Arte sacra ganha espaço em Minas

Destaque do circuito de vilas históricas do estado, Tiradentes, cidade conhecia pelo preservado casario colonial, abrigará dois novos museus dedicados ao patrimônio religioso

por Graziella Beting / História Viva

 
Instituto Cultural Flávio Gutierrez/Divulgação
Imagens de Sant’Ana que vão integrar o acervo do museu dedicado à “mãe  da mãe de Deus”. Esculpidas em madeira e policromadas, as duas obras são do século XVIII
Até o ano passado, Tiradentes, um dos pontos mais visitados no circuito de cidades históricas de Minas Gerais, só contava com um museu, a Casa de Padre Toledo. Este ano ganhou mais um e está prestes a receber um terceiro. Além disso, há outros projetos, em andamento, de restauro de seu patrimônio arquitetônico, na maior parte do século XVIII.

Primeiro do tipo na América Latina, o Museu da Liturgia abriu suas portas em meados de abril. Dedicado aos instrumentos e ritos relativos à devoção religiosa, forte na região, o novo museu tem um acervo de 429 peças de arte sacra. Datadas do século XVII ao XX, foram integralmente restauradas.

Organizado em quatro eixos temáticos – Rito, Sacramentos e Sacramentais, Ano Litúrgico e Devoção Popular –, fica em um casarão do século XVIII que, desde 1894, servia de presbitério para a Paróquia de Santo Antônio. Os elementos originais da antiga casa paroquial foram restaurados durante a reforma feita para abrigar a instituição.

O museu, criado por iniciativa da Paróquia de Santo Antônio de Tiradentes, foi executado pelo Santa Rosa Bureau Cultural, com apoio financeiro não reembolsável de R$ 10,6 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


Outro projeto grandioso em andamento na cidade é a criação do Museu de Sant’Ana. Será instalado no prédio da antiga cadeia da cidade, que vai ser restaurado e adaptado para receber a coleção de 260 imagens da santa católica. Datadas do século XVII ao XIX, as peças vêm do acervo pessoal da empresária Angela Gutierrez. Devota de Sant’Ana, ela pesquisa e coleciona imagens da santa desde a juventude. As peças de sua coleção vêm de vários cantos do país, além de Itália e Portugal.

“Encravada ao pé da serra de São José, numa região mágica das Minas Gerais que é o vale do rio das Mortes, Tiradentes é uma joia de valor histórico e, no meu caso, sentimental”, considera Angela Gutierrez, que tem uma casa no local. “As Sant’Anas merecem habitar esta cidade única que as acolheu tão carinhosamente, antes mesmo de o museu ser implantado.” Será o terceiro museu montado pela empresária, responsável pelo de Artes e Ofícios de Belo Horizonte e pelo Museu do Oratório, em Ouro Preto.

Na simbologia católica, Sant’Ana é esposa de São Joaquim e mãe de Nossa Senhora – por isso é popularmente chamada de “mãe da mãe de Deus”. A devoção a essa santa começou no Oriente, no século I, e seu culto foi adotado oficialmente no ocidente pelo catolicismo no século XVI.

Padroeira das donas de casa, das costureiras e dos mineradores, Sant’Ana é tida também como a santa de Minas Gerais desde a época em que escravos e trabalhadores das minas pediam sua proteção. É representada como uma mulher mais velha que cuida da Virgem Maria, muitas vezes mostrando a ela um livro.

Com projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, o museu foi orçado em R$ 2,26 milhões, e suas obras devem durar um ano e meio. Enquanto não abre, uma forma de conhecer o acervo é visitar o site com o inventário da coleção – que já participou de exposições no Brasil e no exterior –, com ficha técnica detalhada para cada escultura.

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