segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Tomografia revela Nossa Senhora missioneira em São Jerônimo



Imagem passou por tomografia no Instituto do Cérebro da PUCRSFoto: Cristiane Weber / Divulgação








A cidade é São Jerônimo, o padroeiro também, mas é Nossa Senhora da Conceição que tem intrigado dos católicos mais atuantes do município de pouco mais de 22 mil habitantes, na região carbonífera do Estado, a cerca de 70 quilômetros de Porto Alegre. A divindade precisou passar por exames, mais especificamente por uma tomografia computadorizada para atestar suas origens.
Em dezembro de 2014, o Irmão Édison Hüttner, pesquisador e coordenador do Projeto de Arte Sacra Jesuítico-Guarani da PUCRS, em um de seus garimpos históricos, encontrou na Cúria Metropolitana de Porto Alegre um documento que apontava a doação de uma imagem missioneira de Nossa Senhora da Conceição a São Jerônimo.
 O estudioso resolveu investigar, já que não tinha conhecimento de algo semelhante na região. Foi a São Jerônimo, conversou com religiosos e moradores e montou uma espécie de rede de informações para tentar comprovar se a imagem exposta na Paróquia Nossa Senhora da Conceição tratava-se de uma escultura dos tempos das Reduções Jesuíticas, nos séculos 17 e 18. Na igreja, ele observou na imagem de Nossa Senhora três anjos com características barrocas e, nas imperfeições da escultura, sinais de que, sob o gesso, havia algo condizente à madeira, material usado nas obras guaraníticas.

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Por casualidade — ou providência divina, como preferem crer os envolvidos nessa história — Claudio Rollo, 64 anos, morador de São Jerônimo dedicado a resgatar e conservar a memória da cidade, encontrou nos alfarrábios da paróquia um recibo de 1914, em que consta o pagamento pelo serviço de encarnação (técnica de dar o efeito da carne humana nas partes do corpo visíveis de uma estátua) da imagem de Nossa Senhora da Conceição.
— Parece que Nossa Senhora estava querendo se mostrar. Uma coisa foi se encaixando na outra — conta Rollo, ao lembrar da peregrinação atrás de informações sobre a origem da imagem.

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As suspeitas do Irmão Édison, o documento da Cúria e o recibo encontrado na paróquia ainda não eram suficientes para bater o martelo quanto à origem da escultura de Nossa Senhora da Conceição. Então, com a colaboração do pesquisador e dentista bucomaxilofacial do Instituto do Cérebro da PUCRS Éder Hüttner, irmão de Édison, decidiu-se por uma tomografia computadorizada da imagem. Pelo exame, constataram-se a madeira e a parte oca, uma característica marcante das obras missioneiras.
— Com o exame, ficou evidente a densidade da madeira e os três milímetros de gesso que foram aplicados na imagem. Naquela época, em plena Primeira Guerra Mundial, as paróquias não tinham recursos para trazer imagens da Europa. Usava-se o que tínhamos por aqui — diz Irmão Édison.
— Também era uma época em que não se tinha consciência do valor dessa obras guaraníticas. Então, modificaram a imagem de acordo com os padrões ocidentais — completa Éder.
Em São Jerônimo, as novidades sobre a imagem de Nossa Senhora da Conceição, que chegou ao município em 1871, serão reveladas hoje (14/11), após a missa das 19h. Banners com fotografias e dados de toda a pesquisa que garantiu revelar a face oculta da divindade serão apresentadas à comunidade. O aposentado Nelson Bolzan, 78 anos, católico atuante na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, surpreendeu-se com as descobertas.:
— Jamais desconfiei que a imagem fosse guaranítica porque conheço a arte missioneira e ela não tem nenhuma característica parecida. Para mim, foi uma grande surpresa saber que a Nossa Senhora Conceição foi feita pelos guaranis.
Depois de levar as boas-novas à comunidade, os pesquisadores e colaboradores da pesquisa pretendem garantir mais segurança à imagem e a outras que já geram desconfianças de pertencerem à mesma origem missioneira. Professor do Laboratório de Arqueologia da PUCRS, Klaus Hilbert acredita que o achado em São Jerônimo pode abrir novos caminhos ao resgate da arte jesuítica no Estado.
— Essa imagem passou por uma transformação. Isso nos indica que muitas outras imagens guaraníticas podem ter passado por este processo e estão em nossas igrejas — avalia.
Texto de Bruna Porciúncula
Fonte: Jornal Zero Hora

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