sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Pesquisa descobre relíquias das Missões na Catedral de Santa Maria

Com 300 anos, esculturas de Santo Antônio e Nosso Senhor dos Passos estavam no porão da igreja

dica do amigo: Édison Hüttner
texto de Marcos Fonseca


Duas esculturas católicas de elevado valor histórico passaram mais de dois anos guardadas no porão da Catedral Metropolitana de Santa Maria. Uma imagem de Santo Antônio e outra de Nosso Senhor dos Passos, ambas pertencentes a reduções jesuíticas, faziam parte da reserva técnica, uma pequena sala onde ficam guardados objetos que não fazem parte do acervo do Museu Sacro da igreja.

Depois de quatro meses de pesquisas, um professor e doutor em Teologia comprovou a autenticidade das obras de mais de três séculos, que estão entre as mais importantes descobertas da época das Missões no Rio Grande do Sul.

Imagem de mais de três séculos de Santo Antônio missioneiro é uma das mais importantes já encontradas no EstadoFoto: Lucas Amorelli / New Co DSM

A escultura de Santo Antônio é que mais surpreendeu o professor Édison Hüttner, coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarani da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Com um 1m14cm de altura e 34 quilos, a imagem foi esculpida em resistente madeira de cedro pelo italiano José Brasanelli, um dos artistas mais renomadas dos séculos 17 e 18.

A data de criação da escultura se situa entre 1696 e 1706, ou seja, no período do Brasil Colonial e cerca de três décadas antes da formação oficial do Rio Grande do Sul, em 1737. Possivelmente, teve origem em uma oficina de arte sacra missioneira na região onde hoje fica o município de São Borja, na fronteira da Argentina.

Rosto de Santo Antônio com traços infantis intriga. Detalhe pode ser característica da tradição europeia do século 17Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

Pela importância do entalhe, o trabalho de Brasanelli, de origem jesuítica, representa para o Estado peso semelhante ao de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, para a história de Minas Gerais durante o Império.

– O Santo Antônio é uma das grandes artes missioneiras do Estado – afirma Hüttner, que em maio confirmou que o museu de Santa Maria conserva, também, o sino missioneiro mais antigo do Estado, com 333 anos.

Apesar da idade, o santo está muito bem conservado. As cores, contudo, sofreram alguma repintura ao longo dos anos, especialmente o rosto, em formato quase infantil. Esse detalhe da face da escultura ainda é desconhecida, e talvez tenha seguido uma tendência da arte europeia daquele período.

IMAGEM FOI ENCONTRADA NA ESTRADA DO PERAU

Já a imagem de Nosso Senhor dos Passos tem 80 cm de altura e pesa quase 10 quilos. A obra, de artista desconhecido, foi esculpida em cedro no século 18. Muito provavelmente, tenha sido trabalho de algum artesão amador. Segundo Hüttner, pode ter sido feita até mesmo um índio guarani.

Foto: Lucas Amorelli / New Co DSM

A imagem que resistiu aos anos mostra Cristo curvado. Nas costas, ele carregava a cruz de madeira, que não existe mais. A pequena escultura está bem desgastada, com braços presos ao corpo por cravos (espécie de prego de ferro).

A escultura chegou às mãos da direção do Museu Sacro há cerca de quatro anos. A responsável técnica do museu, Neila da Silva Guterres, conta que a obra foi achada abandonada às margens da Estrada do Perau, sob sol e chuva – o que acelerou o processo de deterioração da madeira. Teria sido usada em algum ritual religioso.

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