sexta-feira, 20 de maio de 2016

As obras, os mecenas e os restauradores que as mimam

Texto de Lina Santos


Foram 16 as esculturas que foram restauradas com o apoio de mecenas

| GERARDO SANTOS/ GLOBAL IMAGENS


No Dia Internacional dos Museus (18/05), uma viagem às catacumbas do Museu de Arte Antiga (de Portugal), onde o restauro funciona graças a voluntários e ao mecenato de antiquários.

"Sou uma passagem, mas as peças são uma permanência. Preservamo-las para que no futuro existam. Esse peso é o que faz que fiquemos arrepiados. É mais do que um trabalho", afirma, convicta, Conceição Ribeiro, conservadora restauradora, fazendo uma pausa na limpeza de esculturas portuguesas que têm de estar prontas para a inauguração do terceiro piso do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em julho.

São, como a tratam nos corredores do MNAA, tem 47 anos, é bolseira e uma das pessoas cujo trabalho no MNAA continua graças ao orçamento extraordinário gerado pelo programa Uma Obra, Um Mecenas, lançado pelo diretor da casa, António Filipe Pimentel, para colmatar o facto de ter apenas uma conservadora-restauradora nos quadros da instituição, entre 64 funcionários, 80 salas abertas ao público e 16 esculturas a precisar de tratamento.


O diretor do Museu Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel

| GERARDO SANTOS/ GLOBAL IMAGENS


"O museu não vive só de guardas, precisa de técnicos conservadores, bibliotecários, etc.", diz António Filipe Pimentel ao DN, não hesitando em classificar a situação de "miserável".

Entre materiais e a contratação de mais duas pessoas, reuniram cerca de oito mil euros. "O restauro de cada peça custou 500 euros em média. A mais cara, 1800 euros", diz o diretor, referindo-se à estátua de D. João Príncipe Regente, de João José de Aguiar, do século XIX, que já pode ser apreciada na exposição permanente.


Inês Marques aplica white spirite, uma espécie de aguarrás numa escultura de madeira

| GERARDO SANTOS/ GLOBAL IMAGENS


Estava no hospital da Marinha e foi depositada pelo Museu da Marinha, dotando o MNAA de uma obra de um artista que, segundo Pimentel, está para a escultura desta época como Domingos Sequeira para a pintura.

O restauro da peça teve o apoio de AR-PAB Antiguidades/Álvaro Roquette e Pedro Aguiar-Branco, um dos 13 mecenas que se envolveram neste projeto, quase todos antiquários, incluindo dois franceses e a Galerie Mendes, do lusodescendente Philippe Mendes, que mobilizou recursos financeiros para a aquisição em leilão de uma peça de Josefa de Óbidos para o Museu do Louvre, em Paris. "Antiquários nossos amigos foram angariando outros mecenas", diz Pimentel, acrescentando: "Ganham visibilidade associando-se à obra."

O diretor do MNAA tem vindo a reclamar um estatuto de autonomia para a gestão do museu. Um plano que está em debate. "Está tudo em discussão, não há conclusões. As observações de António Filipe Pimentel são inteligentíssimas, de uma pessoa que tem feito um belíssimo trabalho", declarou a diretora-geral do Património Cultural, Paula Silva, na segunda-feira, à margem da apresentação dos resultados do "Estudo de Públicos dos Museus Nacionais".

O museu exibe no sábado a tela de Domingos Sequeira A Adoração dos Magos, recém-adquirida por 600 mil euros numa campanha de crowdfunding. Na Noite dos Museus, o jardim enche-se de música entre as 18.00 e as 00.00, com paragem às 19.00 para a fotografia coletiva de todos os que ajudaram a pôr o quadro no lugar certo.

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